Cimeira da ASEAN
Terminou em Hua Hin a 15ª cimeira da ASEAN (Asean Summit).
Este encontro reúne os Chefes de Estado dos 10 membros, juntamente com as nações que possuem o estatuto de observadores,e com as quais se vêm estabelecendo relações de proximidade mais intensas.
Aos 10 estados membros (Brunei, Myanmar, Indonésia, Filipinas, Tailândia, Singapura, Malásia, Vietname, Laos e Cambodja), juntam-se a China, o Japão e a Coreia do Sul (ASEAN+3), e ainda a Austrália, a Índia e a Nova Zelândia (que, com os estados-membros da ASEAN, a Coreia do Sul, o Japão e a China constituem o ASEAN Economic Forum).
É a resposta do bloco Ásia e Australásia, aos blocos formados pela União Europeia e os Estados Unidos.
E é nestes três blocos que se jogam as grandes traves mestras da política mundial nos dias de que correm.
Não, eu não me estou a esquecer do Mercosul, mas a grande concentração de poder (económico, político, militar) encontra-se nestes três blocos.
A cimeira que agora findou foi um mero seguimento das anteriores.
A Asean Summit é, acima de tudo, um espectáculo mediático destinado a anunciar formalmente, e com a presença das mais altas figuras políticas dos estados membros, as decisões que se tinham conseguido atingir em intensas negociações de bastidores e com base no princípio fundamental de cooperação existente no organismo - o consenso.
E esse anúncio formal centrou-se em três vertentes fundamentais (que não são propriamente notícias bombásticas, antes a confirmação do que tem sido a evolução da instituição nos anos mais recentes):
A adopção formal de uma Carta de Direitos Humanos;
O compromisso de constituir uma comunidade económica até 2020;
Um intensificar dos laços económicos com a China.
O primeiro anúncio é o que mais surpreende, especialmente quem não conhecer a realidade da instituição.
A adopção da Carta de Direitos Humanos, já há muito que vinha sendo anunciada e é, acima de tudo, uma maneira de colocar pressão no governo de Myanmar e de, ao mesmo tempo, apaziguar os ânimos no plano externo à instituição.
Para a sua adopção formal, para além da vontade dos estados-membros, dois pontos foram essenciais - a nova política americana de diálogo com a junta militar, e não só as sanções puras e duras; a intervenção da China como mediador.
Mas qual é o efeito prático da adopção da Human Rights Charter?
Zero!!
A ASEAN continua a não ter um mecanismo que lhe permita punir violações dos estados-membros aos tratados fundamentais, o que faz com que estes sejam meras formalidades.
Soft power em todo o seu esplendor!
A constituição de uma comunidade económica em 2020 vem sendo afirmada desde a cimeira de Bali nos anos 80 do século XX.
E vai continuar a ser uma bandeira a agitar até à sua concretização.
Novidade maior será o intensificar dos laços políticos e económicos com a China.
Era uma tendência que também já se detectava, que é assumida formalmente, e que se traduz em "win-win situation".
A China alarga a sua influência, política e económica, à zona do sudoeste asiático e também, indirectamente, à Austrália e Nova Zelândia.
A ASEAN consegue o apoio formal da grande potência emergente e o acesso priveligiado a um mercado imenso ao qual até a prendem certas afinidades políticas e sociológicas (o consenso, a harmonia, o conceito de "face", o pensamento confuciano).
Ainda assim, o primeiro-ministro tailandês Abhisit Vejjajiva terá resumido de forma muito feliz os resultados alcançados ao falar em evolução tranquila (aqui através da Voice of America http://www.voanews.com/english/2009-10-26-voa4.cfm).
E esse tem sido o paradigma institucional da ASEAN desde a sua criação.
E não é um quadro que os estados - membros queiram alterar porque é só com este que se sentem confortáveis.
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