Quando se fala de consenso....


'Governo não acredita na reforma política sem haver “consenso” na sociedade.
 Não é possível mudar o sistema político sem conseguir reunir consenso sobre a matéria, diz José Chu.
O problema reside precisamente em este ser um tema controverso e de opiniões diversas.'

Cito a edição de hoje do diário Hoje Macau.
Mas a expressão é constante sempre que o tema é a reforma do sistema político vigente.
Sendo tão repetida, afinal o que é que significa em concreto?
Consenso é o acordo obtido entre duas ou mais pessoas em torno de um tema.
Mas, ao contrário do que muitas vezes se pensa, o consenso não implica a anuência, o consentimento activo de cada um dos intervenientes.
Antes uma aceitação generalizada, uma não - negação.
Assim entendida, a noção de consenso tem origem na concepção subjacente ao sistema democrático desenvolvido pela civilização grega.
Já o consenso social é entendido pelos integralistas (Émile Durkheim e Talcott Parsons) como uma tendência natural da natureza humana tendente a, em maior ou menor medida, uma igualdade do conjunto de crenças, ainda que com distintos argumentos e elementos teóricos em cada caso.
Concepção oposta à dos conflitualistas (Hobbes) que vêm no conflito de opiniões, na diversidade de posições e opções, o elemento fundamental na formação das sociedades.
Não fiquem a pensar que sou um especialista no tema.
Uma pesquisa no Google, e na Wikipedia, dá-nos estes elementos todos com grande facilidade e rapidez.
Muito menos pensem que pretendo dar aqui uma aula de ciência política, ou algo semelhante.
O que pretendo é perceber exactamente o que se quer dizer quando se repete exaustivamente a expressão consenso.
Analisando as definições doutrinais, e confrontando-as com as declarações supracitadas, fico com a ideia que se pretende seguir em Macau a perspectiva integralista.
Só quando houver em Macau uma aceitação total relativamente à possibilidade de reforma do sistema político, qual a sua extensão e conteúdo, é que serão dados passos concretos nesse sentido.
Sendo assim, várias questões se colocam:
- Esta visão (todos unidos em torno de uma mesma opinião) não é totalmente utópica? 
- E, mesmo que tal fosse possível, como é que conseguia saber se, e quando, todas as pessoas estariam de acordo?
- Por fim, e porque esta visão se afasta em tudo dos ensinamentos da civilização grega, apetece-me perguntar - Já não se gosta da civilização grega?!
Ia jurar que houve um tempo, não muito distante, em que a mesma era muito elogiada e até apontada como tendo tido uma forte influência na história de Macau.

Comentários

  1. Acredito no amor e no respeito na partilha e na interajuda, mas não acredito nos políticos nem nas correntes ideológicas da maioria das .......democracias........
    Os interesses instalaram-se e os políticos criaram uma máquina não ara ajudar a repatir e a construir uma sociedade de valores e de respeito mas uma sociedade de violência e de roubos.
    Eles servem-se a eles, às famílias e aos amigos.
    ...o povo pode esperar...sentado...

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  2. Luís,
    Os asiáticos têm uma obsessão com o consenso, a decisão tomada com base em consenso.
    Tipo carneirada.
    Estudei isso quando fiz mestrado com a ASEAN como tema.
    Macau segue essa via no tema da reforma política.
    Uma forma hábil de a adiar ad eternum

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  3. Pedro,
    Este seu post é muito interessante e apetecia-me fazer tantas perguntas.
    A história da China, mais próxima do presente é totalitária, daí a carneirada parecer-me natural.

    Lamentavel é a descrença na democracia grega, embora esta também tivesse os seus limites.

    Concordo com o que diz o Luís Eme, mais sublinho. Os governos ocidentais não passam de oligarquias.

    Portugal deixou aí o conceito de democracia?
    Lembro-me quanto chorei ao ver a nossa bandeira ser retirada e entregue ao governador. Os nossos antepassados iriam sofrer também mas era o curso natural dos acontecimentos. A terra ao povo que a possui.

    Não vou falar mais nada tenho medo de ser inconveniente.

    Bjs.:)

    Sabe falar mandarim?

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  4. Quando comecei a ler, pensei que PPC tinha tido um rebate de consciência...

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  5. ana,
    Pode fazer as perguntas que quiser.
    Não é nada inconveniente.
    A obsessão com o consenso, entendido como uniformidade de opiniões, é uma característica tipicamente asiática.
    Que tem impedido o funcionamento, e o progresso, da ASEAN.
    A referência à Grécia é uma piada, ana.
    O actual Chefe do Executivo, em 2000/2001, apontou a cultura grega como uma das que mais influenciaram a história de Macau :))
    E essa ficou célebre.
    Convenientemente esquecida, mas célebre.
    Como eu tenho boa memória.....
    O conceito de democracia é estranho a maior parte da população.
    Nesse aspecto, tenho que concordar com os governantes - a maioria da população preocupa-se apenas com a vertente económica.
    A política passa-lhe totalmente ao lado.
    Já não é (tanto) assim em Hong Kong.
    Mas não pense que há aqui qualquer perseguição às pessoas, em particular aos portugueses.
    Houve uma época mais complicada (até 2001/2002) mas há total liberdade.
    De outro modo, como poderia eu escrever o que escrevo?
    E sem receios de ser incomodado por isso.
    Há uma imprensa muito activa, e inconveniente q.b., em língua portuguesa e em língua inglesa.
    A imprensa em língua chinesa é mais "domada".
    E as críticas que aqui deixo, e no dia-a-dia, devem-se ao facto de gostar (muito!!) de Macau.
    Sou aqui feliz como nunca tinha sido.
    Em todos os aspectos da minha vida.
    Aprendi mandarim dois anos, ana.
    Sei, literalmente, meia dúzia de palavras.
    Percebo, e falo um bocado, o cantonês.
    As minhas filhas, e a minha mulher, obviamente, falam e escrevem o chinês (a escrita é igual, a fala é que é diferente no cantonês e mandarim).
    Elas dominam ambos.
    Mais o inglês e o português (as meninas têm que aprender mais português).
    Se tiver curiosidade acerca de assuntos aqui do Oriente, de Macau, pergunte à vontade, ana.
    No que puder, e souber, terei todo o gosto em a esclarecer.
    Bjs

    Carlos,
    Estes são outros "coelhos" :))
    Completamente diferentes.

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  6. Pedro,
    Realmente, a cultura grega influenciar a asiática parece muito forçado. Lamento saber pouco da cultura chinesa. Atrai-me é claro,
    Sou amante do chá que se bebe muito cá em casa.
    Arroz também é um dos alimentos mais consumidos.
    Obrigada pela explicação.
    Bjs. :)

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  7. ana,
    Essa da influência da cultura grega foi uma das manifestações de algum complexo, tonto, pós-colonial.
    Que desapareceram rapidamente.
    Sobretudo porque Pequim puxou as orelhas a uma série de palermas que aqui há.
    Bjs

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