A transparência obscura



O discurso oficial em Macau continua a apontar para a necessidade de transparência na vida pública, para a auscultação da opinião pública quando estão em causa gastos que envolvem verbas avultadas, para uma Administração que, como um conhecido partido político português, tem paredes de vidro.
Mas, tal como o partido em causa, o vidro é um bom bocado baço.
Agora, chega a notícia de que já foi escolhido o responsável pelo projecto do novo campus da Universidade de Macau na Ilha da Montanha.
Mas chega de uma forma, no mínimo, sui generis.
Tudo muito em segredo, foi realizada uma sessão de esclarecimento com alunos, professores, funcionários, membros do Conselho de Administração da UMAC, mas ninguém disse nada aos órgãos de comunicação social.
No final, a novidade foi dada pelos participantes e por um patético comunicado da Universidade de Macau.
O escolhido é He Jingtang, arquitecto muito bem visto pelas autoridades centrais, autor do Pavilhão da China na Exposição Mundial de 2010, vice-presidente da Sociedade de Arquitectura da China, director da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Tecnologia do Sul da China, reitor do Instituto de Design Arquitectónico.
Não está minimamente em causa a competência do senhor, o seu curriculum, até a sua proximidade às autoridades centrais.
O que é altamente censurável, é que todas estas decisões sejam tomadas à revelia da opinião pública, quase em clima de segredo de Estado, sobretudo num projecto que se prevê irá envolver verbas na ordem dos 1200 milhões de patacas.
A resposta oficial divide-se agora em duas vertentes:
Em primeiro lugar, no já supracitado comunicado, a UMAC vem esclarecer que estamos perante "(...) um campus orientado para as pessoas, moderno, informatizado e benéfico para o desenvolvimento sustentável (...)".
Mais, "(...) com características de campus jardim a que não faltarão traços das culturas oriental e ocidental".
Convenhamos que era difícil encontrar um conjunto maior de banalidades para publicitar o projecto!
Em segundo lugar, os mais de 500 participantes na sessão levantaram várias questões e deram várias sugestões relevantes.
Brainstorm e catarse em toda a sua plenitude!
Mais, há um endereço electrónico pronto a receber mais sugestões (http://www.umac.mo/news-campus-project ).
Aqui vai a minha - Que tal realizar consultas públicas para projectos desta importância e desta dimensão??
É só uma ideia....
Mas, com estes esclarecimentos da UMAC e o endereço electrónico, já estamos todos mais tranquilos, elucidados, diria até transparentes.
Lembram-se de Vasco Santana e d' "O Pátio das Cantigas"?
Quero citá-lo agora - "Compreendido!! Também tu és um ilusionista!!"
Há muitos aqui em Macau.
Parece que cada vez mais.

E não estou a pensar no António Almeida nem nos seus pares.

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