Grande incêndio de Leiria terá sido planeado em reuniões secretas entre madeireiros (Observador 13/4/2018)


O incêndio que consumiu o Pinhal de Leiria foi planeado um mês antes em reuniões secretas numa cave entre madeireiros. Preços da madeira foram combinados na altura, revela reportagem da TVI24.
O incêndio que consumiu 86% do Pinhal de Leiria entre 15 e 16 de outubro do ano passado terá sido planeado no mês anterior por madeireiros, empresários e fábricas de compra e venda de madeira, avança uma reportagem da TVI24 que foi exibida esta sexta-feira à noite. O plano foi delineado numa série de reuniões numa cave, onde também foram estabelecidos os preços para a madeira consumida.

A Polícia Judiciária já tinha assumido que o incêndio que deflagrou no Pinhal de Leiria em outubro tinha sido mão criminosa. Agora, a reportagem assinada pela Ana Leal revela que “o pinhal estava armadilhado” com vasos de resina com caruma no interior para iniciar as chamas, como contou a jornalista em entrevista na TVI24. Esta terá sido a técnica que atingiu 36 concelhos da região centro. Embora não se tenham registado vítimas mortais na região do Pinhal de Leiria, os incêndios de outubro provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos no país, além de terem destruído 1.500 casas e 500 empresas.

Houve reuniões para planear incêndio e combinar preço da madeira

A fonte da TVI24 foi um homem que terá sido convidado para participar nessas reuniões, que ocorreram na cave de um restaurante e onde participaram pelo menos quatro das maiores empresas de madeira da região. O plano para incendiar o pinhal começou a ser criado em meados de setembro, mas só duas semanas antes é que os participantes se encontraram. De acordo com o homem entrevistado, “houve uma reunião para combinar o preço da madeira e para não oferecer nada pelos lotes do Estado. Porque a madeira está muito cara, está a ver? Se não se comprar ao Estado, ele tem que vender a madeira quase dada. A fonte garante ainda que “todos os madeireiros estão feitos”, ou seja, participaram na reunião.

A liderar este plano estaria um empresário que “até anda a alargar o estaleiro”, conta a fonte da reportagem. Segundo ela, esse empresário terá em sua posse 100 mil toneladas de madeira queimada só em outubro. A reportagem fala ainda de uma empresa que, um mês antes, já estaria a fazer conta com o incêndio e por isso recebeu uma tranche de 500 mil euros para comprar madeira comprada. De acordo com o documento da Caixa de Crédito de Leiria a que a TVI teve acesso, houve de facto uma transferência para essa empresa a 25 de outubro, que terão sido aplicados para comprar dois camiões, dois reboques e uma máquina de arrasto. Entre outubro e dezembro, essa empresa comprou 166 mil toneladas de madeira queimada. No mesmo período de 2016, o volume desce para os 55 mil.

Antes do incêndio que consumiu o pinhal, houve pelo menos 50 tentativas falhados de colocar chamas na floresta. De acordo com a reportagem “Máfia do Pinhal”, o incêndio que se espalhou pelo pinhal começou na Légua “foi mão criminosa e começou a ser planeado logo dia 12”. Foram espalhados vasos de resina em zonas sem pinhal resinado e garrafas de vidro e de plástico embrulhadas em prata com “um líquido preto” combustível por dentro, garantem as fontes da TVI24. Tudo terá sido pensado para que deflagrasse durante a tarde: assim o incêndio tomaria proporções incontroláveis durante a noite, quando os aviões de combate ao incêndio não podem atuar. De acordo com um madeireiro abordado por Ana Leal, o fogo “ardeu na altura certa para quem faz negócio”.

O negócio prossegue ainda hoje. O Estado ainda não colocou em leilões quase nenhuma percentagem do milhão de tonelada queimada que tem em mãos: o primeiro leilão ocorreu em dezembro e nenhum dos grandes compradores de madeira comprou matéria prima. Até agora apenas 3% da madeira queimada foi vendida. Mas esta é uma corrida contra o tempo: daqui a dois meses a madeira ficará azul e em julho já ganhou bicho, por isso deixa de ter interesse para o mercado. Questionado pela TVI, o presidente da Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas diz que este pode ser um bom negócio: “Se o Estado pusesse toda a madeira à venda, o que aconteceria aos privados?”.

Segundo as fontes da TVI, “todas as pessoas com alguma dimensão vão ganhar milhões com isto e todo o pequenino vai ser derretido! Não é já! É daqui a alguns tempos! Essa gente vai morrer toda, porquê? Porque, com a falta de matéria-prima que vai haver, vão ficar completamente trucidados e não têm hipótese nenhuma de entrar no mercado. A maior parte deles têm medo!”.

Em Leiria, as cidades mais afetadas pelos incêndios que consumiram o Pinhal de Leiria foram Alcobaça, onde o incêndio terá deflagrado, Marinha Grande, onde fica a maior parte do Pinhal e Pombal. Os incêndios de 15 de outubro destruíram 190.090 hectares de floresta, que correspondem a 45% da área ardida em todo o ano passado.

Comentários

  1. Não foi há muitos anos que eu pensava que isso nunca aconteceria em Portugal. Esse tipo de atividades criminosas.

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    1. Há criaturas que não merecem estar vivas, Catarina.
      Porque não têm coração, alma.
      Só têm uma carteira para lá pôr dinheiro.
      E para isso acham que vale tudo.
      FDP!!!

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  2. bom dia
    mais um caso de justiça , que nunca vai ser decidido !!
    JAFR

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    1. Não posso aqui reproduzir o que escrevi quando tomei conhecimento desta barbaridade, Joaquim Rosário.
      Envolvia sodomia ... com madeira queimada.
      E mais não digo.
      FDP!!!

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  3. Canalhas !!!!!!!!!

    Não tenho , não conheço palavras que consigam transmitir o que esses patifes são e nem a minha indignação e fúria!!

    E fica tudo impune?!

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    1. Nao pode haver perdão nem contemplações com esta escumalha, São.
      Parece mentira que aconteça algo tão bárbaro.
      É tudo por dinheiro, só por dinheiro.

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    1. Parece impossível haver canalhas deste calibre, Amigo João Paulo de Oliveira :(

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  5. :((( ... No meio disto tudo, há uma coisa que me faz imensa confusão, Pedro. Nós temos Polícia, certamente que também investigadores, temos Ministério Público e temos Justiça a quem todos nós pagamos, certamente que bem !...

    Porque razão tem que ser uma entidade privada de comunicação que se dedica a fundo a investigar estes casos, que ao fim e ao cabo nos são mostrados como facílimos de investigar.
    Claro que me refiro à Ana Leal e à TVI !!!
    PORQUÊ ???...
    Tal como no caso das "Crianças adoptadas pela IURD"! ... Porquê a Ana Leal e a TVI ? ...
    Porque não o Estado, porque não os outros meios de comunicação ?...
    Abraço

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    1. Vou responder curto e directo, Rui.
      Porque a Ana Leal, que parece já terá recebido ameaças por dizer verdades, é competente.
      Tão simples como isso.
      Aquele abraço

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  6. Não entendo essa notícia, todos dizem que a Madeira ardida não tem quase valor algum.
    Abraço Pedro

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    1. Fica muito mais barata para os madeireiros, Mena Almeida.
      Que depois a revendem para ser transformada ou a transformam eles próprios com lucros brutais.
      Julgo que é essa a explicação.
      Abraço

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  7. Não vi a reportagem, sabia da notícia, que não lera, mas li-a aqui neste seu espaço.
    Há dois meses, passei perto do Pinhal, na zona da Marinha Grande, e o pouco que vi, foi uma dor imensa.
    Assassinos.
    E quem de direito não faz nada.
    Até amanhã.

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    1. Estes canalhas não têm perdão e merecem castigo exemplar, Maria Araújo.
      O pinhal de Leiria tinha SETE SÉCULOS, caramba! :(

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  8. Ontem, na TVI 24, estiveram vários madeireiros. Uma tristeza de gente!

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    1. Será que estavam lá alguns dos bárbaros que planearam e perpetraram este atentado, Carlos??
      Seria uma boa oportunidade para os dar a comer aos tubarões no Oceanário.

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  9. Portugal: um país pequeno de grandes negociatas. Estou convencido que a falta de escrúpulos é transversal na nossa sociedade... Estamos rodeados de cápsulas que não pestanejam perante uma oportunidade de obterem dinheiro.
    O mal vem desde o tempo da notinha que instruía um qualquer requerimento ou pretensão. Também, nessa época, havia tubarões, simplesmente os golpes desferidos não eram propalados como hoje, por vigorar então a divisa do "respeitinho".
    O defeito não está nos políticos está na maioria do povo que os critica, e que faria o mesmo se tivesse oportunidade. Toda a gente sabe que o vício da falta de respeito pelos bens alheios é imenso. Até papel higiénico é roubado! Felizmente ainda há gente honesta mas que é avassaladora pela onda da desonestidade.
    A comunicação social não está isenta deste estado de coisas que explora até ao tutano em proveito próprio e também, muitas vezes, desonestamente.
    Abraço.

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    1. O tal civismo, Agostinho.
      O cházinho que, quando não se bebe em pequenino, dificilmente se poderá beber mais tarde.

      Mesmo sem civismo, um acto bárbaro como este é horripilante.
      Há gente que nunca conseguiremos compreender.

      Aquele abraço

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  10. Atingi um estado de "santidade" em que já nada me espanta.:(
    Ouvir as noticias passou a ser um "exercício" para valentes. A questão é saber quem é que não rouba, e olha que não é tarefa fácil!:(

    Beijinho para todos, Família.

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