Equívocos de Jorge Jesus aproveitados com mestria por Villas-Boas

A meio desta semana, e na sequência da onda de euforia criada à volta da pré-época do Benfica, tinha deixado aqui escrito que julgava que havia muita precipitação nos julgamentos antecipados que se estavam a fazer.
Mais, tinha prometido que, hoje, aqui estaria para dar os parabéns a quem vencesse a Supertaça dentro do campo.
Parabéns então ao Porto, que ganhou com toda a justiça!
O 2-0 final reflecte a superioridade dos Dragões, que souberam aproveitar as debilidades do Benfica (está longe da equipa irresistível que se queria fazer crer que era) e os erros de Jorge Jesus.
Comecemos pelos erros do treinador benfiquista.
Privado do contributo de Ramires, Jorge Jesus desmontou totalmente o pilar em que assentava a estrutura do futebol do Benfica na época passada.
Ao prescindir de Javi Garcia, entregando a parte mais recuada do losango do meio-campo benfiquista a Airton, Jorge Jesus correu um sério risco.
Risco acentuado com a subida de Fábio Coentrão e a colocação de César Peixoto no lado esquerdo da defesa.
Coentrão andou sempre perdido, César Peixoto preocupou-se mais com as pernas dos adversários do que com a bola (só ficou em campo porque o árbitro foi complacente), o Benfica não teve meio-campo, não teve bola, não conseguiu jogar.
A ausência daquele pilar central (Javi Garcia/Ramires) e da imprevisibilidade e do poder de explosão de Di María, deixaram o Benfica preso de movimentos, falho de imaginação.
Do outro lado, André Villas-Boas passou com distinção o primeiro teste.
Só utilizou um reforço (o Benfica também só utilizou Roberto), mas a equipa jogou de uma forma completamente diferente do que era habitual.
Muito mais pressionante, muito mais rápida e acutilante, características que têm tudo a ver com um meio-campo constituído por jogadores com um centro de gravidade muito baixo, muito rápidos, em constante movimento, que gostam de ter a bola, a entregam rapidamente.
Um meio-campo onde a influência de João Moutinho é evidente (para maçã podre....).
Na frente, dois jogadores nas alas que desiquilibram (que jogaço fez o miúdo Varela! E a falta que ele fez ao Porto e à selecção!) e um matador no centro.
A defesa, sem Bruno Alves, preocupou-se em jogar certinho, excepção para um Álvaro Pereira que parece ter uma energia inesgotável.
Sabendo-se que falta um central e um ponta-de-lança, e que falta saber se Fucile e Meireles saem ou ficam, o Porto parece estar a construir uma belíssima equipa.
Como o é o Benfica.
Os benfiquistas estão a tratar de compensar a saída de Ramires e precisam de se habituar a viver sem "Angelito".
Mas não deixaram de ser uma boa equipa porque ontem perderam,e foram inferiores, ao Porto.
Nessas precipitações, nesses juízos patéticos, eu não alinho.
Uma palavra final para André Villas-Boas.
Aos 32 anos, o treinador deu uma prova de maturidade inegável.
Numa semana desgastante, soube preparar a equipa, responder com fleuma (não tivesse ele ascendência britânica...) a ataques que lhe foram sendo dirigidos, continuou a tarefa hercúlea de se livrar da sombra de Mourinho (as palavras dirigidas a Mourinho e Jorge Jesus no final do jogo só abonam em seu favor), e ganhou com grande classe o primeiro troféu como treinador principal.
Isto tudo com uma equipa que se está a habituar às suas ideias, à sua concepção de jogo, à sua liderança.
Com um discurso limpo, escorreito, ideias firmes, conhecimento dos adversários e do mercado, André Villas-Boas promete.
O Porto ganhou, mereceu ganhar (o golo cedo foi importante, como é óbvio), conseguiu a sua 17ª Supertaça, mas foi só isso.
Só agora começou a caminhada.
Que é longa e cheia de dificuldades.
Uma boa lição para quem não tinha percebido essa evidência.

Comentários

  1. Estimado Amigo Pedro Coimbra

    Os meus sinceros parabéns por esta bela vitória, foi um jogo bem animado, onde os Dragões despenaram a Águia tendo Jesus ficado, mais que derramado, naquela bela cidade de Aveiro. O Vilas Boas será um novo José Mourinho, e como tal este ano, de novo o rei do futebol mora no norte.
    Aveiro, cidade onde prestei serviço militar durante 6 meses (RI 10).
    Um abraço amigo

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  2. O Villas-Boas é um bom treinador, mas tem que se livrar da sombra do Mourinho.
    Ele tem tentado fazê-lo, e o Mourinho até deu uma ajuda.
    Vamos ver o que vai acontecer durante o campeonato.
    O Benfica ontem teve um jogo menos conseguido, mas continua a ser uma boa equipa, com um bom treinador.
    O Braga será algo muito semelhante ao que se viu na época passada.
    Só o Sporting ainda me suscita muitas dúvidas.
    Ainda assim, prevejo um campeonato bem disputado.
    E que seja disputado só dentro do campo.
    É isso que se quer.
    Um abraço

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  3. Ganhámos bem, mas a equipa ainda não me convence.
    Como o Pedro escrevia aqui há dias, a nomeação de João ferreira foi uma afronta e ele proecupou-se em mostrar em campo que a sua advertência estava certa. O Benfica teria terminado com 9, não fosse a complacência do árbitro.
    No entanto, acredito que o benfica vai voltar a ser forte.

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  4. É isso, Carlos.
    Ao contrário de muita gente que, por ganhar uma porrinha qualquer, se acham os melhores, eu continuo a pensar que há espaço para melhorar.
    E sei que o Benfica também vai melhorar.
    Ganhámos um troféu, ganhámos bem, mas foi só isso mesmo.

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