Um activista e não um dissidente


Há um  nome que hoje domina os noticiários em (quase) todo o Mundo (as excepções são por demais conhecidas....)  - Liu Xiaobo.
Um nome por todos conhecido e que , ironicamente, a China ajudou enormemente a divulgar.
Liu Xiaobo é hoje o ausente mais presente na cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz em Oslo.
A cadeira que lhe estava destinada estará vazia.
Porque nem Lui Xiaobo, nem nenhum dos seus familiares, poderá receber o prémio que lhe foi atribuído.
Ainda assim, daquela cadeira vazia, e do simbolismo à mesma associado, emanará uma mensagem poderosíssima.
Que não poderá ser ignorada por muito mais tempo.
Por muito que o regime político chinês o tente a todo o custo.
A mensagem da liberdade de pensamento, da defesa dos direitos humanos.
Que é apanágio de pessoas livres, corajosas, íntegras.
Activistas.
E activistas porque partidários do activismo, da " (...)doutrina segundo a qual a verdade não é tanto questão de pura inteligência como de acção; tendência para a actividade política e exaltada". (Dicionário de Língua Portuguesa, 6ª edição, Porto Editora, 35).
Ou seja, de pessoas que, sem receios, se entregam a uma causa.
Bem diferente de um dissidente.
Como tem sido constantemente apelidado Liu Xiaobo.
Porque dissidente é aquele "(...) que se separou de um grupo político ou religioso, por discordância com a maioria". (idem, 557).
Compreende-se facilmente que se queira colar este rótulo a Liu Xiaobo.
Rótulo que os regimes totalitários tendem a colar a todos aqueles que não seguem a linha oficial. 
Um rótulo que transporta consigo uma óbvia conotação ou carga  pejorativa.
O dissidente é quase um traidor.
Alguém que negou os seus ideais.
Precisamente o oposto do que é, e do que representa, Liu Xiaobo.
E tantos outros como ele.
Também eu incorri neste erro vários vezes.
O alerta apareceu num post do Pedro Correia no blogue Delito de Opinião.
Liu Xiaobo não é um dissidente.
É um activista.
De causas nobres.
Da liberdade de pensamento, dos mais básicos direitos humanos.
Que lhe são sonegados.
A ele e à sua família.
Por isso mesmo, e porque, na defesa das suas causas, nunca recorreu a qualquer tipo de violência, foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Paz.
Um prémio ao activismo, não à dissidência, insisto.
Liu Xiaobo não o vai receber.
Nem os seus familiares.
Mas vai ser o ausente mais presente de que tenho memória.

Comentários

  1. Caro Pedro Coimbra
    Cresci com um trauma que ao longo da vida, conforme dela ia tendo conheciemto se transformou num motivo de orgulho. O meu avô passou 14 anos nas prisões fascistas. Foi preso pela primeira vez em 18 de Janeiro de 1934, tinha o meu Pai 1 Ano de idade.
    Hoje é um dia em que a tristeza me faz companhia, por várias razões, esta é uma delas.
    Abraço

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  2. Concordo, Pedro. Compartilho os mesmos sentimentos.

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  3. Caro folha seca,
    Pessoas que se sacrificam por ideais devem alegrar-nos, encher-nos de orgulho e servir de exemplo nas nossas vidas.

    Hugo e Catarina,
    A estratégia de menosprezar aqueles que discordam da linha e do discurso oficial, apondo-lhes o rótulo de dissidentes, traidores, é típica das ditaduras.
    Quero crer que não o será por muito tempo.
    E o dia de hoje é muito importante para que éssa transformação aconteça.

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