O Miguel Sousa Tavares e o Faustino


Ao ler o artigo de opinião do Miguel Sousa Tavares no Expresso, com o sugestivo título "Esta justiça não é para tolos", percebi que ele se transformou no Faustino.
O Faustino foi meu colega no estágio de advocacia, já lá vão uns bons anitos, e era invariavelmente contra.
O Faustino era tão contra que, contava ele orgulhosamente, tinha votado contra uma proposta apresentada por ele próprio, pela qual se batera até à exaustão, mas que perdera todo o interesse quando suscitou apoio unânime.
O Miguel Sousa Tavares, que me andava a parecer algo estranho, surge-me agora com toda a clareza - é o Faustino, porra!!
Só assim se compreende que, um tipo que anda a bater no primeiro-ministro desde tempos imemoriais, venha agora defendê-lo das diatribes da populaça.
E venha escrever essa coisa absolutamente admirável que é achar que não há problema nenhum que um primeiro-ministro queira acabar com um programa televisivo que o ataca, e que diga isso em conversa telefónica a um dos seus homens de mão.
Quem lê o artigo (http://aeiou.expresso.pt/esta-justica-nao-e-para-tolos=f548475), se não estiver a par da realidade, fica a pensar que o primeiro-ministro é um santinho que anda a ser atacado por um monte de diabinhos e bruxinhas.
Ler algo do género, escrito por Augusto Santos Silva, Vieira da Silva, Jorge Lacão, seria normal.
Pelo Miguel Sousa Tavares, não devia ser nada normal.
Mas, nos tempos que correm, já vai sendo.
A menos que tenha sido o Faustino a escrever o artigo...
E o título?
Que dizer do título?
Não haverá também um erro?
Não devia ser "Esta justiça não é para todos"?
Aí sim, já estávamos de acordo.


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