Quem tramou Ricardo Quaresma?
Quando se analisa o trajecto de Ricardo Quaresma, pós-FCPorto, é inevitável não o associar ao eclipse total a que assistimos recentemente em Macau.
O fenómeno astrológico que tivemos a oportunidade de testemunhar, e que não se vai repetir nas próximas décadas, constitui um paralelo perfeito para analisar a carreira de Ricardo Quaresma, o tal que já tinha mostrado tudo em Portugal.
Quaresma foi formado nas escolas do Sporting, onde foi descoberto por Lazlo Boloni, que o lançou em simultâneo com um franzino Cristiano Ronaldo.
Dotados de uma técnica prodigiosa, rapidamente se fizeram notados a aguçaram o apetite dos grandes clubes europeus.
Em termos de técnica individual,"o cigano" era o que mais impressionava.
Mas começaram logo a ser visíveis os tiques de vedeta que poderiam condicionar a sua carreira.
O "Mustang" tinha todas as condições, em termos de técnica individual pura, para ser um fenómeno.
Faltava saber se tinha também o substracto psicológico que todas as grandes individualidades precisam de ter.
E a primeira pessoa a chamar a atenção para esse pormenor foi um seu familiar, o seu tio, antiga glória do Belenenses, quando, de modo algo enigmático, afirmou que o Quaresma seria, no futuro, o que quisesse ser.
Sai do Sporting em 2002, numa transferência milionária para o Barcelona, clube onde nunca se consegue afirmar, acabando a sua relação com o treinador Franck Rijkaard por se deteriorar até ao ponto do intolerável.
Depois de Barcelona, o Porto onde surge envolvido no pacote da transferência de Deco para o clube espanhol.
No Porto conhece os seus dias de maior glória, tornando-se na figura principal da equipa, mas continuando a exibir aqueles tiques de vedeta que lhe valeram uma relação algo conflituosa com os adeptos portistas, e, antes disso, com Co Adriaanse.
Achando que já tinha mostrado tudo o que tinha que mostrar em Portugal, foi ele que assim se expressou, sai para o Inter de Milão em Setembro de 2008, seguindo o desejo de José Mourinho, que se comprometeu pessoalmente na sua aquisição.
No Inter só conseguiu um feito notável - obrigar Mourinho a admitir publicamente que se tinha enganado.
Se não me falha a memória, foi a única ocasião em que isso aconteceu.
A meio da época acaba por ser emprestado ao Chelsea, onde também não se consegue afirmar.
O clube inglês não exerce a opção de compra do seu passe e Quaresma regressa a Milão no início desta época.
Foi visível que esse regresso se deveu à sua intransigência, ao seu alto salário, às suas manias.
Mourinho teria ficado muito contente se Quaresma tivesse seguido outro trajecto, e bem que o tentou encaminhar para Génova....
"O cigano" teimou, fez finca - pé, e tem passado o tempo entre a bancada e a televisão em casa.
Às vezes ainda se senta no banco.
Depois do eclipse solar, voltámos a ver o Sol em todo o seu esplendor em poucos minutos.
Tenho sérias dúvidas se algo de semelhante vai acontecer com Quaresma.
E é uma pena, porque seria mais um elemento de desiquilíbrio na selecção nacional.
Se quer relançar a sua carreira, Quaresma tem de sair do Inter, aprender a ser humilde, perceber que as suas possibilidades de ser um fora-de-série se esgotaram, e concentrar-se em tentar ser um excelente jogador.
Basta-lhe perceber o que fez o seu amigo Cristiano Ronaldo, o tal que Carlos Queiroz diz ser o jogador com a melhor atitude profissional que já conheceu.
Mas Quaresma não gosta de se esforçar.
Gosta da fama fácil e imediata, algo de muito efémero nos dias de hoje.
Quem tramou Ricardo Quaresma?
Obviamente, Ricardo Quaresma ele próprio.
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