10 de Junho - Pragmatismo e diplomacia, ou simples retórica e foguetes?

Celebra-se hoje o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Celebrado a 10 de Junho, para coincidir com a data de morte do Vate (10 de Junho de 1580), as celebrações só farão algum sentido se forem muito para além das cerimónias oficiais (içar da bandeira, romagem à gruta de Camões, recepção na residência consular, espectáculo musical).
Compreendendo que esta agenda festiva seja necessária, o croquete e o pastel de bacalhau terão que ser acompanhados de uma intervenção diplomática tão discreta quanto eficaz.
O representante de Portugal, José Conde Rodrigues, Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, tem que trazer à colação o caso da morte do jovem Luís Amorim, cada vez mais com indícios de se ter tratado de um brutal homicídio, muito mal investigado pelas autoridades de Macau e apressadamente atirado para o fundo de uma qualquer obscura gaveta.
Se o representante de Portugal passar por Macau e se limitar aos discursos de ocasião, que já todos ouvimos e conhecemos ao pormenor e à exaustão, ao "apoio à comunidade expatriada", à presença enfadada nas cerimónias oficiais, cometerá um erro imperdoável.
Não é necessário andar a apregoar a sua agenda, os pormenores das conversas que vai mantendo com as autoridades locais, mas tem que pressionar as autoridades da RAEM no sentido de reabrirem o processo do jovem Luís Amorim, de aprofundarem uma investigação cujos resultados nunca foram minimamente satisfatórios.
Esse sim, do meu ponto de vista, é o apoio que as comunidades expatriadas querem sentir.
E não me venham com a esfarrapada desculpa da não ingerência, da autonomia dos Tribunais, da sã convivência secular.
Esses são todos excelentes motivos que justificam a intervenção, discreta, sublinho, do nosso representante.
Todos queremos saber exacatamente o que se passou naquela fatídica noite.
E é obrigação do Estado português, através dos seus representantes, auxiliar-nos na busca dessa resposta.
Para que os pais do Luís Amorim possam, enfim,  fazer o luto do seu filho.
E nós também, porque não admiti-lo?

O dia fica marcado também pelo anúncio da condecoração de Edmund Ho, o primeiro Chefe do Executivo da RAEM (Grã-Cruz da Ordem de Mérito), e de Rita Santos, Coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum de Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Lingua Portuguesa (Comenda da Ordem do Mérito).
" A Ordem de Mérito tem por finalidade galardoar actos ou serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, ou que revelem desinteresse e abnegação em favor da colectividade."
Percebe-se bem a intenção do Presidente da República em condecorar estas duas figuras.
Edmund Ho foi essencial para que a transição de poderes tivesse acontecido de forma tão suave.
Foi fundamental, sobretudo, para que a comunidade portuguesa aqui residente se sentisse sempre apoiada, amparada, querida.
Factos que sublinhou várias vezes, travando até algumas tentativas de destabilização, com odor xenófobo, que se se sentiram a pairar no ar.
Rita Santos, de quem sou amigo há muitos anos (a minha opinião é algo suspeita, portanto), é o exemplo típico da energia inesgotável, da personalidade "fura-vidas".
Com esta condecoração, julgo que Cavaco Silva quererá enviar um sinal à comunidade portuguesa, aqui nascida ou radicada, mas, acima de tudo, quererá, também ele, sublinhar a importância do relacionamento com o mundo lusófono.
A condecoração atribuída à Rita é, antes de tudo, um sinal para que os portugueses percebam definitivamente, que devem também olhar, à semelhança do que faz a China, para o universo da lusofonia.
Chega de retórica e vamos meter mãos à obra, será esta também a ideia do Presidente da República.
Que assim seja, na investigação da morte do Luís Amorim e no aprofundamento do relacionamento com os países lusófonos.
Felicito Edmund Ho e a Rita pela condecoração que merecidamente vão receber.

Comentários

  1. Caro Amigo Pedro Coimbra,

    É imperioso exigir dos governantes e responsáveis pelos serviços de Estado atitudes bem ponderadas, sensatas e coerentes entre palavras e actos. Mas, infelizmente, falta racionalidade e continuidade coerente nos procedimentos a favor dos interesses nacionais, e tudo seria mais eficiente se houvesse uma linha estratégia bem definida e um código de conduta, um compromisso alargado de longa duração que servisse de orientação e suporte dos actos quotidianos de governação. Falta método e dedicação a Portugal tanto na parte interna como no respeito pela imagem no exterior.
    Um abraço
    João
    Do Miradouro

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  2. Caro Amigo João Soares,'
    Dá hoje entrada o requerimento de reabertura do processo relativo à morte do jovem (17 anos) Luís Amorim.
    Tudo indica que tenha sido barbaramente assassinado, espancado até à morte, mas as autoridades apressaram-se a congeminar uma teses de suícidio, sem quaisque provas que apontassem nesse sentido.
    A pressão, ao longo destes três anos, parece dar agora alguns resultados.
    E o dia de ontem poderá ter sido muito importante nesse aspecto.
    Abraço

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