As críticas de Cavaco


Cavaco Silva condecorou ontem os jogadores e equipa técnica que se sagraram recentemente vice-campeões do Mundo de futebol na categoria sub-20.
E aproveitou a cerimónia para tecer duras críticas ao excessivo número de estrangeiros a actuar no futebol português (aqui).
É difícil não concordar com as críticas que o Presidente da República deixou expressas.
Mais importante que constatar o óbvio (a título de exemplo, o Porto jogou ontem com um jogador português, Moutinho; e tinha outro no banco, Varela) é tentar perceber porque é que isso acontece e, depois disso, tentar obstar a que assim continue a acontecer.
Quando se pensa no elevado número de estrangeiros a actuar nas várias Ligas europeias (não é só a portuguesa....) o pensamento transporta-nos ao célebre Acórdão Bosman do Tribunal de Justiça Europeu.
Um obscuro jogador belga, com base nas previsões de livre circulação de pessoas, bens e capitais no seio da União Europeia, conseguiu revolucinar todo o futebol europeu.
A falta de controlo que já existia até aí, acentuou-se claramente com Jean Marc Bosman.
Os clubes europeus abriram as portas à entrada de futebolistas de outras nacionalidades, de outras proveniências.
E as selecções nacionais foram afectadas.
O sistema de quotas que alguns países mantêm (França), as exigências que outros fazem à importação de jogadores (Inglaterra), acabam por se revelar ineficazes face a uma teia de mediadores, agentes, e à entrada de quantias obscenas no mercado de transferências de jogadores.
Males que afectam os clubes portugueses, à semelhança de todos os outros.
José Roquette, quando era presidente do Sporting, confrontado com a actividade e o papel dos "empresários", respondeu indignado - "Empresários? Quais empresários? Produzem o quê? Comissionistas, senhores, comissionistas!! Ganham comissões em negócios".
E essas comissões querem-se chorudas e rápidas.
Algo que se consegue com a conivência dos dirigentes dos clubes, com regulamentos permissivos, sempre justificados com o supracitado Acórdão Bosman, com a constante circulação de jogadores das mais varidas proveniências.
A formação passa então a ser pouco interessante.
Porque é pouco rentável.
Pelo menos a curto prazo, no imediato.
E os clubes portugueses, que até formavam talentos com alguma facilidade (destaque óbvio para o Sporting) transformaram-se gradualmente em detectores de talentos.
Sobretudo no mercado sul-americano.
Cavaco Silva, que tanto gosta de apontar a sua magistratura de influência, poderia fazer uso da mesma para tentar uma cura, nem que seja parcial, para os males que detecta.
Começando obviamente pela imposição, a nível legal, regulamentar, de uma quota mínima de jogadores portugueses inscritos nos vários clubes.
A começar pelas divisões secundárias.
Uma medida que teria de ser concertada a nível da UEFA (Paltini parece ser favorável à sua implementação).
Não me parece que tal medida violasse o disposto nos tratados em vigor na União Europeia.
Se for, quem tenha opinião diversa poderá sempre recorrer para o Tribunal Europeu de Justiça.
Já houve um Jean Marc Bosman.
Poderá sempre haver mais.
E as decisões do Tribunal até podem ser diferentes.
Porque a interpretação das leis também evolui e se conforma com o desenvolvimento das sociedades.

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