Borrasca no relacionamento China - EUA?

No Dicionário de Língua Portuguesa, 6ª edição, Porto Editora, o termo borrasca é definido como "'pé-de-vento súbito, acompanhado de aguaceiros; tempestade marítima; furacão; (fig.) acesso de ira; contrariedade súbita; zaragata; motim; tumulto; revolta; pl. inquietações".
Temos então muita água, irritação que pode dar em chatice.
Querem melhor descrição para o actual relacionamento (tenso) entre a China e os Estados Unidos?
Tudo começou com o episódio da possível vigilância e censura a conteúdos do motor de busca Google na China e a ameaça da empresa norte-americana de se retirar do mercado chinês (o pé-de-vento súbito).
A China a desmentir categoricamente aquilo que todos sabemos ser uma realidade, a ameaçar com retaliações comerciais, a deixar claro que não admite interferências em questões internas, e os americanos a dizerem que não admitem qualquer tipo de censura, mas que se trata de um problema que terá de ser resolvido pela própria empresa.
Seguiu-se a venda de armas a Taiwan.
A China volta a falar em interferência inadmissível em questões de política interna, porque Taiwan é parte integrante da China, voltou a ameaçar com retaliações comerciais, e os americanos deixaram claro que consideram que Taiwan precisa de repor os equilíbrios bélicos com o poder na China (os americanos precisavam daquela venda também, mas isso não se diz na diplomacia internacional, não é?).
Aqui já havia aguaceiros.
Agora o encontro do Dalai Lama com Obama.
A China fala em interferência intolerável em questões de política interna (onde é que a gente já tinha ouvido isto?), porque o Dalai Lama é uma figura política e não religiosa, e ameaça com retaliações comerciais (também parece que já tínhamos ouvido esta....).
Os americanos (Obama) expressam o seu profundo respeito pela figura religiosa e o símbolo de paz que o Dalai Lama representa, e afirmam abertamente que vão receber o líder espiritual tibetano com toda a honra.
Já estamos na fase da tempestade marítima.
Será que vai haver um acesso de ira, que conduza a revolta, que termine em zaragata, seguida de furacão?
Creio bem que não.
Obama está claramente a definir a sua fronteira perante o Poder chinês.
Nem está a testar Pequim, está a deixar claro ao que vem.
E está a fazê-lo quando passa o primeiro aniversário da sua presidência com a certeza de que nada de extraordinário resultará destes incidentes.
A China e os Estados Unidos dependem demasiadamente um do outro, economicamente, para deixarem que essas relações comerciais sejam afectadas por questões políticas.
Mais a mais, na ressaca de uma crise financeira que ainda está longe de estar ultrapassada.
Há borrasca, é inegável, mas são apenas algumas inquietações.
Nada mais do que isso.


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