Hong Kong numa encruzilhada


Na tradição chinesa diz-se que o Macaco de Fogo é por natureza turbulento, irrequieto, complicado.
Foi exactamente assim que se apresentou em Hong Kong.
Os tumultos na zona de Mong Kok só numa visão muito simplista e desfocada da realidade podem ser explicados apenas com a desocupação do espaço público, supostamente ocupado de forma ilegal por vendedores ambulantes.
A detenção nas últimas horas de um destacado membro do movimento Scholarism só vem confirmar as suspeitas que estes tumultos, de extrema violência e a provocarem o caos na ordem pública, terão, até na perspectiva das autoridades de Hong Kong, raízes bem mais profundas.
Muito mais do que um simples episódio de perturbação da ordem pública, estaremos perante mais um momento no longo processo de busca de uma identidade própria por parte de uma grande parte da população de Hong, aliada à rebeldia crescente perante o domínio chinês na Região Administrativa Especial, a nível político e económico.
O honkonger sente que aquela que presumia ser a sua identidade se encontra permanentemente ameaçada pelo gigante chinês.
E revolta-se.
Revolta que não consegue conter, que sente não poder ser apenas expressa em palavras, em slogans, no combate ideológico.
Este turbilhão de sentimentos contraditórios (o honkonger não tolera a presença e a interferência chinesas mas simultaneamente sabe que não pode  sobreviver sem as mesmas) é o caldo de cultura perfeito para a aparecimento de movimentos radicais, de sentimentos radicais, que conduzem ao caos e à desordem.
A Região Administrativa Especial de Hong Kong e a Mãe Pátria estão envolvidas num complexo jogo de paciência sendo neste momento impossível adivinhar o que poderá suceder doravante e se, muito menos quando, terá esta delicada situação um fim.

Comentários

  1. Adivinha-se dias turbulentos nestas paragens.
    Um abraço e continuação de uma boa semana.

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    1. Essa é talvez a única certeza, Franscisco.
      O sossego ainda está muito distante.
      Aquele abraço, continuação de boa semana

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  2. Estes "jogo de olhos" (a ver quem pisca primeiro) ainda vai dar para o torto, Pedro.

    Aquele abraço.

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    1. Confesso que tenho algum receio que um dia destes as autoridades chinesas decidam mostrar o músculo, Ricardo.
      E tenho que confessar que acho o comportamento dos tipos de Hong Kong intolerável.
      Batem nos polícias, batem nos jornalistas, destroem propriedade pública e privada.
      Assim também não.
      Aquele abraço

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  3. Um regime, dois sistemas, O Gigante e o pigmeu (em dimensão), sempre causadores de atritos !
    Deve ser dificílimo conciliar as coisas ! Pontos de vista antagónicos e é no que dá !
    Contudo, não poderá deixar de ser como tem sido !
    Vamos a ver no que dá ! (?)...

    Abraço !

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    1. Aqui entre nós que ninguém nos ouve, a malta de Hong Kong é muito problemática.
      E, em boa verdade, bastante hipócrita, Rui - querem o dinheiro dos chineses, mas não querem lá os chineses que lhes levam o dinheiro.
      Aquele abraço

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  4. Caro Amigo Pedro Coimbra.
    Espero que esta aflitiva situação, que denota conflitos de interesses, seja resolvida a contento.
    Caloroso abraço. Saudações diplomatas.
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver sem véus, sem ranços, com muita imaginação, autenticidade e gozo.

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    1. Não sei mesmo o que esperar em termos de futuro, Amigo João Paulo de Oliveira.
      A minha filha mais velha quer ir estudar para lá a partir do próximo ano.
      E não escondo que tenho algum receio.
      Tenho até receio de ela para lá no domingo.
      Grande abraço

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  5. É bom saber o que se passa pela sua boca, Pedro.

    Aqui, como sempre, mostram as imagens piores e nada de análises.

    Bom resto de semana

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    1. Foi muito feio, São.
      Extremismos que não poderão ter bom fim.
      Não me admirava nada que se começasse a fazer notada a presença do até aqui discreto Exército de Libertação Popular em Hong Kong.
      Bom resto de semana

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  6. Vi uma reportagem sobre os acontecimentos.
    Se eu vivesse por ali, estaria muito preocupado.
    Abraço, Pedro.

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    1. A minha filha quer ir para lá estudar, António.
      Muito provavelmente será já este ano e eu confesso a minha preocupação.
      Aquele abraço

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  7. Eu ainda não escrevi sobre isto, porque estava à espera de ler as opiniões dos meus amigos de Macau. Na verdade, visto de longe, a minha primeira reacção foi muito próxima da sua análise. Li alguns artigos na imprensa estrangeira que estabelecem uma relação causa/efeito também próximas da sua opinião. Resumindo: a minha opinião não difere muito da que exprimi ano passado no CR.

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    1. Tipicamente um caso de crise de identidade, Carlos.
      Que é muito complicado ultrapassar quando do outro lado está o gigante chinês.
      Ainda para mais musculado sob a liderança de Xi Jinping.
      Os honkongers, que o carlos conhece bem, são muito orgulhosos da sua identidade.
      Ou do que julgam ser a sua identidade.
      Que agora vêem constantemente ameaçada pelo papão chinês.
      O tal que não suportam mas sem o qual não podem sobreviver.

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  8. Ouvi qualquer coisa de fugida nas notícias, mas não entendi muito bem. Assim, fica explicado! ;)

    Beijocas e feliz ano do macaco de fogo!

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    1. Com macacadas destas adivinha-se complicado, Teté.
      Beijocas, San Lin Fai Lok!

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  9. Olá Pedro, espero que seja passageiro ! há muito tempo que ouço que "quem semeia ventos, recolhe tempestades"! portanto há que ter alguma calma, é que há sempre quem tente aproveitar-se dos descontentamentos que aparecem por aqui e por ali para "ajudar"

    abraços
    Angela

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    1. Não me atrevo a dizer que é passageiro, Angela.
      Seria fazer futurologia sem o mínimo de bases para isso.
      Abraços

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  10. ~~~
    São problemas que se atenuariam com a democratização

    do governo central e o respeito por uma real autonomia.

    ~~~ Beijinhos. ~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. O tempo, para os chineses, é um conceito muito relativo.
      Essa democratização, se acontecer, só acontecerá quando a China quiser.
      E será muito lenta, gradual, complexa.
      os hongkongers são os primeiros a ter consciência desse facto.
      E é também por isso que se revoltam.
      Beijinhos

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  11. Não li e nem ouvi nada sobre o assunto, mas não deixa deixa de ser preocupante o que aqui relatas que mais ano menos ano terá pela certa as suas consequências.

    Beijos

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    1. Nem sei o que estará para acontecer por aquelas bandas, Fatyly.
      Mas não se adivinha nada de bom.
      Bjs

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  12. Começou mal o ano. E as bolsas a cair e a instabilidade à porta.
    Um abraço e bom fim de semana

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    1. A instabilidade política e social conduz à instabilidade financeira, Elvira Carvalho.
      É muito por isso também que os chineses gostam tanto de harmonia.
      Um abraço, bfds

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  13. Dear Pedro,

    Yes, your analysis is exactly what some people think who they are and where they belong to. Most people would not say this out loud in public that they are Hongkongers (not mainland Chinese) and Hong Kong is their homeland. This is the root cause. Of course, we cannot ignore that fact that HK is a part of China. However, the HKer's hearts are not with the Chinese regime. If HKers are given more democracy and stay away from the control of China (meaning the one-country-two-systems), then I think it should be more peaceful and more acceptable in their hearts of the HKers. However, it is not case since 1997; more and more China influences happened in HK these days.

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    1. Dear Charles,
      We just had a famylli gathering in my house.
      Wish you guys were here.

      Hongkongers are being both naive, selfish and stubborn.
      Naive because if they thought that under Chinese rule democracy would be a given.....think again.
      I believe it will eventually happen.
      Not democracy has we know it in Western nations, but a mitigated form of that.
      That day is still far and will get further and further away if Hongkongers continue to behave like this.
      Selfish and self centered because they keep saying they don't want Mainlanders in Hong Kong......but they want there money.
      The current situation is very disturbing and it's impossible to guess what comes next.
      I can tell you that I just took Catarina to the jetfoil (she's going to Hong Kong today and will come back tomorrow) and I'm ver worried.
      What is happening in Hong Kong is bad for everyone.
      Hope things settle down because the current situation is unbearable.

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  14. Por esta ou por aquela razão, o mundo está cada vez mais cheio de pequenos fogachos. O problema é que esta paisagem começa a ser dominante, não antevendo nada de bom. Aí e em todo o lado.

    Um abraço

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    1. A situação em Hong Kong é explosiva, AC.
      Sendo impossível adivinhar o que o futuro nos reserva parece certo que não será nada de muito positivo.
      Aquele abraço

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