Ricardo Mutti - O Coro dos Escravos
Em celebração dos 150 anos da fundação da Itália, ocasião em
que a Ópera de Roma apresentou a ópera Nabuco de Verdi, símbolo da unificação do
país, que invocava a escravidão dos Judeus na Babilônia, uma obra não só musical
mas também, política à época em que a Itália estava sujeita ao império dos
Habsburgos (1840).
Sylvio Berlusconi assistia, pessoalmente,
à apresentação, que era dirigida pelo maestro Ricardo Mutti. Antes da
apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno - ex-ministro do governo
Berlusconi, discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura, o que
contribuiu para politizar o evento.
Como Mutti declararia ao TIME, houve, já
de início, uma incomum ovação, clima que se transformou numa verdadeira "noite
de revolução" quando sentiu uma atmosfera de tensão ao se iniciar os acordes do
coral "Va pensiero" o famoso hino contra a dominação. Há situações que não se
pode descrever, mas apenas sentir; o silêncio absoluto do público, na
expectativa do hino; clima que se transforma em fervor aos primeiros acordes do
mesmo. A reação visceral do público quando o coro entoa - "Ó minha pátria, tão
bela e perdida Ao terminar o hino os aplausos da plateia interrompem a ópera e o
público se manifesta com gritos de "bis", "viva Itália", "viva
Verdi".
Não sendo usual dar bis durante uma ópera,
e embora Mutti já o tenha feito uma vez em 1986, no teatro La Scala de Milão, o
maestro hesitou pois, como ele depois disse: "não cabia um simples bis; havia de
ter um propósito particular".
Dado que o público já havia revelado seu
sentimento patriótico fez com que o maestro se voltasse no púlpito e encarasse o
público, e com ele o próprio Berlusconi.
Fazendo-se silêncio, pronunciou-se da
seguinte forma, e reagindo a um grito de "longa vida à Itália" disse RICCARDO
MUTTI:
"Sim, longa vida à Itália mas...
[aplausos]. Já não tenho 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano
que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto
aquiesço ao vosso pedido de bis para o Va Pensiero. Isto não se deve apenas à
alegria patriótica que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu
dirigia o coro que cantava "Ó meu pais, belo e perdido", eu pensava que a
continuarmos assim mataremos a cultura sobre a qual assenta a história da
Itália. Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente "bela e perdida".
[aplausos retumbantes, inclusive dos artistas da peça] Reina aqui um "clima
italiano"; eu, Mutti, me calei por longos anos.
Gostaria agora...nós
deveríamos dar sentido a este canto; como estamos em nossa casa, o teatro da
capital, e com um coro que cantou magnificamente e que é magnificamente
acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para
cantarmos juntos."
Foi assim que Mutti convidou o público a
cantar o Coro dos Escravos.
Toda a ópera de Roma se levantou... O
coral também se levantou. Vê-se, também, o pranto dos artistas.
Foi um momento magnífico na
ópera!
Assistam agora:
Assistam agora:
Muito emocionante.
ResponderEliminarSublime, Catarina, sublime.
ResponderEliminarVeja também o vídeo do bar em Pamplona.
Uma maravilha!!
Admiro a coragem do Mutti em dar a cara. E não poderia ter escolhido melhor obra musical para o fazer.
ResponderEliminarUm grande abraço, meu caro Pedro.
Luciano Craveiro
Luciano,
ResponderEliminarA obra é fenomenal.
A ocasião, o grito de protesto, a coragem, uma fonte de inspiração.
Grande abraço
Pedro,
ResponderEliminarMutti é, além de Maestro, um pensador!
Muito obrigado pela partilha!
Caro Pedro
ResponderEliminarEmbora ao bochechos tenho estado a ouvir esta verdadeira pérola.
Lá para o fim de semana vou ligar à aparelhagem e ouvir com o som que merece.
Obrigado por mais esta.
Abraço
Rodrigo
Arrepia, Ricardo, arrepia!
ResponderEliminarSabe qual a ária que mais me comove, Ricardo?
Vesti La Giubba.
Cantada por Pavarotti, faz pele de galinha.
Esta, e neste enquadramento, é impressionante!!
Veja também o vídeo do café em Pamplona.
Vale a pena.
Aquele abraço
Para mim, Pedro, entre as favoritas tenho "Il mio babbino caro" da ópera de Puccini "Gianni Schicchi" cantado pela Maria Callas, vou cometer uma inconfidência sobre mim, choro sempre que a ouço, como tal, só a ouço em privado.
EliminarApós esta partilha, despeço-me com aquele abraço!
Também entre as favoritas, Ricardo.
EliminarE também capaz de comover.
Um poder que poucas músicas têm.
Aquele abraço
Rodrigo,
ResponderEliminarÉ verdadeiramente emocionante, comovente até.
Uma demonstração do poder terrível que a música pode ter.
Esta ária é lindíssima.
Cantada desta forma, com este sentimento.....é impossível ficar indiferente.
Aquele abraço
Que história fenomenal! Quanto à ópera estou a ouvir e completamente arrepiada, vai ser a minha banda sonora enquanto leio os restantes posts :) Parece-me bem!
ResponderEliminarSe quer continuar arrepiada espreite aqui, Catarina
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=Z0PMq4XGtZ4
Vi ao vivo, quer o Nabuco, quer Il Pagliaci, e é de ficar com uma lágima nos olhos.
Só se se for uma pedra é que não se reage assim.
Já conhecia, porque na altura correu célere pela bloga, mas é sempre bom recordar...
ResponderEliminarCaro confrade Pedro Coimbra!
ResponderEliminarMuito obrigado pelo precioso mimo!!!
Todas as vezes que escuto esta ópera não consigo conter as lágrimas...
Caloroso abraço! Saudações emocionadas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP
Já a tinha guardada para publicação há algum tempo, Carlos.
ResponderEliminarFoi agora.
Lindo demais!
Caro Prof. João Paulo de Oliveira,
A ária é sublime.
Cantada neste enquadramento comove.
Impressionante!!
Aquele abraço