"Sôdade" de David Chow

Cesária Évora canta, com aquele sentimento inimitável, a saudade como ela corre nas veias dos cabo-verdianos.
Não é a nossa saudade, é a sôdade, algo que lhe fica muito próximo, mas que tem cheiro a África e travo a canela.
Vem este intróito a propósito da lamentável sessão da Assembleia Legislativa que teve lugar no dia de ontem.
No meio de um espectáculo deplorável, a nota de humor e de irreverência de David Chow, levam-me a manifestar publicamente o meu sentimento de saudade pelo facto de o deputado abandonar a Assembleia Legislativa no final desta sessão legislativa.
O deputado, que é também Cônsul-honorário de Cabo-Verde, assume muitas posições com as quais estou em absoluto desacordo.
Mas o enfant térrible da política de Macau vai deixar um vazio, que não vejo que ninguém vá preencher, numa Assembleia Legislativa demasiado cinzentona e amorfa.
Com aquele seu jeito rebelde, o coração ao pé da boca, que tantas vezes o leva a tomar atitudes de que depois se arrepende, David Chow é uma voz incómoda numa orquestra demasiado monótona e a tocar frequentemente a um só tom.
Foi o que aconteceu ontem.
Porque diz o que lhe vai na alma, às vezes com um jeito quase infantil, David Chow faz falta à Assembleia Legislativa.
Fica a sôdade de nhôs amígu que a Assembleia sâ tâ pricisába encontrá úqui fála cômu curaçãu.
Sem David Chow aquela Assembleia num tem Kizomba, num tem Funana.
Só uma interminável marcha lenta, tocada por uma orquestra frequentemente desafinada, e com muito poucos executantes com algum talento musical.
David Chow sai e leva consigo a vertente pitoresca da Assembleia.
A vertente enfadonha e delirante permanece teimosamente inalterada.

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