A suprema inutilidade das comissões

Quer transmitir a aparência que está muito preocupado com uma "situação gravíssima" mas não quer efectivamente chegar a qualquer resultado palpável?
Crie uma comissão para investigar e reportar conclusões.
Este é um daqueles princípios políticos com validade unviversal.
Quer investigar uma hipotética restrição da liberdade de informação, interferência governativa em órgãos de comunicação social, a existência de um possível Atentado ao Estado de Direito (crime) mas não quer chegar a qualquer conclusão?
Envie o caso à Comissão de Ética da Assembleia da República "para os devidos efeitos" (adoro esta expressão porque é outra das tais que pode significar todinho sem rigorosamente significar porrinha nenhuma).
Depois dos boys Vara (este já é man!!), Penedos, Soares, ontem foi a vez de Manuela Moura Guedes ter tido direito ao seu tempo de antena na "rigorosa investigação parlamentar".
E Manuela Moura Guedes adorou!
Toda aquela atenção mediática, as luzes a incidirem na sua excelsa figura, a possibilidade de disparar em todas a direcções, de apontar o dedo a uma série de personalidades públicas que se dedicavam exclusivamente a conspirar para a levar ao calvário, de envolver o Rei de Espanha naquele novelo pardacento (Juan Carlos lá terá gritado outra vez "Porque no te callas?"), foi um momento de êxtase que Manuela Moura Guedes só nos seus melhores sonhos poderia razoavelmente contemplar.
Escrevi-o na altura, mantenho-o hoje, e ainda com maior convicção.
Quem tomou a decisão de cancelar o Jornal de Sexta fez um favor extraordinário a Manuela Moura Guedes.
A atenção que ela conseguiu com esse acto de censura (?) nunca conseguiria como jornalista.
E a Comissão Parlamentar, o que dizer da Comissão Parlamentar?
Antes de mais, a óbvia pergunta - um problema de liberdade de imprensa, de possível crime, é investigado pela Comissão de Ética?
Expliquem-me o raciocínio, por favor, porque eu confesso que não entendo.
Os resultados da investigação?
Vou antecipá-los.
Os que achavam que José Sócrates é um energúmeno e é culpado, vão concluir que José Sócrates é um energúmeno e é culpado.
Os outros, que achavam que José Sócrates é inocente e vítima de uma cabala política, vão concluir que José Sócrates é inocente e vítima de uma cabala política.
Enquanto isso, uma Comissão Parlamentar é transformada numa feira de vaidades e num antro de maledicência.

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