Analisando o desempenho individual dos jogadores portugueses utilizados no Mundial

Como tinha ficado prometido, fica a minha visão acerca do desempenho de cada um dos jogadores da selecção portuguesa utilizados no Mundial.

Eduardo

A maior surpresa deste torneio na equipa portuguesa.

Estava convencido que um dos pontos fracos da selecção portuguesa estava na baliza.

Enganei-me redondamente.

Eduardo é um excelente guarda-redes, seguro, personalizado, que transmite confiança à equipa, que tem capacidade de liderança e frieza, aliadas a uma elasticidade invulgar e a uma envergadura física excelente para aquela posição.

Um dos melhores portugueses neste Mundial e um dos que vai, certamente, abandonar o futebol português.

Paulo Ferreira

Paulo Ferreira terá terminado a sua carreira internacional no Mundial sul-africano.

A ser assim, foi um final muito cinzento.

Terceira opção no Chelsea, atrás de Bosingwa e Ivanovic, Paulo Ferreira foi utilizado no jogo com a Costa do Marfim, a sua exibição foi pouco mais que medíocre, acusou falta de velocidade, falta de pernas.

Carlos Queiroz não mais o utilizou, e Paulo Ferreira está claramente no ocaso da sua carreira.

Miguel

O jogador do Valência foi utilizado no jogo com a Coreia do Norte.

Muito mais rápido, muito mais acutilante e fresco que Paulo Ferreira, Miguel não defende tão bem como o jogador do Chelsea.

Ainda assim, depois da boa exibição com os coreanos, parecia ter agarrado o lugar.

Não foi o caso.

Os temores de Carlos Queiroz devolveram Miguel ao banco dos suplentes.

Um dos que tem o futuro muito incerto na selecção.

Ricardo Costa

Uma das grandes surpesas que Carlos Queiroz tinha reservadas para todos os observadores.

Se a sua convocatória já tinha sido surpreendente, a sua utilização foi-o ainda mais.

Ricardo Costa foi utilizado no jogo com o Brasil (a ideia era parar Robinho) e foi totalmente dominado por Nilmar.

Quando se pensava que iria voltar ao banco, onde seria opção para o lugar de central, Carlos Queiroz achou que Ricardo Costa seria a solução ideal para parar David Villa.

Não o foi.

O espanhol ganhou claramente o duelo, marcou o golo decisivo, e Ricardo Costa acabou expulso, ainda que com algum excesso de rigor do árbitro e algum teatro de Capdevilla.

Outro dos jogadores que terá terminado a sua carreira internacional neste Mundial.

Ricardo Carvalho

Também ele terá terminado a sua carreira internacional neste Mundial.

E deixa saudades.

Ricardo Carvalho é um jogador de classe.

E com classe.

Com um sentido posicional invulgar, uma capacidade de desarme impressionante, foi um dos grandes responsáveis pela excelente prestação defensiva da selecção portuguesa.

O central português de maior classe nos últimos 20 anos, acaba a sua carreira internacional em bom plano individual.

Bruno Alves

A souplesse de Ricardo Carvalho contrasta com a impetuosidade, a raça, a força, o espírito indomável de Bruno Alves.

Onde Ricardo Carvalho usa o posicionamento, Bruno Alves usa o físico.

Juntos, formam uma das melhores duplas de centrais da actualidade.

Não é por eles que a selecção nacional abandona o Mundial.

Bruno Alves é que vai, com todo o mérito, abandonar o campeonato português.

Mas não a selecção.

Fábio Coentrão

Quem também vai abandonar o campeonato português é Fábio Coentrão, o lateral esquerdo que Jorge Jesus inventou no Benfica.

Com os tubarões europeus de olho nele, o garoto das Caxinas poderá vir a formar um lado esquerdo terrível com o actual companheiro Angel Di Maria no Real Madrid de Mourinho.

Fábio Coentrão tem a raça das gentes das Caxinas, tem técnica, velocidade, cruza bem, tem um "pulmão" inesgotável, cresceu demais para se manter no campeonato português.

Com Eduardo, as maiores surpresas e os melhores jogadores portugueses neste Mundial.

E pensar que, antes da prova, estava convicto que duas das maiores debilidades da selecção portuguesa eram o guarda-redes e o lateral esquerdo...

Pedro Mendes

Pedro Mendes personifica aquele tipo de jogador que nunca joga mal.

Mas que também nunca é espectacular.

É um jogador discreto, mas eficiente, útil, confiável.

E foi, mais uma vez, tudo isso neste Mundial.

A última grande competição da sua carreira.

O único verdadeiro número "6" dentro desta selecção cumpriu sempre que foi chamado.

Pepe

Um Mundial para esquecer o deste luso-brasileiro.

Desde logo porque Carlos Queiroz teima em fazer de Pepe o número "6" que ele nunca foi.

E que, opinião pessoal, nunca será.

Pepe é um grande central.

Mas não sabe sair com a bola no meio-campo, criar linhas de passe, criar jogo.

Só sabe destruir.

Algo que só pode fazer convenientemente se estiver em boas condições físicas.

E não estava, como seria fácil de prever.

Um lesão gravíssima, seis meses de paragem, não são propriamente os melhores cartões de visita para fazer um bom Mundial.

Queiroz teimou, levou Pepe, pô-lo a jogar com o Brasil e a Espanha.

O balanço desta decisão foi igual nas duas situações - uma substituição "queimada".

Tiago

Depois de uma primeira metade da época completamente apagada, na Juventus, Tiago renasceu em Espanha com as cores do Atlético de Madrid.

Chamado a substituir o lesionado Deco no jogo com a Coreia, agarrou a oportunidade que lhe foi dada com uma grande exibição, coroada com dois golos.

Não foi tão espectacular com o Brasil e a Espanha, mas é um dos jogadores que sai da África do Sul de consciência tranquila, com o ego e o prestígio reforçados.

Raul Meireles

Tal como Raul Meireles.

Também ele fez um bom Mundial, também ele vai abandonar o campeonato português.

Meireles é o jogador português que melhor faz as chamadas transições actualmente.

E um dos melhores a nível europeu.

Também merece experimentar outros campeonatos, fazer o contrato da sua vida.

Formou uma excelente dupla com Tiago.

Miguel Veloso

Dupla que ofuscou Miguel Veloso e remeteu o jovem jogador do Sporting ao estatuto de suplente.

Ao contrário de outros jogadores, que agora estão a terminar as suas carreiras, e a participação na selecção, de Miguel Veloso espera-se muito no futuro.

Basta que, à qualidade técnica, alie alguma concentração competitiva e brio profissional.

No pouco que jogou neste Mundial, Miguel Veloso cumpriu.

Sem deslumbrar.

Ruben Amorim

O que dizer acerca de Ruben Amorim?

Chamado para substituir Nani, pensei que a ideia de Carlos Queiroz era fazer derivar Ruben Amorim para a lateral direita, passar Paulo Ferreira para o lado esquerdo, e fazer avançar Fábio Coentrão para a extrema direita, a posição de origem do garoto quando despontou no Rio Ave.

Não sei se não era essa a ideia, se foi o facto de Fábio Coentrão estar a jogar muito como lateral esquerdo, o que sei é que não percebi minimamente o que queria Carlos Queiroz de Ruben Amorim.

O pouco que jogou, jogou não sei bem em que posição, não sei bem com que funções.

A culpa não foi dele, mas Ruben Amorim passou incógnito neste Mundial.

Se calhar até foi melhor assim....

Deco

Quem não passou incógnito, pelos piores motivos, foi Deco.

Fora de forma, desmotivado, quezilento, em deficiente condição física e psicológica, Deco jogou, muito mal, com a Costa do Marfim.

Envolveu-se em polémicas, publicamente, com o seleccionador, foi afastado da equipa (lesionado??) e acabou a sua participação na selecção portuguesa com uma frase enigmática.

À pergunta se o ambiente na selecção era bom, Deco respondeu "entre os jogadores, é".

E ninguém lhe perguntou mais nada.

Fico à espera que conclua o raciocínio.

Entretanto, estará a preparar o seu regresso ao Brasil para ali terminar a carreira (Flamengo??).

Duda

Um dos maiores erros de casting de Carlos Queiroz.

Duda não tem classe para jogar na selecção portuguesa.

Como se isso não bastasse, Queiroz resolveu que este defesa-médio esquerdo, teria que jogar como um falso extremo....direito.

A prestação no jogo com o Brasil foi deprimente.

O jogador não tem estaleca para a selecção e Queiroz ainda agravou esse defeito colocando-o a jogar fora da sua posição natural.

Danny

Por falar em falta de classe, de estaleca, erros de casting, .....Danny.

Outro jogador que, para além de ser muito fraco, foi vítima da filosofia de jogo de Queiroz.

O seleccionador queria que Danny fosse um falso número "10", misturado com um extremo, capaz de jogar junto às duas linhas e criar desiquilíbrios, servir os jogadores mais adiantados, rematar e ajudar a defender.

Danny deve ter ficado cansado só de ouvir as explicações.

Acabou por não ser nada.

Apenas um grande flop.

Simão

Simão fez um bom jogo contra a Coreia.

No resto do Mundial foi um jogador absolutamente vulgar.

Sobretudo no jogo com os espanhóis.

Ausente, sem classe, sem chama, Simão levará muito poucas boas recordações deste Mundial.

Que me lembre, apenas o golo marcado aos coreanos.

Liedson

Exactamente como Liedson.

O "levezinho" marcou o golo à Coreia.

Nada mais.

E confirmou que, tal como tinha dito a Carlos Caravalhal (lembram-se das desavenças, da discussão?) não sabe jogar sozinho na frente.

Sem um parceiro ao seu lado, Liedson fica perdido no meio das torres adversárias e é pouco mais que inofensivo.

Estreou-se e despediu-se da selecção na mesma prova?

Creio bem que sim.

Hugo Almeida

Avaliação oposta à de Liedson para Hugo Almeida.

O ponta de lança do Werder Bremen, quando foi chamado, prendeu os defesas, marcou, trabalhou.

Estava a ser dos melhores contra a Espanha quando, incompreensivelmente, Carlos Queiroz o mandou sair.

Não compreendeu Hugo Almeida, não compreendeu ninguém.

Só Carlos Queiroz saberá o que queria com aquela susbtituição.

Que poderá ter tido custos muito altos.

Cristiano Ronaldo

Propositadamente, deixei Ronaldo para o fim.

Ronaldo é, na minha opinião, o jogador mais completo da actualidade.

E um dos mais completos que vi em toda a minha vida.

Mas Queiroz, que devia conhecer o jogador do Real Madrid melhor que ninguém, abusou dessa característica do madeirense.

Ele é completo (joga bem junto às duas laterais, com os dois pés, remata bem com os dois pés e de cabeça, é forte fisicamente, é rápido, faz uimas diagonais terríveis, é mortífero nas bolas paradas) mas não joga sozinho.

E, em três jogos (excepção no jogo com a Coreia), foi isso que lhe foi exigido.

Quando Del Bosque disse que a selecção portuguesa era formada por dez jogadores atrás da linha da bola e um deixado à sorte lá à frente, muita gente se apressou a bater no seleccionador espanhol.

Mas não foi isso exactamente o que se passou em três jogos??

Como se já não bastasse essa asneira (deixar Ronaldo sozinho entregue às defesas adversárias), Queiroz ainda lhe pediu que defendesse, que fosse o primeiro defesa.

Ronaldo não rende na selecção porque Queiroz não sabe tirar do craque do Real Madrid o melhor que ele tem para dar.

E tinha obrigação de saber porque o treinou durante muito tempo no Manchester.

Pelo que hoje já ouvi, e li, Mourinho e Jorge Jesus comungam da minha opinião.

Ronaldo tave um comportamento pouco consentâneo com o de um capitão?

De acordo.

Mas (há sempre um mas...) quem é que atribuiu a braçadeira de capitão a Cristiano Ronaldo, claramente ainda imaturo para exercer essas funções?

Pois...

E Figo, que se apressou a criticar Ronaldo, não tem moral para falar.

Por menos disparates do que aqueles que Ronaldo está a aturar, Figo, capitão de equipa, veio publicamente ameaçar que abandonava a selecção porque não estava disposto a peder prestígio.

Ronaldo está revoltado.

Sobretudo porque não gosta de perder nem o jogo que faz na praia com o irmão e os sobrinhos.

Mas não foi arrogante, muito menos mal educado.

E está a aturar os disparates e os dislates de Carlos Queiroz em silêncio.

Outros não tiveram o mesmo comportamento.

Eu quero ter Cristiano Ronaldo na selecção portuguesa.

Mas tenho a certeza que nunca vou ter Cristiano Ronaldo na selecção portuguesa com Carlos Queiroz como seleccionador.