Uma Assembleia da República demasiado previsível

Para quem não gosta de surpresas, a Assembleia da República é um paraíso.

Ainda não começou o debate que rodeia a votação do Orçamento Geral do Estado e já se conhece o sentido de voto de todos os partidos.

E os fundamentos daquele(s) voto(s).

Os partidos da coligação (PSD e CDS/PP) vão votar a favor.

E fazer aprovar o Orçamento.

Era o mais faltava era os partidos que apresentam o diploma votarem contra o mesmo!

Mesmo os deputados dos partidos do arco governativo que até não gostam muito das contas (os das Regiões Autónomas, por exemplo) vão ter que obedecer à tal da disciplina partidária e aprovar as contas de que não gostam.

Porque tem que se mostrar à troika que nós não somos a Grécia, que voltámos a ser o tal aluno bem comportado que já fomos em tempos.

Precisamente por isso, porque não quer ser conotado com um menino travesso, António José Seguro obriga uma parte do PS a engolir um sapo e a abster-se na votação.

Porque o PS é um partido responsável, alternativa de poder, que não se quer misturado com más companhias (PCP/PEV e Bloco de Esquerda).

Mas, para que o sapo não seja tão difícil de engolir, e tão amargo, o PS vai apresentar umas propostas (o refresco adocicado), que os partidos da coligação vão acolher.

Pelo menos em parte, que há salvar a face ao líder do PS não venha a gente a precisar dele lá mais para a frente (revisão constitucional, por exemplo).

Já o PCP vai votar contra.

Porque o PCP vota contra.

Este Orçamento, ou outro qualquer.

Vai na volta até eram capazes de votar contra um Orçamento que eles próprios apresentassem....

E vai falar na exploração "do nosso povo", do trabalho pelo capital, dos reformados e dos pensionistas, dos banqueiros e dos bancos.

Agora já não é cassette.

É CD.

Mas a música é igual.

Quem também vai votar contra, com grande alarido e muito barulho (fala tão alto!!) é aquela senhora que está há uma data de anos na Assembleia sem nunca ter sido eleita directamente.

Estou a referir-me à "santa Apolónia".

A tal que vai sobrevivendo utilizando para isso a mesma estratégia da rémora.

A rémora agarra-se aos dorso de peixes de grande porte; a Apolónia encavalita-se no PCP.

Voto contra também do Bloco de Esquerda.

Que vai atacar os "lucros fabulosos" dos bancos e vai apresentar um tema fracturante.

Desta vez, a abolição das praxes violentas nas Universidades.

Com uma proposta destas, os credores do Estado português vão já a correr baixar os juros da dívida soberana....

Que sensaboria!!

Demasiado previsível esta Assembleia da República.