O fim do mito do "workhaolic"?




O diário de Hong Kong South China Morning Post publica um artigo que se reporta a um estudo levado a cabo pela Community Business, uma organização não-governamental que conta com a colaboração da Universidade de Hong Kong.


As conclusões do estudo são sociologicamente muito interessantes porque parecem prenunciar um fim do mito e do endeusamento do "workhaolic".


Efectivamente, ao contrário do que acontecia ainda na última década do século XX, uma grande fatia dos jovens auscultados parecem querer agora buscar um novo equilíbrio entre a profissão e a sua vida privada.


Chega-se a quantificar a relação com a fórmula 62/38, bem longe dos números que se dizem ser os actuais (83/17).


O "workhaolic", termo com uma conotação claramente depreciativa, ligada ao domínio das patologias do sistema nervoso, é tido como sendo uma criação do psicólogo americano Richard I. Evans, que o terá utilizado pela primeira vez numa entrevista nos anos 60 do século passado.


Com este termo, pretendia-se identificar os indivíduos que se sentiam compelidos a colocar o seu trabalho e a sua carreira profissional como primeira prioridade das suas vidas.


O apogeu do mito terá ocorrido na última década do século XX, quando ao termo são associadas patologias do foro cardíaco, psiquiátrico, e o consumo de drogas.


Tudo em nome de uma carreira de sucesso, de maior produtividade, de maiores proventos, da riqueza material desmedida e rápida.


Mesmo que, tantas vezes, associada a práticas de duvidosa licitude.



Quem não se lembra do fabuloso Gordon Gekko, personagem do filme Wall Street, criação conjunta de Oliver Stone (autor e realizador) e de Michael Douglas (actor, que, com o seu desempenho, ganhou o Óscar para melhor actor nesse ano)?


Ao ler as conclusões deste estudo, para mais realizado numa sociedade eminentemente materialista como é a sociedade de Hong Kong, e constatando que é entre os mais jovens, até aos 35 anos, que se detecta uma maior tendência para alteração do paradigma ainda vigente, fica a interrogação se não estamos realmente perante o fim de uma era.


E se esse fim não terá como origem o facto de estes jovens serem vítimas desse paradigma transportado já do século findo.


E vítimas num triplo sentido - familiar, com a colocação das relações familiares em segundo plano; laboral, por se verem envolvidos na engrenagem que lhes exige sucesso, e, para atingir esse sucesso, um quase abdicar da vida privada; e, finalmente, na pouca vida privada que lhes resta, onde os ditames do sucesso exigem a exibição de sinais exteriores de riqueza, os quais são, tantas vezes, atingidos a qualquer preço.


Sem dúvida, um estudo e uma reportagem muito interessantes, com conclusões que conduzem à reflexão e que merecem um acompanhamento futuro.




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