Ponto da Situação da crise - RicardoAraújo Pereira
Passos Coelho bem avisou que iria fazer cortes na despesa. Só não disse que era na nossa. A nossa despesa com alimentação, habitação e transportes está cada vez menor.
Os portugueses vivem hoje num país nórdico: pagam impostos como no Norte da Europa; têm um nível de vida como no Norte de África. Como são um povo ao qual é difícil agradar, ainda se queixam. Sem razão, evidentemente.
A campanha eleitoral foi dominada por uma metáfora, digamos, dietética: o Estado era obeso e precisava de emagrecer. Chegava a ser difícil distinguir o tempo de antena do PSD de um anúncio da Herbalife. "Perca peso orçamental agora! Pergunte-me como!" O problema é que, ao que parece, um Estado gordo é caro, mas um Estado magro é caríssimo. Aqueles que acusavam o PSD de querer matar o Estado à fome enganaram-se. O PSD quer engordá-lo antes de o matar, como se faz com o porco. Ninguém compra um bácoro escanzelado, e quem se prepara para comprar o Estado também gosta mais de febra do que de osso.
Embora o nutricionismo financeiro seja difícil de compreender, parece-me que deixámos de ter um Estado obeso e passámos a ter um Estado bulímico. Pessoalmente, preferia o gordo. Comia bastante mas era bonacheirão e deixava-me o décimo terceiro mês (o atual décimo segundo mês e meio, ou os décimos terceiros quinze dias) em paz.
Enfim, será o preço a pagar por viver num país com 10 milhões de milionários. Talvez o leitor ainda não tenha reparado, mas este é um país de gente rica: cada português tem um banco e uma ilha. É certo que é o mesmo banco e a mesma ilha, mas são nossos. Todos os contribuintes são proprietários do BPN e da Madeira. Tal como sucede com todos os banqueiros proprietários de ilhas, fizemos uma escolha: estes são luxos caros e difíceis de sustentar. Todos os meses, trabalhamos para sustentar o banco e a ilha, e depois gastamos o dinheiro que sobra em coisas supérfluas, como a comida, a renda e a eletricidade.
Felizmente, o governo ajuda-nos a gerir o salário com inteligência. Pedro Passos Coelho bem avisou que iria fazer cortes na despesa. Só não disse que era na nossa, mas era previsível. A nossa despesa com alimentação, habitação e transportes está cada vez menor. Afinal, o orçamento gordo era o nosso. Agora está muito mais magro, elegante e saudável. Mais sobra para o banco e para a ilha.
Caro Pedro
ResponderEliminarBoa escolha. O que nos safa é que ainda há quem nos proporcione uns momentos de boa disposição...apesar de tudo.
Abraço
O RAP nunca está mal disposto, Rodrigo.
ResponderEliminarE cultiva o mesmo lema que eu - saudável desrespeito.
Aquele abraço
Um trabalho excelente, na linha do RAP.
ResponderEliminarA única qualidade que o RAP tem é ser benfiquista. Ele deve ter sido mais um de inúmeros que contribuíram com o seu voto para que o país estivesse na situação em que agora se encontra para agora julgar-se no direito de poder gozar com o que está a acontecer. Mais um indignado do burgo. Este, porém, com pinta.
ResponderEliminarO RAP é um tipo com piada, Obsrvador.
ResponderEliminarE com boas análises.
FireHead,
Não sei qual a cor política dele.
Apenas sei que ele é do Benfica.
Próximo de que partido?
Não sei.
Mas gosto de ler as crónicas dele.
Há aí outra para publicar um dia destes.