Relembrar o massacre de Santa Cruz


A 12 de Novembro de 1991, a luta pela libertação e auto-determinação do povo timorense conhecia uma das páginas mais negras do período de ocupação indonésia.
Uma manifestação em honra de um estudante assassinado pelas tropas indonésias, foi reprimida com total brutalidade e barbárie,  pelo mesmo exército indonésio, dando origem a uma carnificina cujas exactas proporções ainda hoje se desconhecem.
Graças à coragem de Max Stahl, as imagens desse acto bábaro correram mundo e deram nova alento à causa timorense (aqui http://www.youtube.com/watch?v=_gVsjzKid9U ).

Se a visita de Sua Santidade o Papa João Paulo II, ocorrida dois anos antes, e os acontecimentos que a roderam, nomeadamente as manifestações populares condenando o regime militar indonésio, puseram em marcha o proceso de libertação de Timor Leste, o massacre ocorrido no cemitério de Santa Cruz terá sido o momento decisivo para chamar a atenção de um mundo até então algo distanciado das agruras sofridas pelo povo timorense.
Agora já era impossível assobiar para o lado e fingir que nada de grave se estava a passar.


O último ímpeto nesse processo de libertação foi dado em Outubro de 1996 com a atribuição do Prémio Nobel da Paz ao Bispo de Timor Carlos Ximenes Belo e a José Ramos Horta.
O processo de libertação, com o ímpeto adquirido a 12 de Novembro de 1991 no Cemitério de Santa Cruz, viria a culminar no referendo ocorrido em 1999 em que os timorenses se pronunciaram massivamente a favor da auto-determinação.
Os trágicos acontecimentos de Santa Cruz seriam replicados após o acto referendário e, inclusivamente, muito recentemente, com a tentativa de assassinato de José Ramos Horta, entretanto eleito Presidente da República.
Ramos Horta que, com Xanana Gusmão (primeiro Presidente da República e actual primeiro-ministro) e Ximenes Belo se constituíram nos principais rostos da independência de Timor.
A nação timorense ainda se encontra intensamente dividida no plano interno.
Mas é livre e procura um caminho de paz.

Ramos Horta e Xanana Gusmão não se cansam de apelar à paz e ao perdão.
Apelos que são dirigidos ao interior do país e também têm uma óbvia componente e vertente externa.
Timor é um dos países mais pobres e com maiores dificuldades no Mundo, mas procura o seu caminho e procura-o de uma maneira livre.
Nessa procura, e nesse processo de reconciliação, consigo mesmo e com o outrora inmigo e ocupante, o pedido de adesão à ASEAN constitui um passo decisivo.
Para aqui chegar foi percorrido um longo e doloroso caminho.

Hoje é o dia em que devemos, mais uma vez, lembrar os mártires que tombaram em Santa Cruz e que ofereçeram a sua vida em último sacrifício para que a sua pátria fosse livre.


Que descansem em paz e que a sua memória seja honrada, hoje e sempre.

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