A PORTA (Mia Couto)
Era uma vez uma porta que, em Moçambique, abria para Moçambique.
Junto da porta havia um porteiro. Chegou um indiano moçambicano e pediu para
passar. O porteiro escutou vozes dizendo:
- Não abras! Essa gente
tem mania que passa à frente!
E a porta não foi
aberta. Chegou um mulato moçambicano, querendo entrar.
De novo, se escutaram
protestos:
- Nao deixa entrar,
esses não são a maioria.
Apareceu um moçambicano
branco e o porteiro foi assaltado por protestos:
-Não abre! Esses não são
originais!
E a porta não se abriu. Apareceu um negro moçambicano
solicitando passagem. E logo surgiram protestos:
- Esse aí é do Sul!
Estamos cansados dessas preferências...
E o porteiro negou
passagem. Apareceu outro moçambicano de raça negra, reclamando passagem:
- Se você deixar passar
esse aí, nós vamos-te acusar de tribalismo!
O porteiro voltou a
guardar a chave, negando aceder o pedido.
Foi então que surgiu um estrangeiro, mandando em inglês, com a
carteira cheia de dinheiro. Comprou a porta, comprou o porteiro e meteu a chave
no bolso.
Depois, nunca mais nenhum moçambicano passou por aquela porta
que, em tempos, se abria de Moçambique para Moçambique.
Excelente, Caro Pedro
ResponderEliminarO Mia Couto dá-nos exemplos muito viradospara o quotidiano.
Maldito dinheiro!
Abraço
Rodrigo
Rodrigo,
ResponderEliminarMia Couto é um dos meus autores favoritos.
Estou para comprar mais um livro dele (Venenos de Deus, Remédios do Diabo) que ando há muito tempo para ler.
Um tipo genial!!
Aquele abraço
Gosto dos trabalhos de Mia Couto.
ResponderEliminarOs livros e os textos dele lêem-se de um fôlego, António.
ResponderEliminarO estrangeiro em questão era um negro que falava inglês? De África do Sul, será? :P
ResponderEliminarMia Couto é genial, mas infelizmente não é muito popular entre os portugueses.
ResponderEliminarFireHead,
ResponderEliminarNão faço ideia.
Sei que este é mais um dos excelentes escritos do Mia Couto.
Carlos,
Este português é um fã incondicional.
A escrita dele é excepcional!