A geração dos políticos profissionais chegou ao poder e isso tem riscos
Por
Ricardo Vieira Soares, Henrique Figueiredo
Carreiras baseadas em cargos de nomeação política, pouca
experiência profissional e fraca autonomia face aos partidos são perversos,
dizem os analistas. Mas as “jotas” também têm virtudes.
Portugal está a assistir às primeiras gerações de políticos
profissionais no poder, oriundos das juventudes partidárias e com reduzida
experiência profissional fora da política. José Sócrates, anterior
primeiro-ministro socialista, Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros
e líder do CDS-PP, e Passos Coelho, actual chefe de governo, todos iniciaram a
vida política na Juventude Social-Democrata (JSD). A JS serviu como alavanca
para António José Seguro, actual secretário-geral do PS, ou António Costa,
presidente da Câmara de Lisboa. Elogiadas por uns e diabolizadas por
outros, as “jotas” são a grande escola dos políticos profissionais, importantes
para o rejuvenescimento dos quadros dos partidos, mas fonte de carreiras
focadas exclusivamente na política, como as descrevem os analistas ouvidos pelo
PÚBLICO. Já os líderes das juventudes reconhecem que existem casos de
carreirismo político, mas defendem o seu contributo para o debate político.
André Freire, investigador do Centro de Investigação e Estudos Sociológicos do
ISCTE, e António Costa Pinto, investigador do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa, estão de acordo num ponto: a profissionalização dos políticos é uma faca de dois gumes.
Freire explica que as ‘“jotas” são “um canal para atrair os jovens para a
participação política e os socializar nos valores da democracia”, mas, por
outro lado, alerta para os perigos do carreirismo político, que Costa Pinto
considera contribuir para “uma
profissionalização acéfala e dependente das direcções dos partidos”.
A história da democracia portuguesa está temporalmente desfasada da de países
europeus com maior historial democrático, explica Costa Pinto. As primeiras
gerações de políticos pós-25 de Abril viveram a juventude em ditadura, com a
participação política marcada pela clandestinidade. Com a democracia, as
juventudes partidárias são uma realidade e torna-se natural a filiação dos
jovens. Assim se explica que muitos dos actuais políticos tenham construído o
seu currículo a partir delas. “É uma inevitabilidade do decurso do tempo”,
comenta Pedro Alves, secretário-geral da JS.
André Freire é da opinião que, “em percursos
exclusivamente feitos na política, os traços negativos tendem a sobressair”,
salientando que os políticos de carreira desenvolvem um “autismo” relativamente
aos problemas da sociedade. “As pessoas sem
experiência profissional revelam um handicap de conhecimento da sociedade e não
podem funcionar como um elo de ligação entre esta, a decisão política e o
Estado”, frisa.
Duarte Marques, líder da JSD, reconhece que há casos de “carreirismo político”
nas “jotas”, mas prefere valorizar a formação política que ali é feita, uma vez
que “os ratos de biblioteca não têm sucesso imediato na vida política e
pública, porque não lidam com pessoas, expectativas e emoções”. Ao invés,
António Costa Pinto alerta para o perigo de quadros políticos profissionais
formados nas juventudes. Este processo “afasta
a decisão política da realidade da sociedade civil”, ressalva o
investigador, que sublinha a diferença entre as realidades nacional e
internacional: “A falta de instrução e
formação dos políticos portugueses face ao panorama internacional, como em
França ou na Alemanha.”
Falta de autonomia
A escassa experiência profissional demonstrada por alguns políticos assume
contornos alarmantes, quando “só serve para
enfeitar o currículo”, nas palavras de Costa Pinto. Para Freire, isto
desemboca numa “falta de conhecimento do
terreno”. Pedro Alves não discorda, mas explica o fenómeno com “menor
exigência em assegurar que uma pessoa tem de ter uma vida profissional”. Para o
líder da JS, “não se pode dispensar uma fatia
da população, para mais a que nos governa, de ter essa experiência profissional”.
Porque, sublinha, “não basta ser bom
militante, bom dirigente e bom ministro”.
André Freire insiste nos perigos da profissionalização dos políticos a partir
das juventudes. As nomeações para gabinetes
ministeriais e para empresas da administração local são os casos mais comuns no
preenchimento do currículo dos militantes das “jotas”. Com a agravante de que a
dependência da vida política “gera um problema de autonomia e independência
face aos partidos”. Uma das explicações para nomeações de quadros das
“jotas” para cargos públicos prende-se, de acordo com Miguel Pires da Silva,
líder da Juventude Popular, com a necessidade de nomear pessoas de confiança
política. “É natural que lugares de
preponderância política sejam ocupados por pessoas de confiança dos governantes”,
afirma, ao mesmo tempo que rejeita o favorecimento injustificado nas nomeações.
O jovem centrista sublinha, no entanto, que “não se deve olhar para os
políticos como seres extraterrestres que têm de ter uma legislação própria e
uma conduta própria”.
Pedro Alves, que além de líder da JS é deputado, aponta a limitação de mandatos
como forma de restringir o carreirismo político, já que “obriga a uma renovação
e que as pessoas não fiquem dependentes da vida pública e política para
sobreviverem”. Já o líder da JSD Duarte Marques é apologista de “medidas para endurecer a responsabilidade política e
criminal dos decisores públicos”, colocando entraves ao aproveitamento
dos cargos públicos para benefício próprio.
Mas a tendência para fazer carreira política a partir das juventudes não é
exclusiva dos partidos de poder. Costa Pinto refere que os militantes dos
outros partidos parlamentares também iniciam a formação dos quadros desde tenra
idade.
André Luz, da direcção nacional da Juventude Comunista Portuguesa (JCP), admite
que uma das finalidades deste órgão é o “rejuvenescimento
dos quadros do PCP”, rejeitando, contudo, a existência de boys no
partido. “Os deputados do PCP não recebem o
salário de deputado, mantêm aquele que recebiam nas funções que desempenhavam
antes de serem eleitos”, recorda.
O BE é o único partido com assento parlamentar sem juventude partidária. Leonor
Figueiredo, membro da coordenação dos jovens estudantes do BE, explica a opção:
“Os jovens estão integrados no partido, somos
militantes como todos os outros e estamos presentes em todos os processos de
discussão.” Para a bloquista, “no BE
vê-se a política como uma forma de activismo e não para promover carreiras
políticas”, acrescentando que “não há qualquer imposição por parte do
partido, não havendo um comité central”.
Militância nas associações de estudantes põe em causa a independência?
O ensino superior é um dos temas mais próximos das “jotas” e a militância
partidária e em alguns momentos penetrou intensamente nas associações de
estudantes. Pedro Alves, da JS, conta que nos anos 80 as associações “assumiam que eram controladas por determinado
partido”. Mas hoje defende que “as
juventudes partidárias não se devem intrometer no associativismo estudantil”.
No sentido inverso, Leonor Figueiredo, do BE, denuncia que “as ideologias partidárias são levadas para dentro do
associativismo”, acusando os dirigentes de serem “entraves” ao seu
desenvolvimento. Pedro Alves reconhece que uma parte considerável dos
estudantes que integram as associações militam nas “jotas”, mas desvaloriza a
situação. “O bichinho da participação política tem uma dimensão viral”,
justifica. Opinião partilhada por Miguel Pires da Silva, da JP. O centrista
refere ainda que “o único interesse que a JP tem nas associações é ajudá-las,
servi-las e dar-lhes voz junto do poder político”.
Duarte Marques, da JSD, contraria o cenário descrito pela bloquista. “As
principais academias de estudantes conseguem manter uma relação de
independência no que toca ao desempenho das suas funções, mantendo na mesma
direcção membros do BE, JCP, JS, JSD e JP”, diz o social-democrata. Acrescenta
que o associativismo “põe o interesse dos estudantes à frente da cor
partidária”. O comunista André Luz reconhece que “o PCP continua a ter muitos
camaradas a participarem em associações do ensino superior”, mas garante que a
pluralidade e independência na representação dos estudantes estão asseguradas.
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Caro Pedro Coimbra
ResponderEliminarEsta é uma questão da máxima importância que nos leva a perceber a redução da qualidade dos políticos de há um bom par de anos para cá.
Recordo muitos dos “velhos” políticos que independente da ideologia que professavam se fizeram políticos com a única ambição de servir o seu País e lutar para “impor” a ideologia que melhor achavam servir o País.
De facto isso passou. Salvo raras excepções que as há, ser politico hoje é uma forma de subir na vida ganhar influência e fazer negócios, se não de imediato, a prazo.
No entanto sou dos que pensa que as palavras de Churchill ainda estão actualizadas “a Democracia é o pior de todos os sistemas à excepção de todos os outros” e sem partidos não há democracia. Espero que os tempos que correm, levem a que a partir do interior dos partidos haja uma valente vassourada nos oportunistas e corruptos.
Abraço
Rodrigo
Rodrigo,
ResponderEliminarEstes carreiristas não me levam a colocar em causa a Democracia.
Pelo contrário, espero que se tome consciência desta chico-espertice e que se assista ao aparecimento de uma nova geração mais bem preparada, menos agarrada ao cartão.
Só o facto de já se ter diagnosticado o mal e se falar nele abertamente já é bom sinal, é um começo.
Aquele abraço
Já não há políticos a sério em Portugal. Para mim até só houve um: Salazar. O resto eram lacaios dele.
ResponderEliminarCaro Pedro
ResponderEliminarNo comentário que fiz de manhã estive para referir alguns nomes de várias areas políticas que povoam as minhas memórias. Um deles era o Eurico de Melo. Não o fiz pela extensão do comentário e para não omitir ninguem. Soube durante a hora do Almoço que este tinha falecido. A lei da vida é incontornável. Nada do ponto de vista ideológico alugama vez me aproximou deste homem. Mas sim o respeito e a forma desinteressada como fez política. Pena que não deixasse seguidores com a garra e a defesa intransigente dos interesses do País como fez.
Abraço
Rodrigo
Caro Pedro Coimbra
ResponderEliminarPeço imensa desculpa. Mas acabei de jantar e vi ao meu mail para acompanhar os comentários. Quase que corri para a casa de banho para vomitar depois de ler o comentários que antecedeu o meu ultimo. Não sei se se trata de algum ou alguma saudosista dos "gloriosos" tempos do Salazarismo. Mas acho que não. É pura ignorância, só pode. Espero que o meu caro seja capaz de esclarecer minimamente o que foi o "Salazarismo" a essa sua (seu) seguidor, sob pena de este post ficar manchado.
As minhas desculpas.
Abraço
Jotinhas? Já disse tudo o que tinah a dizer há tempos no CR. E masi não digo...
ResponderEliminarFireHead,
ResponderEliminarA sua opinião, que já conheço, é respeitável.
Mas, como é óbvio, não concordo minimamente com ela.
Rodrigo,
Eurico de Melo, o vice-rei do Norte, era um bom exemplo de um político no bom sentido da palavra.
E essa característica, o ser um bom político, o ter carácter, não conhece cores partidárias.
O FireHead não esconde a sua admiração pela figura de Oliveira Salazar.
Não concordo minimamente com ele, e com os que seguem a mesma ideia, respeito-a.
Os factos estão aí, Rodrigo.
Toda a gente pode documentar-se sobre o que aconteceu e a História não se pode reescrever.
Depois, cada um que forme a sua opinião.
E nunca peça desculpa por emitir uma opinião aqui, Rodrigo.
No dia em que eu tiver que censurar opiniões que aqui emitam, fecho o estaminé.
Aquele abraço
Carlos,
Conheci tantos!!
Que hoje vejo pavonear-se em cargos para os quais não estão minimamente habilitados.
A grande qualidade que demonstraram foi a fidelidade ao cartão.
admirar Salazar é respeitável??? Que o firehead seja um facho nojento tudo bem (mal!!!) mas tinha o autor do blogue em mais alta consideração.
ResponderEliminarrespeitar quem é a favor da tortura, assassinatos, etc é totalmente errado.
Anónimo,
ResponderEliminarEu não censuro opiniões.
Mesmo aquelas que estão nos antípodas das minhas convicções.
Até hoje ainda não foi necessário fazê-lo.
Se alguma vez for, penso muito seriamente em fechar a loja.
É só isso que significa a minha resposta.
é pena. mas talvez também respeite os pedófilos, violadores e assassinos em série... e isso revela muita falta de fibra moral. quem respeita assassinos não respeita as vítimas!
ResponderEliminarAnónimo,
ResponderEliminarQual é a sugestão?
Quem afirmar que admira Salazar é censurado?
E mais quem?
Qual é a fronteira?
Até hoje ainda não censurei nenhum comentário, nem activei a moderação de comentários.
Espero não ter que fazer uma coisa, nem outra.
Se, e quando for preciso, não terei problemas em o fazer.
Mas espero bem que esse dia não chegue.
Porque, se chegar, o gozo que me dá o blogue, e a blogosfera, ficarão bastante diminuídos.