Macau enfadonho

 

Macau de repente ficou um local enfadonho.

Os dias repetem-se, insistem em ser iguais, as fronteiras outrora sempre abertas fecharam, o mundo subitamente encolheu.

E as ideias, o debate, a diversidade, hibernaram não se sabe para onde e até quando.

Monotonia monocórdica, repetição incessante de slogans sem sentido nem sentimento, esta não é a Macau que aprendi a amar pouco depois de aqui chegar há já 26 anos.

E não é a Macau Ou Mun, Ao Men, a cidade de portas abertas.

É a antítese disso, do que sempre foi, da sua essência.

Culpa da pandemia, ouve-se incessantemente.

Mas a pandemia veio para ficar.

E a Macau do presente não pode ser a Macau do futuro.

Porque a Macau do presente não tem futuro.

A ansiedade e o tédio crescem, a paciência diminui, a harmonia pode perigar.

É nestes momentos que são necessárias lideranças fortes, corajosas, arrojadas.

Que infelizmente não se vislumbram.

Gestores de um status quo pastoso não sabem colorir um dia a dia cinzentão.

Este será mais um Inverno do nosso descontentamento.

Sem perspectiva de Primavera romântica nem de amanhãs cantantes.