The times they are a-changin?

Leio o título do Jornal O Jogo ("Sérgio Conceição tem histórico favorável nas segundas voltas"); recordo a apresentação da candidatura de André Villas-Boas à presidência do Futebol Clube do Porto; as declarações subsequentes de Jorge Nuno Pinto da Costa; o título da balada de Bob Dylan (The times they are a-changin);e desejo que seja isso mesmo que se segue no Futebol Clube do Porto.

Jorge Nuno Pinto da Costa será sempre o homem que transformou um clube do Norte de Portugal num clube de dimensão mundial.

Mas, como tudo e todos, teve o seu tempo.

Um tempo há muito esgotado.

Já não chega o discurso contra mundum.

Está ultrapassado, repetitivo, enfadonho.

Lutar contra os inimigos externos fez o Porto distrair-se dos inimigos internos.

E esses foram crescendo à sombra de um clube que se projectou internacionalmente.

Há muita gente a viver há muitos anos à custa e à sombra do sucesso do clube.

Gente que nada acrescenta mas muito suga.

Gente que foi deixando o clube estagnar e que foi ganhando muito dinheiro com negociatas conseguidas por seu intermédio.

Nestes últimos anos esse fenómeno é ainda mais evidente.

Enquanto os principais rivais arrumavam a casa depois de gestão ruinosa de Luís Filipe Vieira (Benfica) e Bruno de Carvalho (Sporting), o Porto vivia encostado aos milagres que Sérgio Conceição ia fazendo com a equipa de futebol.

E parece que essa ainda é a esperança a julgar pelo título de O Jogo.

Benfica, Sporting, Sporting de Braga, construíram e fizeram render excelentes academias de jogadores.

Um trabalho de paciência e rigor que só dá frutos a médio/longo prazo.

O Porto, que era conhecido pelo modelo de formar, emprestar e integrar jogadores, passou a navegar nas águas revoltas das comissões.

E afundou-se.

Caiu nas garras do fair play financeiro, ficou tecnicamente falido, sem ideias nem rumo que não seja a quixotesca luta contra os inimigos externos.

Está na altura de mudar.

E mudar muito.

A começar nos órgãos sociais do clube e a acabar no modelo de gestão.

Volto a Deng Xiaoping - é preciso abrir as janelas e deixar entrar ar fresco.

Mesmo que também possam entrar moscas.