Subsistem (muitas) razões para celebrar


Celebra-se hoje mais um aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974.
Com o país a atravessar um período particularmente difícil, a viver momentos de grande tensão, já me deparei com as mais variadas opiniões que apontam no sentido de este não ser um momento de celebração.
Até opiniões daqueles que pensam que o 25 de Abril não deve ser celebrado, que é uma data triste para Portugal.
Tinha nove anos, quase dez, naquele dia que mudou o destino de Portugal.
E, pouco tempo depois da Revolução, eu e a família fomos vítimas de alguns excessos então cometidos.
Não os esqueci, não os esquecerei, mas não guardo ressentimento ou rancor acerca dos mesmos.
Porque continuo a pensar que, neste dia, sejam quais forem as opiniões acerca do que aconteceu em 1974, o simples facto de as podermos manifestar livremente, é motivo mais do que suficiente para celebrar.


Celebração que fica ensombrada pelo falecimento de Miguel Portas.
Não partilho o seu ideário político.
Mas admirava a sua cidadania, a sua inteligência e cultura, o seu espírito livre, a força das suas convicções, a rectidão e verticalidade do seu comportamento, a sua educação.
Que repouse em paz.

Comentários

  1. Miguel Portas foi um homem de bem.Qualquer pessoa que leia e estude a sua vida e pensamento verá razões para o ligar com o ideal do 25 de Abril.
    Não baixou os braços nem nunca se identificou com as correntes de direita ou de esquerda, embora militasse no Bloco de Esquerda.
    Miguel Portas defendeu o povo português e os valores da liberdade e do respeito.

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  2. Luís,
    Era um homem de convicções e grande cultura.
    Um parlamentar excelente, quer em Portugal, quer no Parlamento Europeu.
    Não há muitos desta estirpe.

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  3. Estimado Amigo Pedro Coimbra,
    Estou 100% de acordo com suas sábias palavras. Eu encontrava-me em Portugal no dia de hoje em 1974, tenho más recordações.
    Quanto aos políticos não comento, lamento a morte de Miguel Portas, paz à sua alma.
    Abraço amigo

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  4. Partilho inteiramente da sua opinão sobre Miguel Portas. Um espírito íntegro e livre. Que repouse em paz.

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  5. Sobre Miguel Portas pouco mais há a dizer do que aquilo que já foi dito.
    Vale a pena corroborar a ideia de que Miguel era um homem de bem.

    Quanto ao 25 de Abril, como me senti feliz nesse dia!
    37 anos depois a sensação é a de que muito se perdeu.

    Mas vale a pena recordar.

    Um abraço. Longínquo mas forte.

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  6. E ainda bem que podemos estar a falar livremente neste espaço! :) Posso não concordar com as políticas implementadas no pós 25 de Abril, e não concordo, acho que foram essas mesmas políticas que nos trouxeram ao estado em que nos encontramos actualmente... Mas o facto de poder estar aqui a dizer que não concordo com essas mesmas politicas deve-se ao 25 de Abril. Um bom feriado

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  7. Amigo Cambeta,
    O 25 de Abril de 74, especialmente os tempos que se seguiram, foi complicado.
    Mas valeu a pena.
    Por muitos motivos.
    Um dos quais, o podermos estar aqui, sem receios, a criticar quem e o que queremos.
    No dia 24 de Abril de 1974 isso não era possível.
    Se mais não fosse, só por isso já teria valido a pena.
    Aquele abraço


    VICI,
    O Miguel Portas era um tipo que eu admirava.
    Bem longe do universo político em que ele se inseria, habituei-me a ver nele um tipo de convicções, de coluna direita.
    E muito inteligente e culto.
    Partiu muito cedo.


    António,
    Lembro o que ele dizia do irmão - "é um tipo muito mais porreiro em privado do que em público" (e depois ria à gargalhada).

    Educado, combativo, assertivo, era difícil não o admirar, independentemente de quaisquer divergências políticas.

    O que é que eu continuo a achar essencial do 25 de Abril de 1974, António?
    Liberdade de pensamento, de expressão, de movimentos; fim de uma guerra que marcou e matou muita gente; possibilidade de muita gente ter uma vida com que antes só sonhava.
    Esses valores mantêm-se.
    Há espaço para melhorar?
    Há sempre.

    Lá vou eu recordar outra frase do Miguel Portas - "só não se arrependem de algumas decisões que tomaram os santos e os estúpidos" (se não é isto, é muito parecido).
    Como tal, há sempre espaço para fazer melhor porque nenhum de nós é santo nem estúpido.

    Forte abraço

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  8. 25 de Abril...Vivi-o por dentro, foram tão grandes nessa idade dos ideais a alegria e a esperança como é hoje a desilusão ao olhar para a sociedade que construimos.
    Miguel Portas, sem analogias do pensamento político, um dos pouquíssimos políticos por quem tinha consideração e respeito. E tantos fdp's que chegam a velhos...Que descanse em paz!

    Falcão Peregrino

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  9. Com o 25 de Abril deixou-se de pensar no "nós" para passarmos a pensar o "eu". O conceito da Pátria tornou-se algo inatingível. Será que o direito à liberdade de expressão se sobrepõe a tudo de mal que aconteceu de há 38 anos para cá? Mal por mal, e atendendo à realidade actual que nos abrange, prefiro mesmo viver num país onde há controlo... e segurança, justiça, princípios e valores. Mas é a minha opinião e ela vale o que vale. Se gostam de ver Portugal sempre na cauda da Europa e fazer manifestações e greves para regar as conquistas abrilescas, é lá com os outros. Portugal só tem o que merece. Infelizmente. E, em democracia, os justos pagam pelos pecadores. Se a maioria não presta - coisa que está comprovada -, os poucos pagam por isso.

    Em relação ao Miguel Portas, não gostava dele por ser de esquerda e também não é por ter morrido que haveria de mudar de ideias. Mas ele era um ser humano como qualquer um de nós e merece o máximo respeito. Que tenha agora descoberto a Verdade que tanto procurou em vida.

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  10. Pedro
    Eu tinha desassete anos e quatro meses, já casada com uma filha de de cinco meses, o meu falecido marido era tropa num quartel em Lisboa que tinha sido Bombardeado em 11 de Março, estava em casa desenfiado, (era assim que se dizia quando vinham a casa sem licença), quando a irmã dele (viúva de um militar furriel morto em Angola)entrou em minha casa e disse "vai embora depressa irmão, houve algo de muito grave com soldados em Lisboa, mas não sei o quê" ele meteu-se no combóio e foi, só no dia seguinte é que tive noticias dele. Também ele foi mobilizado para ir para Angola, fui com a nossa bebé despedir-me dele ao aeroporto, quando vejo a policia militar ir algemá-lo e leva-lo preso, ele olhava para mim e para a filha e gritou bem alto "juro que não fiz nada de mal" senti vontade de morrer naquele momento, mas felizmente era apenas uma simulaçao de prisão, foi a tal irmã dele que tinha bastante influência e pediu para ele não ir para Angola. Recordo-me bem de não poder estar a falar com ninguém na rua se fossemos mais do que três pessoas e muitas coisas mais. Além de muito jovem sofri bem na pele o antes, mas estou a sofrer bastante o presente.
    Quanto ao Miguel, ele tal como eu e o Rodrigo estivemos no almoço de homenagem ao José Tengarrinha vi a emoção do rodrigo ao abraça-lo, nada previa aparentemente um trágico desfecho tão rápido.
    Desculpe a extenção.

    Beijinho e uma flor

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  11. Anónimo (Falcão Peregrino),
    Vejo muita gente revoltada actualmente.
    E pelas mais variadas razões.
    Você, porque o que sonhou em 74 não se cumpriu; outros (o FireHead é um bom exemplo) porque não gostou do aconteceu em Abril de 74.
    Bato na mesma tecla - só o facto de estarem, livremente, a exprimir essas opiniões, diametralmente opostas, não será uma boa justificação para celebrar o que aconteceu em Abril de 74?
    Eu continuo a achar que é.

    Não é preciso alinhar pelo mesmo diapasão, ter a mesma visão, a mesma mundividência, para se admirar uma pessoa.
    Muitas das ideias que o Miguel Portas defendia estão nos antípodas das que defendo.
    Mas era um tipo recto, de convicções fortes, nada votado ao servilismo.
    E eu gosto de gente assim.
    Seja qual for a cor política.


    FireHead,
    A sua opinião é tão válida como qual outra.
    E pode exprimi-la livremente.
    Essa é uma das grandes mais -valias do 25 de Abril de 74.

    "Será que o direito à liberdade de expressão se sobrepõe a tudo de mal que aconteceu de há 38 anos para cá?"
    Prefiro esses males, e foram muitos, do que aqueles que a Adélia conta.
    Sem qualquer dúvida.
    Vamos corrigir esses males?
    Espero que sim.

    "prefiro mesmo viver num país onde há controlo... e segurança, justiça, princípios e valores."
    Todos nós, FireHead, todos nós.
    Essa é a parte do sonho que falta cumprir de que fala o Falcão Peregrino.

    Tal como com o Miguel Portas, eu também não partilho muitas das suas ideias.
    Mas gosto de si exactamente pelo mesmo motivo que gostava do Miguel Portas - você é directo, é corajoso, é frontal, assume aquilo que pensa.
    Obviamente que ninguém se torna excelente só porque morreu.
    Nunca gostei, não gosto nem um bocadinho, por exemplo, do Saramago.
    Isso não mudou pelo facto de ele ter morrido.


    Adélia,
    O seu relato, na primeira pessoa, é precioso e terrível ao mesmo tempo!
    Lamento que tenha sofrido o que sofreu.
    A Adélia e tantos outros.
    E é isso que nós não queremos que volte a acontecer em Portugal.

    O que hoje se sofre em Portugal, não sendo um momento fácil, não tem comparação com esses tempos.
    Estamos a passar por uma crise tremenda.
    Continuo a pensar que vamos sair dela mais fortes, regenerados.
    Para que isso aconteça, pessoas como a Adélia, que passaram por esses momentos horríveis, devem contá-los a quem hoje diz que está em grande sofrimento só porque não pode comprar um carro novo, ir de férias para destinos exóticos, trocar o iPhone, o iPad e o ai porra.

    Quando ouvirem relatos como o seu, vão perceber que o que hoje acham terrível é afinal apenas complicado.

    Beijinho grande

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