As lições do Chile



Já estão à superfície os 33 mineiros que estavam retidos há mais de dois meses, a uma profundidade de mais de 700 metros, numa mina em San José, no Chile.

Luís Urzúa Iribarre, de 54 anos, foi o último a ser resgatado.

Incógnitos até ao momento em que aconteceu o acidente na mina em San José.

Oficialmente mortos nos dias que se seguiram ao acidente.

Milagrosamente sobreviventes, lutadores, resistentes, heróis, estrelas.

Foi neste turbilhão que estes 33 homens viveram neste espaço de tempo.

Segue-se agora uma outra fase.

Não menos complexa que as anteriores.

A da adpatação a uma nova vida à superfície.

Com a mina que os tragou definitivamente encerrada, falida.

E com os seus responsáveis desaparecidos.

O que é que o Chile afinal nos ensinou?

Antes de mais, que nunca se deve desistir.

Por mais terrível que seja o cenário.

Que, quando não se desiste, a capacidade de resistência do Homem é extraordinária. Provavelmente vai muito além do que a ciência conhece.

Que essa mesma ciência, e a tecnologia, quando postas ao serviço de causas nobres, deslumbram, conseguem unir o Mundo.

A operação de resgate é também, em grande medida, um triunfo da ciência.

E do trabalho em equipa.

Que o Homem se transcende, e se surpreende, quando colocado perante situações - limite.

A operação de resgate, a princípio considerada impossível, foi depois considerada como muito complexa.

E foi-o, sem sombra de dúvida.

Passou depois a ser considerada como talvez possível de se realizar.

Mas nunca antes do final do ano.

Afinal, de surpresa em surpesa, foi concluída, e com total êxito, ontem.

Acima de tudo, o Chile ensinou-nos, ou relembrou-nos, que, quando o Homem quer, a obra acontece.

Mesmo a mais inverosímil, a que parece impossível.

Neste momento, depois de vermos as imagens que nos chegam de San José, estamos todos emocionados.

E todos lembramos estas lições.

Por quanto tempo?

Muito provavelmente, por muito pouco.

Também muito provavelmente, só serão relembradas quando numa outra mina, num outro Chile, outra tragédia acontecer.

Mas, do Chile, veio o melhor do Homem e o pior do Homem.

Onde estão os responsáveis pela mina?

Desaparecidos depois do acidente.

Fugidos.

O que vai acontecer aos mineiros de San José?

Não só aos 33 agora socorridos, mas também aos restantes trabalhadores.

E às suas famílias.

A alegria, a emoção, não nos podem fazer esquecer a outra tragédia que se foi desenrolando a par com esta.

Menos mediática, mas não menos grave.

A tragédia de quem perdeu o seu emprego.

O emprego que assegurava a sua sobrevivência.

E a das sua famílias.

E essa tragédia, agora à superfície, pode revelar-se muito mais complexa de enfrentar para os mineiros agora resgatados do que aquela que viveram na prisão da mina.

Trazer os mineiros à superfície, para os encarcerar numa outra prisão, apenas mais arejada e iluminada, seria uma crueldade infame.

Que não seja esta também uma das lições do Chile.

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