Tótó nosôtro tudo hoji abrí nosso coraçám e braço pa recebê vôs


Tótó nosôtro tudo hoji abrí nosso coraçám e braço pa recebê vôs.
Esta expressão do típico dialecto macaense (patuá) resume na perfeição a Macau que eu amo, a Macau inclusiva, aberta a todos, que acolhe quem aqui chega e é rapidamente transformado em filho da terra.
Uma Macau que está cada vez mais sob ataque cerrado de pessoas que em grande parte nem sequer aqui nasceram, de pessoas que aqui aportaram, que aqui refizeram as suas vidas e que agora se julgam detentores de um estatuto especialíssimo e de direitos ilimitados só porque possuem um Bilhete de Identidade de Residente.
Direitos tão ilimitados que vão ao ponto de considerar os que não possuem esse documento verdadeiramente como gwai lo.
Não gwai lo no sentido vulgar do termo, no sentido de estrangeiros, mas num sentido muito próximo da tradução literal (gwai lo = diabos negros).
Está dado o passo que separa um tratamento algo carinhoso da pura xenofobia, do medo ou aversão a estrangeiros.
Está dado o passo que Macau nunca poderia dar.
Macau, cidade de vício e tentação, nunca devia ceder à tentação de caminhar no sentido oposto ao que sempre a definiu e a diferenciou.
Não tem sido assim, há que assumi-lo com frontalidade.
E não será assim se se insistir na ideia descabida e ofensiva de aprovar tarifas de autocarros diferentes para residentes e não-residentes.
Porquê? Porque umas vozes de burro, que acreditem não chegam mesmo ao céu (Pequim), resolveram que assim tem que ser? Porque noutras cidades se faz o mesmo?
Mas as outras cidades não são Macau, não dependem dos não-residentes como Macau depende, não são tão inclusivas como Macau sempre foi e deveria continuar a ser.
O que é que aconteceu à letra e ao espírito da expressão tótó nosôtro tudo hoji abri nosso coraçám e braço pa recebê vôs?

Comentários

  1. Espero que Macau continuo a ter a sua identidade que a distingue dos seu vizinhos.
    Um abraço e continuação de boa semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    O prazer dos livros

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    1. Também eu, Francisco.
      Por isso mesmo é que sou incapaz de ficar mudo e quedo.
      Aquele abraço

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  2. Sempre postagens muito boas :)) Gosto do seu tom irónico :))

    Hoje:- Saudade, com cor e presença.
    .
    Bjos
    Óptima quarta-feira

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    1. Larissa Santos,
      Neste caso há mais revolta que qualquer outro sentimento.
      Descriminação positiva?
      Acho óptimo.
      Negativa, xenofobia?
      Não contem comigo nem esperem que fique quieto e calado.
      Bjs

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  3. Provavelmente esse espírito de inclusão e bom acolhimento de que o Pedro se orgulha de ter conhecido em Macau, ter-se-á indo diluindo ao longo dos anos. O que é pena, de facto.

    Além de outras qualidades de carácter que fui conhecendo e admirando no Pedro, outrossim é essa frontalidade em reconhecer os erros que lavram na cidade que tanto ama e onde encontrou a felicidade. O não tapar o sol com a peneira...não dourar a pílula.
    Obrigada por ser como é, Amigo Pedro!

    Beijinhos

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    1. Uma obrigação de cidadania, Janita.
      Para que esse espírito inclusivo tão típico de Macau, e que faz de Macau um local único, nunca se perca.

      Fez-me lembrar um bom amigo que já partiu e a minha prima de quem falo aqui tanta vez com a expressão "obrigada por seres quem és".

      Beijinhos

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  4. Tenho sérias dúvidas quanto à sanidade mental de muita gente.
    Um abraço

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    1. Sabem o que estão a fazer, António, ora se sabem.
      São é uns grandes sacanas.
      Aquele abraço

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  5. Não estando verdadeiramente "por dentro da questão" dá para entender as preocupações do Pedro, olhando o futuro !
    Filhos e enteados com tratamentos diferentes não dará bom resultados ! :(

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    1. Se fosse ao contrário até fazia sentido, Rui.
      Se fossem os não residentes, que têm menos posses, a pagar menos até fazia sentido e eu era o primeiro a apoiar.

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  6. A desigualdade de tratamento parece ser cada vez mais notória o que não é “bom sinal”.

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    1. Se fosse para beneficiar quem mais necessita era óptimo, Catarina.
      Para prejudicar?
      Pelo amor da santa!!

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  7. Pelo que descreves digo que é de lamentar embora também saiba que quem governa - governa-se e bem nem que as medidas sejam "trumpes":)

    Beijos

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    1. Esta proposta, que tem muitos apoiantes, é (ou devia ser) ofensiva para Macau, Fatyly.
      Há para aqui umas luminárias que a acham brilhante.
      Beijos

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  8. Caro Amigo Pedro Coimbra.
    Lastimo saber sobre esta situação discriminatória.
    Caloroso abraço. Saudações irracionais.
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver, sem ranços, com muita imaginação, autenticidade e gozo.

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    1. Sou totalmente favorável a situações de discriminação positiva, Amigo João Paulo de Oliveira.
      Que é precisamente o oposto desta proposta.
      Aquele abraço!

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  9. Também não estou dentro da questão (exactamente como o Rui), mas a desigualdade de tratamento é mau sinal em todos os países do mundo.

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    1. A desigualdade de tratamento até é aconselhável, Teresa.
      mas no sentido oposto ao desta proposta.
      Neste sentido é ofensiva.

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  10. As injustiças magoam quem reconhece!
    A xenofobia é algo que existe muito, mas em tarifários diferente pode prejudicar um país.

    Beijinho Pedro

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    1. Para além de ser uma proposta ofensiva, xenófoba, é estúpida Adélia.
      Porque Macau precisa dos trabalhadores não-residentes para funcionar.
      Sem esses trabalhadores pura e simplesmente não funciona.
      Quem não perceber isto é pura e simplesmente estúpido e burro.
      Beijinhos

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  11. A herança de hospitalidade deixada pelos portugueses
    está a dissolver-se...
    É, no mínimo, lamentável...
    Por aqui foram muito bem recebidos e invadiram o comércio nacional.´
    ~~~ Beijinhos ~~~

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    1. Herança deixada pelos portugueses em que é marca distintiva de Macau, Majo.
      Como é que estas luminárias que defendem esta proposta não percebem isso???
      Beijinhos

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  12. o que nos diferencia e que é positivo deve ser salvaguardado Pedro !!! é também assim que penso, a diversidade é uma riqueza desde que não prejudique o próximo, e nesse caso, era uma abertura de espírito que esse abrir de braços :)
    Angela

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    1. Explique isso aqui aos que defendem esta e outras propostas semelhantes, Angela.
      Não há traseiro que aguente!

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  13. Acho que isso se passa um pouco em todo o mundo, não só em Macau, só por o que oiço falar, porque não estou bem dentro desse assunto.
    Boa quinta Pedro e que tudo corra pelo melhor.

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    1. Essa é a desculpa esfarrapada que os defensores desta proposta avançam, Mena almeida.
      Sou um gajo estranho.
      Porque gosto de copiar e seguir o que é bom e faz sentido.
      Do disparate fujo com Maomé do toucinho.
      Boa quinta-feira!

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  14. Macau está a viver o mesmo que se passa em portugal, os que chegam são filhos da mãe e os que são de cá são tratados como filhos da P**a.
    Abraço Pedro
    Kique
    https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt

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    1. Mas aqui é o oposto, Kique - os que aqui chegam é que são filhos de um deus menor.
      E o mais curioso é que quem mais ferozmente defende estas ideias obtusas nem sequer é originário de Macau.
      Aquele abraço

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  15. Parece que andam por aí ventos de mudança que não são muito agradáveis.
    Abraço

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    1. E nem são ventos do Norte (Pequim), Elvira Carvalho.
      São sopros de gente que foi acolhida por Macau, aqui prosperou, e agora quer tratar mal outros que pretendem fazer o mesmo.
      Abraço

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  16. Quando soube dessa notícia através do Macau Hoje também fiquei indignado, Pedro

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    1. Confesso que às vezes é complicado viver aqui, Carlos.
      Os mais desprotegidos e menos afortunados é que vão ser sobrecarregados?
      Porra pá, no meu mundo tem que ser ao contrário!

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