Mais uma crónica de uma morte anunciada

Lucília Gago está a prazo como Procurador Geral da República, já todos o percebemos.

E acredito que todos desejamos.

Lucília Gago foi, desde o início, um erro de casting demasiado evidente.

Poderá ser uma excelente Magistrada, é uma péssima Procuradora.

Sem capacidade de liderança, com uma gritante incapacidade de aceitar qualquer crítica, muito mais de fazer a mais pequena auto-crítica, Lucília Gago exibe publicamente uma enorme vaidade, e até alguma arrogância, no exercício de um alto cargo público essencial para o bom funcionamento da Justiça.

Lucília Gago substituiu no cargo a anterior titular, Joana Marques Vidal.

E substituiu Joana Marques Vidal simplesmente porque era uma pessoa de confiança da anterior Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem.

É esta relação de confiança, esta amizade, que está na base da proposta de António Costa para a nomeação de Lucília Gago.

Uma proposta que Marcelo Rebelo de Sousa aceita sem qualquer reserva.

É bom ter memória e não esquecer quem e como é responsável pelo desastre que foi a nomeação desta Procuradora.

A mesma memória que nos deve fazer recordar que o Ministério Público, como o conhecemos, é uma das conquistas de Abril.

Uma magistratura independente do poder político, hierarquizada (Lucília Gago esqueceu sempre este facto…), cujo desenho constitucional resultou de um entendimento político entre PS e PSD.

Que delegaram a tarefa de traduzir esse acordo na prática em duas das suas grandes referências - Almeida Santos e Barbosa de Melo.

Quase cinquenta anos depois, é bom que a memória não desapareça com o desaparecimento físico dessas pessoas.

E que haja espaço para novos entendimentos políticos fundamentais para reformar algumas áreas de funcionamento de uma magistratura essencial num Estado de Direito democrático.