O Papa vermelho

A visita do Papa Francisco fez aumentar o coro de vozes do macartismo eclesiástico.

O Papa vermelho, o Papa comunista, anda a espalhar impunemente a sua doutrina.

Francisco prega o perdão, o despojamento de bens materiais, a igualdade, a justiça social, o direito à diferença, o diálogo ecuménico, a paz.

Heresia, um socialista a dirigir a Igreja Católica.

Curiosamente, quem critica Francisco não percebe o essencial – Francisco prega aquela que é a verdadeira doutrina social da Igreja.

Não da Igreja que vive acumulando riqueza e privilégios, que vive afastada da sociedade, que vive refastelada num mundo de opulência.

Da Igreja que está perto dos pobres, dos desfavorecidos, dos desvalidos, que se preocupa com as minorias, que acolhe e perdoa os que erraram.

Acredito que esta prática seja algo assustadora para quem se habituou a viver impunemente à sombra da riqueza mundana.

Francisco é um homem invulgar, genuíno, simples.

Uma voz respeitada mesmo entre os agnósticos.

Perseguido pelos sectores mais ortodoxos da Igreja, seguido atentamente pelo resto do Mundo.

Vê-lo feliz no contacto directo com as pessoas, a reconhecer corajosamente erros que a Igreja tem vindo a cometer, é um colírio para a alma de um Planeta cansado de discursos gastos e mentiras.

Aqueles que admiram Francisco, a sua postura, a sua prática, só temem o pós-Francisco.

Quem lhe suceder dará seguimento aos seus ensinamentos ou voltará a tempos de antanho?