O tolo no meio da ponte

Tenho de confessar que nunca como agora, e em matéria de leis de segurança nacional, me senti tanto como o tolo no meio da ponte.

Sempre estive convencido, e continuo a estar, que Macau é um local seguro e patriota.

Não conheço ninguém que ponha em dúvida a soberania da China, que ponha em causa o País, que queira subverter o sistema.

Até mesmo os mais críticos desse sistema, que dão a cara, que são conhecidos, são patriotas.

Alguns foram até causa de fortes dores de cabeça para a Administração no período anterior a 1999.

Essa característica de Macau reflecte-se no facto de a actual legislação relativa à segurança do Estado nunca ter sido aplicada.

Então porque é que se tem que rever esta legislação?

Respondem as autoridades que estamos perante novos perigos.

Quais?

Sinceramente não consigo perceber.

Tenho a felicidade de ter muitos amigos.

Das mais variadas nacionalidades e etnias.

Nunca passou pela cabeça de nenhum de nós iniciar um movimento de subversão, uma revolução.

Esses perigos estão escondidos?

Onde?

Como?

A população de Macau preocupa-se apenas em garantir uma vida tranquila e sossegada para a sua família.

E com questões de distribuição justa da muita riqueza existente.

Nada mais que isso.

As opiniões políticas são deixadas para tertúlias de mesas de café.

Porque, como escrevia o poeta, não há machado que corte a raiz ao pensamento.

Se estiver errado, se não for assim, por favor esclareçam-me para eu deixar de me sentir como o tolo no meio da ponte.