O negócio Roberto - a história de um activo tóxico e dos rebuçados da loja da Sra. Prazeres

Será Roberto um activo tóxico?

Sendo o moço de nacionalidade espanhola, fica aqui a definição de activos tóxicos na língua de Cervantes - "Los activos tóxicos son fondos de inversión de muy baja calidad (...). El valor de estos fondos de inversión es prácticamente cero."

Postas as coisas assim.....

Causou espanto a comunicação que o Benfica fez à CMVM acerca da alienação do passe do guardião espanhol pelo valor de 8.6 milhões de euros.

Espanto acrescido pelo facto de o comprador ser o Saragoça, um clube falido, a braços com problemas sérios na justiça espanhola.

Luís Filipe Vieira, e os seus pares, teriam sido subitamente dotados do toque de Midas?

Só assim se poderia compreender que um atleta, desvalorizado no mercado internacional, que se tinha tornado num sério problema para o clube, ao ponto de obrigar o mesmo a adquirir mais dois atletas para a mesma posição, fosse transaccionado com um clube falido, por um valor superior ao da sua aquisição, já de si disparatadamente elevado.

Brilhante estratégia negocial de Luís Filipe Vieira e seus colaboradores!!

Ou não?!

É que, neste céu azul (não, não é piada...mas podia ser que até nem ficava mal), de repente, começaram a aparecer nuvens carregadas.

Primeiro, um tal de Pinto da Costa, quando toda a aldeia entoava cânticos de louvor, vem com uma crónica de escárnio e maldizer.

E fala em milhões da treta.

O que é que o gajo quereria dizer com milhões da treta, pá?!

Se calhar era uma daquelas expressões lá do Norte.

Daquelas da Perafita, do Bolhão, do Freixieiro.

Nem toda a gente entende bem essas coisas....

Eis senão quando, do reino vizinho, surgem notícias que dão conta que afinal não foi o Saragoça a comprar o passe de Roberto.

Foi antes um fundo de investimento, um conjunto de investidores.

Tempos houve em que a compra e venda era um negócio simples - havia um comprador e um vendedor; um pagava e o outro recebia.

Era fácil perceber tudo.

Eu queria rebuçados, pagava 10 tostões à Sra. Prazeres, e ela dava-me um saco de rebuçados.

Agora já não é assim.

Se eu quero rebuçados, procuro parceiros para investir na compra, que podem estar baseados bem longe da loja da Sra. Prazeres, que não se mostram, que muitas vezes recolhem investimentos junto de outros investidores.....uma molhada até chegarmos aos rebuçados.

O saco de rebuçados, que eu pagava e papava sozinho, tem agora que ser pago e dividido por um montão de gente, partido, repartido,.....uma grande confusão.

Terá sido mais ou menos isto que se passou com a transferência de Roberto.

Que agora a CMVM quer ver esclarecida.

Ou seja, retomando a linha de pensamento, a CMVM quer saber como é que o saco de rebuçados da loja da Sra. Prazeres, desvalorizado, com um sabor amargo, passou a valer mais dinheiro do que antes.

E quer saber quem é que comprou os rebuçados, quem é que os vai pagar e quem é que os vai comer.

"Los activos tóxicos son fondos de inversión de muy baja calidad (...). El valor de estos fondos de inversión es prácticamente cero."

Confesso que também estou curioso para perceber esta trama.

Como é que o saco de rebuçados da loja da Sra. Prazeres, que custava 10 tostões, passou a valer praticamente zero, e houve alguém a pagar mais de vinte paus por ele?!