A entrevista de Jorge Rangel

A entrevista que Jorge Rangel concedeu a Gilberto Lopes, emitida no passado sábado na Rádio Macau, foi tudo aquilo que esperava que fosse.
A possibilidade de ouvir aquele que era o Secretário-Adjunto dos últimos governos da Administração portuguesa de Macau com maior e melhor preparação política, com maior conhecimento da realidade local, falar de modo desassombrado de vários assuntos que ainda estão por esclarecer cabalmente.
Muitos dos quais ainda não totalmente esclarecidos porque ainda não é chegado o tempo oportuno para tal.
Jorge Rangel tem essa qualidade, inegável, de representar, enquanto pessoa, a junção de dois mundos, de duas mundividências.
Esse traço da sua personalidade permite-lhe ter uma noção de tempo, e de oportunidade, muito mais próxima da cultura chinesa do que da cultura portuguesa.
E explica que tenha deixado algumas pontas soltas nesta entrevista (a Escola Portuguesa, a Fundação Macau, a governação Almeida e Costa,...).
Ainda não chegou o momento ideal para revelar totalmente o que conhece de todas essas polémicas.
E, tenho a certeza, Jorge Rangel conhece muito.
Ainda assim, para além de revelar que de facto Edmundo Ho estava ao corrente da criação da Fundação Jorge Álvares, tópico que já se sabia que iria ser abordado na entevista, Jorge Rangel revelou (confirmou, talvez seja a palavra mais correcta) o porquê de todas as convulsões que se geraram à volta da criação da Fundação.
E que foram importadas de Portugal.
Como em tantas outras situações, Macau foi escolhido como terreno priveligiado para os dois grandes partidos portugueses se degladiarem.
E Rocha Vieira, apontado como putativo candidato presidencial, foi vítima dessa peleja.
Ficou agora claro, depois de ouvir Jorge Rangel, que houve uma intenção clara, deliberada, de chamuscar a imagem de Rocha Vieira.
Não tanto da governação portuguesa em Macau, mas sim do próprio Governador.
Que teria de sair de Macau com a carreira política terminada.
Fulanizaram-se as questões e Rocha Vieira, que se mantém em silêncio (julgo que há uma biografia a ser escrita, na qual deverão estar contidos pormenores sumarentos), ficou arredado da política.
Não fiquei boquiaberto com as revelações que Jorge Rangel fez no passado sábado.
Mas foi bom que as tivesse feito.
E que venha a fazer algumas mais, como de resto ficou prometido.
Nem que seja no livro de memórias a que se referiu na entrevista.
Para que, de uma vez por todas, se esclareçam alguns mal-entendidos e se encerre mais um capítulo do que foi a governação portuguesa em Macau.
E da influência (nefasta) que na mesma teve a politiquice portuguesa.
Esclarecimentos que também permitirão perceber melhor quem é quem em Macau.
"Les jeux sont faits".

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