Ganhar, perder e a garrafa de Chivas Regal


Declaração prévia - as eleições autárquicas são as que mais me agradam.

Gosto destas porque invariavelmente transportam para a arena política a metáfora do copo meio vazio e do copo meio cheio.

Nas eleições autárquicas é sempre assim - não sendo uma garrafa de Chivas Regal, também tudo depende do ponto de vista do observador.

Nas eleições legislativas, presidenciais, europeias, é tudo demasiado claro porque há sempre vencedores e vencidos.

Talvez com a excepção do PCP que, se a memória não me falha, nunca perdeu, mesmo quando deixou fugir um carradão de votos para o PSD de Cavaco Silva....

Nas autárquicas não é nada assim.

Nas eleições que ontem decorreram, o PS ganhou porque teve maior percentagem de votos.

Mas perdeu porque não teve maior número de câmaras e frequesias.

E o PSD ganhou porque teve maior número de câmaras e frequesias, mas perdeu porque teve menor percentagem de votos.

O CDS, a CDU e o Bloco também ganharam e também perderam, consoante as coligações em que estavam metidos fizeram um brilharete (Porto) ou deram um grande barrete (Lisboa).

Compreende-se assim perfeitamente a notícia do Público (http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1404716&idCanal=12) bem como as reacções dos principais líderes partidários - PS aqui (Porto, Coimbra, Faro....a coisa não correu lá muito bem) http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1404712; PSD aqui http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1404712 com Manuela Ferreira Leite a dizer que ganhou mas o partido a continuar, agora ainda mais em força, a contagem de espingardas para a batalha da sucessão ; PCP aqui (perdeu Beja, que já detinha há 33 anos, mas, mais uma vez, não foi uma derrota; foi antes o resultado de uma cabala) http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1404690; CDS aqui (ainda tem a Câmara de Ponte Lima) http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1404711; e Bloco aqui (também mantém a Câmara de Salvaterra de Magos mas parece que foi o único a perder, pelo menos nas palavras de Francisco Louçã) http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1404705.

São realmente umas eleições divertidas porque ainda conseguem mostrar com demasiada nitidez o que há de pior no povo português (eleger Isaltino em Oeiras e Valentim em Gondomar), mas também uma muito promissora evolução (derrotar Fátima Felgueiras e Avelino Ferreira Torres).

Estes contrastes todos dão um colorido, uma animação única, às eleições autárquicas.

Infelizmente, nestas eleições, o acto tresloucado em Ermelo, Mondim de Basto, deixou uma marca de tragédia que não se consegue compreender, muito menos apagar (aqui http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=09F03FD7-FAED-4D10-BE04-52398DD73332&channelid=00000010-0000-0000-0000-000000000010).

Quando ainda há pessoas que são capazes de assassinar outrem na disputa por algo de tão transcendente como a presidência de uma Junta de Freguesia, temos de ficar muito preocupados com as tensões que se geram à volta do caciquismo que campeia nas autarquias.

E esse lado demasiado negro do panorama autárquico português rouba o tom de festividade popular e a parte pitoresca às eleições autárquicas.


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