Quo Vadis Cavaco?

Editorial do Expresso sob o título "Um país de doidos":
O país precisa de líderes que ponham água na fervura; não dos que põem gasolina na fogueira. É importante que o Presidente da República interiorize esta ideia.
A prova mais cabal do ponto onde chegámos está no facto de um comentário de Alberto João Jardim, a propósito do conflito entre o Presidente e o Governo, ter sido consensual. Disse o líder madeirense que o que se passa em Portugal "é de malucos à solta".
Os episódios sobre vigilância e escutas não podem ser mais confusos e canhestros. Belém não tem provas, nem sequer parece ter a mínima razão para qualquer desconfiança. E, no entanto, o Presidente quer que os cidadãos - a maioria dos quais lhe deu a confiança que o tornou chefe de Estado - acreditem que ele esteve calado todo este tempo porque achava, primeiro, que o queriam empurrar para os braços do PSD; e, depois, porque havia campanha. Curiosamente, não se lembrou que havia campanha quando, com o seu silêncio, permitiu que acreditássemos que poderia haver qualquer verdade no episódio das escutas, nem quando, mais tarde, ao demitir o seu assessor, destruiu e desmoralizou a campanha do maior partido da oposição, que provavelmente contava com mais verdade da parte de Belém.
Enfim, o Presidente esteve ainda pior quando se tentou justificar e acusou membros de um partido que vai ser Governo de terem ultrapassado a decência e de mentirem.
Do lado do PS, que poderia ter respondido através de um porta-voz partidário, optou-se por dar a palavra a um ministro, que vai ser ministro outra vez e que falou, também, na qualidade de ministro.
Um desvario!
O país precisa de mais seriedade, de mais empenho e de mais sentido de Estado, se quer ultrapassar as graves dificuldades que enfrenta (ver comentário de Nicolau Santos abaixo, em texto relacionado). Não precisa de quem ponha gasolina na fogueira, mas de quem deite água na fervura. Por mais que se odeiem, Sócrates e Cavaco têm de trabalhar juntos.
Foi isto que o eleitorado decidiu. Respeitem-no!
Detesto concordar com Alberto João Jardim.
Neste "caso"(?) é impossível não lhe dar inteira razão.
Hoje, 5 de Outubro, 99 anos após a implantação da República (por favor não repitam a cena ridícula de desatarem aos berros "Viva a República", está bem?), o regime está muito doente.
Ouvindo Cavaco, figura que tinha por pessoa sensata e equilibrada, falar imenso e não dizer nada, fico com a ideia que batemos no fundo.
Cavaco, com aquele discurso, parece estar a deixar a mensagem subliminar que não está muito interessado num segundo mandato e que, no que resta do mandato que lhe falta cumprir, se vai sobretudo preocupar em infernizar a vida a Sócrates, utilizando o Engenheiro como instrumento de vingança para o que Soares lhe fez (as célebres forças de bloqueio) quando era chefe do Governo e Soares Presidente.
O tão propalado "sentido de Estado" aí está em todo o seu esplendor!
Sócrates continua com o seu ar profundamente arrogante e irritante, trocista, que leva a crer que é bem capaz de ter andado a escutar o Presidente e as figurinhas que o acompanham.
Ou que, pelo menos, quer que o Presidente pense que sim para ficar furioso.
Isto tudo quando se sentem os efeitos de uma crise brutal, no País e no Mundo.
Acho que todos percebemos que a convivência pacífica, o regular funcionamento das instituições democráticas,... essas tretas, nunca passaram de uma enorme hipocrisia de duas figuras que se odeiam profundamente.
Não haveria problema nenhum nisso, não fosse o pequeno pormenor de um ser Presidente da República e o outro Primeiro - Ministro.
Que o último era um politiqueiro, na pior conotação da palavra, já todos o sabíamos.
O outro é que foi enganando a malta com aquele ar austero.
Se não têm o mínimo respeito por quem os elegeu, pelo menos lembrem-se da figura triste que estão a fazer perante o Mundo.
E tenham vergonha, pelo menos vergonha, porque decência já não acredito que alguma vez venham a ter.
A mim já me envergonharam o quanto baste.
Sim, que desiludir-me já não conseguem porque me mataram as ilusões há já muito tempo.
Deixaram-me a vergonha e a tristeza.
E não os consigo perdoar por isso.

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