Estou farto

 

Não sou eu quem está farto, é António Costa.

Depois da rábula de ontem deixei de lado as dúvidas que pudesse ter.

António Costa está farto de ser primeiro-ministro.

E quer seguir a sua vida política fora de Portugal.

Politiqueiro que é, que sempre foi, sabe jogar o xadrez político muito melhor que Durão Barroso.

Durão Barroso saiu à pressa, deixou Santana Lopes sentado numa cadeira que queria ocupar mesmo sabendo que podia tombar a qualquer momento.

Jorge Sampaio, hábil, esperou pelo momento certo e entregou o Poder ao PS.

António Costa aprendeu a lição.

E quer obrigar Marcelo Rebelo de Sousa a dissolver a Assembleia da República, marcar eleições antecipadas que sabe que o PS voltará a ganhar.

Talvez até com nova maioria absoluta.

E a oposição, que não chega aos calcanhares de Costa no jogo do xadrez politqueiro, embarca nesta ópera bufa.

Uma oposição, que devia apresentar alternativas credíveis às políticas do Governo, e que afinal se limita a chamar quase diariamente o Presidente da República a intervir.

Fazendo o que António Costa realmente quer.

Marcelo Rebelo de Sousa, o rebelde, o mais politiqueiro de todos os politiqueiros, não se deixa enlear.

E revela-se o que constitucionalmente deve ser - o garante do regular funcionamento das instituições do Estado.

Lembrando os tempos das “forças de bloqueio”, dos governos de iniciativa presidencial, das dissoluções apressadas do Parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa não satisfaz António Costa nem os seus opositores.

Estadista, ou politiqueiro mais hábil, Marcelo Rebelo de Sousa percebe que a dissolução do Parlamento deve mesmo ser a tão afamada bomba atómica política, a arma que só se usará se e quando todas as outras se revelarem ineficazes.

E, mesmo assim, com toda a cautela.

Portugal saiu de umas eleições legislativas há menos de dois anos, outros processos eleitorais se aproximam, há uma maioria absoluta no Parlamento, não há alternativas credíveis à actual maioria, o Presidente da República vai dissolver o Parlamento para quê?

Para o País ficar à espera?

Ainda para mais quando os fundos comunitários estão a chegar e têm de ser utilizados?

O Presidente da República, neste tipo de situação, tem que ser o garante, tem que exercer a conhecida magistratura de influência.

Junto, antes de todos, do primeiro-ministro.

Recatadamente, em privado, sem alarido.

O alarido e o barulho que ontem desgraçadamente se ouviu e ecoou cantado um pouco por toda a parte.

Infelizmente sem engenho nem arte.

Marcelo Rebelo de Sousa, que é conhecido por ser hiperactivo, tem sabido gerir muito bem a situação política conjuntural até agora.

Espero que mantenha esta sensatez e que não se deixe arrastar pelo canto de quem o quer apenas arrastar para o pântano.