Os elefantes que paguem a crise (Ricardo Araújo Pereira, Visão)
Os elefantes que paguem a crise
Espanha está mergulhada numa das mais graves crises da sua história. Perante uma situação tão difícil, o rei fez o que qualquer grande estadista faria e tomou a única decisão possível: foi caçar elefantes para África. Sim, todos os dias o desemprego aumenta e o nível de vida diminui, mas os espanhóis podem estar descansados porque há um paquiderme no Botswana que não se vai ficar a rir. É interessante constatar o modo como a análise económica muda de país para país. Em Portugal, culpamos Sócrates, o BPN, os mercados, as agências de rating. Em Espanha, descarregam nos elefantes da África austral. A crise tem responsáveis cada vez mais inesperados.
A caça ao elefante tem tudo para ser um desporto emocionante. A dúvida
constante de saber se o praticante terá pontaria suficiente para conseguir
acertar num bicho que, além de ter uma excepcional capacidade de se camuflar,
ainda é extremamente irrequieto, deve ser de cortar a respiração. Mas o rei,
habituado a não conseguir obter nada facilmente, aprecia desafios
trabalhosos.
Dias antes da caçada, um neto do rei de Espanha disparou uma espingarda sobre
o seu próprio pé. Trata-se de uma actividade que costuma ser levada a cabo
apenas em sentido metafórico, mas o jovem infante resolveu ser literal e enfiou
uma chumbada no metatarso. Ambos os casos fazem dos Bourbon guerreiros sui
generis. O velho escolhe como alvo um animal que se move com lentidão e pesa
toneladas; o miúdo dá um tiro e acerta no próprio pé. Não admira que tenhamos
ganho tantas batalhas a esta gente. A família que teve a audácia e a valentia
suficientes para subjugar o povo espanhol ao seu poder exibe a vocação genética
para manusear armas que ficou descrita acima. Imaginem o talento do resto da
população para a actividade bélica. É um país inteiro que deve ser dado como
inapto para o serviço militar. Era óbvio que um povo assim só podia produzir
soldados como os que, em Aljubarrota, no ano de 1385, claudicaram perante uma
das nossas melhores profissionais da indústria da panificação. O que é incrível
não é o facto de Portugal ter conseguido resistir às investidas espanholas. É
Portugal não ter organizado um exército composto por meia dúzia de padeiras que
alargasse as nossas fronteiras até França. Era trabalho para duas ou três
semanas.
Ricardo Araújo Pereira
Revista Visão
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Visão
Caro Pedro
ResponderEliminarHumor caustico, mas saudável. Dá sempre prazer lê-lo e reflectir na sua forma muito própria de falar de coisas "Reais" como neste caso.
Abraço
Rodrigo
Dá vontade de cantar o que cantava na minha juventude, Rodrigo:
ResponderEliminarSe um "alifante" incomoda muita gente,
Dois "alifantes"incomodam muito mais;
Se dois "alifantes" incomodam muita gente,
Três "alifantes" incomodam muito mais.
Já percebeu a ideia, não é?
Aquele abraço