Estará o PSD disposto a tirar um Coelho da cartola?

Na comemoração do vigésimo aniversário, o jornal "Público"  apresenta os resultados de uma sondagem, realizada pela Intercampus, cujos resultados merecem alguma atenção.
Apesar de a maioria dos inquiridos estar convencida que José Sócrates mentiu no Parlamento quando afirmou que desconhecia o negócio que envolvia a PT na aquisição da TVI, os portugueses, a acreditar nos resultados da sondagem, não só voltariam a dar a vitória ao PS em eleições legislativas, como estariam dispostos a reforçar a votação no PS, deixando o partido à beira da maioria absoluta.
No entanto, este resultado não seria conseguido através de um decréscimo de votação no PSD, como se poderá ser tentado a pensar numa análise imediatista.
O partido laranja, envolvido na eleição de uma nova liderança, cresce em intenções de voto também.
Um cenário que leva a algumas conclusões.
Antes de mais, o "centrão" está cada vez mais reforçado no espírito dos portugueses.
Lembram-se das declarações de António Vitorino a meio da semana? Um entendimento entre o PS e o PSD para viabilizar a governação e assegurar a governabilidade?
Vitorino, um político muito hábil, soube ler os sinais que os resultados desta sondagem confirmam.
O reforço do centrão, mas também a ameaça que pode vir do PSD a curto prazo.
O PSD, que parecia um partido em estado de profunda letargia, renasce com o processo eleitoral interno em curso.
Os portugueses dão um sinal inequívoco de que estarão dispostos a dar uma oportunidade ao PSD, e a breve prazo, se o partido laranja arrumar a casa primeiro.
A pergunta a fazer é - a qual PSD?
Não será ao PSD de Manuela Ferreira Leite, que esse não conseguiu atrair a confiança dos votantes, não conseguiu mobilizar os (muitos) descontentes com este Governo e este primeiro-ministro.
Se este raciocínio está correcto, e sendo para mim claro que Paulo Rangel e Aguiar Branco têm uma imagem pública muito ligada à da actual líder, o PSD terá mesmo de tirar um Coelho da cartola se quiser agitar ainda mais o panorama eleitoral.
A dúvida que permanece é saber se Pedro Passos Coelho consegue conquistar o partido, sobretudo quando se percebe que o aparelho do partido, os militantes mais tradicionais, e os "pesos-pesados" da máquina laranja, não estariam com ele.
Poderão os resultados desta sondagem, a par com as boas prestações de Passos Coelho nos debates internos, a evidente falta de preparação de Paulo Rangel, e a imagem demasiado colada à actual líder de Aguiar Branco,  levar o PSD a tirar um Coelho da cartola? 
Uma dúvida e uma curiosidade que ficam a aguardar resposta.
Excelente o "feelling" de António Vitorino, que terá sido dos primeiros a perceber que o processo eleitoral interno no PSD poderia fazer o partido laranja aparecer como alternativa ao PS, deixando o convite bem claro para uma juncão de esforços.
"Se não os podes vencer, junta-te a eles", terá sido a ideia muito simples de António Vitorino.
O "recado" ficou dado para quem o quiser ouvir.

Comentários

  1. Caro Pedro Coimbra,

    Gostei desta sua dissertação e dos factores considerados. Transcrevi para o Do Miradouro. Mas juntei uma nota nos seguintes termos: As perspectivas não são animadoras, pois a concretização do «centrão» ou de uma nova AD poderia ser uma grande desgraça para o País. Seria confirmada institucionalmente a NOMEMKLATURA. Se agora, apesar da sombra da alternância democrática, não falta exploração do País em favor dos boys e das girls e dos corruptos bem colocados em bancos e empresas com acções do Estado, actores de primeiro plano em casos como a Face Oculta e outros, tudo piorará quando se entenderem os dois principais partidos e dividirem entre si o espólio lusitano, não havendo então quem tenha mão neles. E já provaram que, quando estão em jogo os seus interesses pessoais e partidários, se entendem muito bem como foi o caso da unanimidade na aprovação da lei, felizmente vetada, do financiamento dos partidos. Com tal união, os detentores dos altos cargos chupariam o sangue dos portugueses até à última gota. Seria a agudização de todos os problemas, em vez de serem resolvidos. Mas para eles seria uma boa medida porque passariam a ter «estabilidade governativa» sem ninguém a incomodá-los. Deus nos livre de que tais ambiciosos, egoístas e sem escrúpulos, venham a obter o poder de tal forma, levarão «a banca à glória», para desgraça de 90 por cento dos portugueses.
    Estas palavras não vão contra o seu texto que aprecio, mas estão em conformidade com aquilo que já tinha escrito num comentário anterior.

    Um abraço
    João Soares

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