Os cavalos também se abatem


Com este título, adaptado da obra de Horace MacCoy, Sydney Pollack surpreendeu o mundo do cinema há 40 anos (1969), com um filme negro onde brilhavam Jane Fonda, Michael Sarrazin, Susannah  York, Bonnie Bedelia, Bruce Dern.
They Shoot Horses, Don't They? explorava o tema da Grande Depressão nos anos 30 nos Estados Unidos, e as oportunidades que se abriram naquele cenário económico.
Uma dessas oportunidades, era testar a resistência dos concorrentes em intermináveis concursos de dança, em troco de comida, roupa e dinheiro, num aproveitamento despudorado da enorme onda de desemprego que grassava entre a população americana.
A metáfora é óptima para retratar o que se passou ontem à noite na "Pedreira" (Estádio AXA) em Braga.
O cavalo de corrida, entusiasmante, imparável, irressistível, foi derrubado por um puro sangue mais vocacionado para corridas de longo curso.


O Braga já é um candidato ao título?
Não acredito.
Ao contrário da comunicação social portuguesa (aqui o exemplo via O Jogo http://www.ojogo.pt/ ), de alguns comentadores (ver João Vieira Pinto, também em O Jogo), e alguns "braguistas" (Marcelo Rebelo de Sousa como expoente máximo), não acredito que o Sporting de Braga tenha estofo, qualidade, plantel e capacidade para discutir o título de campeão.
O fenómeno Boavista, de Loureiro e Pacheco, mas também de Ricardo, Petit, Meireles, Pedro Emanuel,....não se vai repetir.
O Braga parece-me realmente um corredor de fundo, bem orientado, a quem tudo sai bem, com bons jogadores (só isso; não tem jogadores de classe, que são necessários para se ser campeão), e que está a capitalizar a eliminação prematura da Liga Europa.
Aquilo que parecia uma derrota, está a revelar-se uma benção.
Concentrado apenas nas provas internas, com especial enfâse no campeonato, o Braga está a fazer uma prova excelente, mas claramente em "estado de graça".
Basta lembrar o golo com que bateu o Porto, o jogo de ontem e as suas incidências, para perceber que são bençãos que não vão durar sempre.
Domingos está a fazer um excelente trabalho, no seguimento do que fizera na Académica, tem ali jogadores a render o máximo (Hugo Viana é o melhor exemplo), a equipa está motivada, mas as tormentas vão aparecer.
E aí, acredito, o Sporting de Braga vai ficar apenas como uma equipa que vai dar muita luta aos "grandes", mas que se vai quedar na luta pela qualificação para a Liga Europa.
Aliás, é este o objectivo que o técnico, os jogadores e os responsáveis têm vindo a afirmar.
Domingos, ontem, entusiasmou-se um bocado.

Mas isso passa-lhe depressa.
E o Benfica, meio embriagado pela onda de euforia criada à volta do fenómeno Jorge Jesus e da performance da equipa, estatelou-se com grande estrondo.
Continuo a pensar que a única pessoa que revela lucidez no meio de todo este processo de endeusamento do treinador e da equipa é precisamente Jorge Jesus.
"Somos só uma boa equipa", não se cansa de repetir o responsável técnico do Benfica.
Cem por cento de acordo.
O Benfica é só uma boa equipa, que também tem tido alguma sorte (não há lesões em figuras nucleares, não há castigos, há jogadores em grande destaque e em grande rendimento), está bem orientada e bem trabalhada, mas que tem poucas alternativas credíveis para ser aquela máquina demolidora que a comunicação social tem vendido.
Basta olhar para o banco no jogo de ontem e está ali clara a falta de alternativas.
Quando Jorge Jesus resolveu mexer no jogo, olhou para o banco, fez as suas apostas, e a resposta foi a que tem sido habitual nas segundas linhas - fraquinha, muito fraquinha.
O que acontecerá quando, do onze habitual, saltarem jogadores, por quebra de forma, lesão, castigo?
Jorge Jesus parece ser o único que já percebeu esse problema.
Esse e a falta de laterais.
O único lateral de raíz é o repescado Luís Filipe, no qual Jorge Jesus não confia minimamente.
Veremos como vai o Benfica digerir, e reagir, a esta derrota.
E veremos como vai o Braga reagir quando vier a turbulência.
Ainda há muito campeonato para jogar e muitas jornadas para eu acreditar que o Braga é candidato ao título.
Por agora, e com o Sporting envolvido em guerras intestinas, a luta parece-me reservada a dois.


Num outro campeonato a dois, este informal, Domingos leva vantagem sobre Jorge Costa para vir a ser, a médio prazo, o treinador do Porto.


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