A Igreja Católica e o fenómeno da pedofilia

Há momentos na vida em que sentimos que não podemos ficar inertes e mudos perante a injustiça.
Precisamente o que se passa actualmente quando se assiste, cada vez mais, a uma associação imediatista, descabida, injusta, revoltante, da Igreja Católica ao fenómeno da pedofilia.
A pedofilia é o mais hediondo de todos os crimes.
Miguel Sousa Tavares, em artigo de opinião que assinou no Expresso, chegou a exprimir a sua revolta perante tão aviltante acto, defendendo a ideia de se punirem os pedófilos com  a pena de castração por não acreditar na sua ressocialização.
Está provado, à saciedade, e até por confissão dos próprios, que há padres pedófilos, os quais, ao longo de muitos anos, foram cometendo crimes impunemente, abusando de quem não lhes podia resistir, fazer frente,  usando de forma abominável uma posição de autoridade que lhes servia de meio para alimentar as suas preversões.
Pior, a coberto de uma sensação de impunidade, a qual lhes era transmitida pelo facto de nunca serem denunciadas essas práticas nauseabundas por parte de quem tinha o dever, cívico, moral, legal, de o fazer.
Bem diferente de se poder considerar a Igreja Católica, a instituição no seu todo, como uma instituição que alberga, consente e convive bem com a pedofilia.
Tomar a nuvem por Juno é um erro primário.
E é o que julgo que está a acontecer com a ligação de padres pedófilos, e de quem lhes permitui evitar a fuga à Justiça, à instituição que servem.
A Igreja Católica, e os valores do catolicismo, condenam veementemente estes horrores.
Há padres pedófilos, elementos da hieraquia da Igreja que conheciam estas práticas criminosas e abomináveis e as silenciaram.
Têm que ser objecto, todos,  de castigo exemplar.
Fazer a ligação automática destes criminosos à Igreja Católica, na sua dimensão institucional, bem como ao celibato dos padres, é outra ingnomínia.
Fui aluno de um colégio, gerido e administrado por padres Jesuítas, durante cinco anos (dos 10 aos 14 anos de idade).
Nos primeiros dois anos, o colégio tinha, se a memória não me atraiçoa, cento e vinte alunos em regime de internato e seis em regime de semi-internato.
Eu era um desses seis.
O colégio era exclusivamente masculino, como tinha sido durante todo o seu historial.
No meu terceiro ano chegaram as meninas.
Vinham de um colégio feminino, entretanto extinto, e os regimes de internato e semi-internato foram abandonados.
Passou-se ao externato puro, sistema que ainda hoje se mantém.
Que saiba, nunca ali houve abusos sexuais, problemas de pedofilia, envolvendo meninos ou meninas.
Apenas um ensino de qualidade, um regime disciplinar rigoroso, valores muito bem definidos e que tinham de ser cumpridos integralmente.
Características que, pelo que me é dado saber, ainda se mantêm.
Tive o prazer de lidar com professores excepcionais, que marcaram a minha vida, a nível académico e pessoal, bem como a de muitos amigos meus.
Alguns desses professores eram padres.
Alguns acabaram por abandonar a vida sarcedotal, porque o chamamento desparecera, ou porque não concordavam com a ortodoxia emanada do Vaticano.
Mas, repito, nunca se ouviu qualquer rumor acerca de práticas pedófilas, tarados, bárbaros,  entre os nossos professores e os padres que dirigiam o colégio.
Como tal, como católico e crente, embora crítico de muitas opções da Igreja e da tal ortodoxia que ainda é regra, ofende-me a ligação primária que se anda a promover da Igreja Católica a práticas pedófilas.
Que se investigue e puna quem tem que ser investigado e punido.
Mas vamos parar com esta injustiça porque também já começa a ir longe demais.
E não posso deixar de exprimir alguma estranheza com o facto de, diariamente, sermos confrontados com novas notícias de pedofilia no seio da Igreja Católica.
Quase que em efeito cascata.
Só agora foram conhecidos, ou só agora estão a ser revelados?

Comentários

  1. A entrevista que D. Januário Torgal Ferreira ( que conheço bem e foi meu professor) deu na segunda-feira ao Miguel Sousa Tavares pareceu-me bastante esclarecedoram, apesar de ter querido passar a ideia de que não existia esse problema na Igreja em Portugal.Mas nem ele acreditava nisso, como é óbvio e as notícias de hoje confirmam-no.
    Trata-se de uma verdadeira pandemia...
    Trata-se de

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  2. Caro Carlos,
    O grande problema da Igreja, neste particular, foi (é?) não enfrentar o problema.
    Pelo contrário, tentar escondê-lo, fingir que não existe.
    O fenómeno foi crescendo, descontrolado, e a revolta das pessoas acentuou-se.
    Mas, como tenho visto, fazer passar a ideia que a Igreja é uma instituição infestada de pedófilos, é uma mentira enorme.
    E uma injustiça intolerável.

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