Grandes portugueses (vivos)
Hoje, em foco, um português que se afirmou no universo da relojoaria.
Nascido em 1956 em Águeda, Carlos Dias teve uma vida agitada.
O seu pai era dono de uma fábrica de motos e bicicletas e gostava de levar o filho a tiracolo, mostrando-lhe o dia-a-dia das oficinas e dos fornecedores.
A paixão pela mecânica era tanta, que os dois chegaram a fazer um curso de engenharia por correspondência, concluindo com exame e certificado.
Aos 18 anos, Carlos Dias pretendia estudar ciências económicas, mas preferiu abandonar Portugal.
A ditadura de Salazar não oferecia o melhor dos ambientes para um jovem que era membro da associação de estudantes comunistas e editor de um jornal clandestino.
Quando estourou a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, ele estava em Paris onde estudava ciência política.
A fábrica do pai foi nacionalizada e, para agravar o cenário, Carlos Dias foi considerado "desertor" por não se ter apresentado ao serviço militar obrigatório.
Por isso, ficou dez anos sem retornar a Portugal.
Na França, Carlos Dias fez de tudo para ganhar algum dinheiro - desde limpeza em prédios comerciais até chegar à gerência de hotéis, Carlos Dias mostrou que não tinha receio de enfrentrar desafios.
No início dos anos 80, resolve dar um novo rumo à sua vida e vai estudar para Itália, Universidade de Perugia.
Nas suas horas livres, Carlos Dias dedicava-se ao desenho e à pintura, um hobby que cultivada desde os tempos de criança.
A sua vida mudou no momento em que o pai de um amigo percebeu as suas qualidades de artista.
Como dono de uma fábrica de móveis, ele contratou-o para desenhar uma nova linha de produtos, que acabaria por ser um sucesso de vendas.
Convencido do talento para a moda, Carlos Dias começou a fabricar e comercializar os seus próprios móveis.
Instala-se em Bolonha, onde mudou mais uma vez de ramo: dos móveis, ele passou a criar acessórios de prêt-à-porter como gravatas, cintos, sapatos e camisas, que eram comercializadas em lojas de luxo na Europa.
Durante um réveillon em Genebra, ele conheceu a que viria a ser sua esposa, uma portuguesa que vivia na Suíça.
Durante muitos anos o empresário português fez o trajecto entre os dois países, atravessando de carro o túnel do Mont-Blanc.
A relojoaria era uma paixão antiga que se iniciou com um fascínio pelo relógio de bolso do avô.
Conhece vários relojoeiros e vende os seus negócios na Itália para se estabelecer definitivamente na Suíça.
Como base de negócios, associou-se a um relojoeiro desconhecido, que se tornaria mais tarde dono de uma das marcas mais conhecidas mundo.
Amigo de relojoeiros famosos (Frack Muller, com o qual colaborou), Carlos Dias decide lançar a sua própria marca
Funda em 1995 a Sociedade Genebrina de Relógios (Sogem SA) com um capital inicial de 100 mil francos e um colaborador.
Funda em 1995 a Sociedade Genebrina de Relógios (Sogem SA) com um capital inicial de 100 mil francos e um colaborador.
O terceiro funcionário a ser contratado acabaria por dar um ano depois o nome definitivo da marca: Roger Dubuis, um mestre relojoeiro de Genebra, que já trabalhara para a Patek Phillipe, masa que, sobretudo, reparava relógios antigos.
A primeira série de relógios da empresa já se destacava pela extravagância, fugindo da discrição tradicional das marcas conhecidas.
Se para alguns críticos, os produtos seguem o estilo "proletário-chique", para Carlos Dias esse é o gosto da moda.
Em Abril de 2005, durante a última feira de relógios da Basileia e de Genebra, as mais importantes do sector, a imprensa especializada confirmou sua visão de relógios caros, coloridos, e de grandes dimensões.
A empresa cresceu imenso e, segundo um estudo publicado pelo banco Credit Suisse, o volume de negócios da Roger Dubuis estaria entre 150 milhões e 200 milhões de francos por ano, o que coloca a empresa a par de nomes de referência como a Vacheron Constantin e a marca hoje em destaque, a Girard Perregaux.
Ao lado da estética, a fábrica onde são produzidos os relógios Roger Dubuis é na realidade um grande parque de máquinas high-tech de última geração que produzem peças com perfeição milimétrica, mas que são depois polidas à mão e montadas nos relógios por mestres relojoeiros.
O esmero é recompensado pelo direito de decorar cada produto com o exclusivo selo de qualidade "Poinçon de Genève".
Um dos mistérios da marca é que apenas 28 exemplares são fabricados de cada modelo.
Carlos Dias contou que essa estratégia ficou a dever-se a um membro da família do Sultão do Brunei, um bom cliente e para quem o número trazia sorte (o 28 é o número de sorte na numerologia chinesa também, significando enriquecimento rápido).
Com uma fortuna calculada por alguns jornais entre 100 e 200 milhões de francos suíços, Carlos Dias já não se queria limitar à produção de relógios.
Primeiro, passou a produzir jóais e entrou para o selecto clube das 300 pessoas mais ricas da Suíça.
No ano passado vendeu a sua quota na Roger Dubuis ao grupo Richemont e adquiriu a propriedade Colinas de São Lourenço, dedicando-se actualmente à produção de vinho da Bairrada.
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