Um grande tiro no pé?
A demissão de cinco membros do Legco de Hong Kong, que obriga à realização de eleições intercalares, as quais são vistas pelos demissionários como um referendo, de facto, à implementação do sufrágio directo e universal em Hong Kong, parece-me uma jogada altamente arriscada por parte das forças pró-democracia da antiga colónia britânica.
Em primeiro lugar, ainda que o resultado lhes seja favorável, uma vez que o referendo não está consagrado na Lei Básica, Pequim nunca retirará de tais resultados as consequências que as forças pró-democracia pretendem.
A agenda do Governo Central é que é realmente importante, e esse é um facto que já todos percebemos.
Ainda assim, o Poder em Pequim, e em Hong Kong também, não se cansa de repeti-lo.
O sufrágio directo e universal acontecerá quando Pequim decidir que deve acontecer.
Esta teimosia das forças pró-democracia irrita o Governo Central e, pelo que é dado perceber pelas sondagens, começa a cansar a própria população de Hong Kong.
E aqui reside o segundo erro que os pró-democratas terão cometido neste processo.
A acreditar na imprensa, um estudo da Universidade de Hong Kong, realizado entre 11 e 13 de Janeiro, concluiu que apenas 24% dos 1008 inquiridos apoiava o plano de referendo, com 50% a revelar-se contra.
Mais, um outro estudo, levado a cabo este fim-de-semana, concluiu que 72% das 327 pessoas entrevistadas considerava a realização de eleições intercalares um desperdício de dinheiro público, ao passo que 69% defendia que o referendo afectaria as relações entre Hong Kong e Pequim.
E chegamos ao terceiro erro que os pró-democratas cometeram - o timing para levar a cabo esta iniciativa dificilmente poderia ser pior escolhido.
Com a economia de Hong Kong a navegar em águas agitadas, mas, ainda assim, a não adornar, a população mostra-se muito mais preocupada com o bem-estar económico do que com os sucessivos protestos dos pró-democratas.
O Governo de Hong Kong percebeu esse facto, aproveitou o anúncio recente que coloca Hong Kong, pelo 16º ano consecutivo!, como a economia mais livre do Mundo, e agitou imediatamente a bandeira do desperdício de dinheiros públicos, com contas feitas e tudo (ler aqui http://news.yahoo.com/s/ap/20100126/ap_on_re_as/as_hong_kong_democracy ).
Posso estar enganado, mas creio bem que os movimentos pró-democracia em Hong Kong acabam de dar um tremendo tiro no próprio pé.
Neste particular, andaram bem os "irmãos" de Macau.
Ng Kuok Cheong, entre um sorriso malandro, deixou bem claro que os "democratas" em Macau não pensam seguir esta estratégia de confrontação com Pequim "porque o Partido Comunista Chinês é muito forte e tem muito poder" (sic).
Afinal, os "democratas" de Macau ainda são capazes de dar umas lições aos seus "gurus" do outro lado do Delta do Rio das Pérolas.
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