Eu, ingénuo, me confesso


Ontem foi (mais) um dia negro para a Assembleia Legislativa de Macau.
O que se temia, se adivinhava no ar, mas não se queria acreditar ser possível, acabou por se concretizar.
O mais jovem deputado de sempre vê o seu mandato suspenso e a sua imunidade parlamentar afastada para ser julgado por um crime de desobediência qualificada.
Um crime que resulta da participação numa manifestação pacífica e da recusa em obedecer ao percurso definido pelas forças policiais.
Não estamos na presença de factos graves, de crimes de sangue,  de violência, de corrupção, nomeadamente de corrupção eleitoral.
Não, Sou Ka Hou (Sulu Sou) não obedeceu ao percurso que as forças policiais impunham e atirou aviões de papel na direcção da residência oficial do Chefe do Executivo.
E por isto vai enfrentar a Justiça.
Qualquer um teria que enfrentar a Justiça na mesma situação como se ouviu argumentar?
Mas Sulu Sou não é qualquer um.
Sulu Sou é um deputado eleito pela população, dos poucos eleitos directamente pela população, que vê o seu mandato suspenso pelos seus pares.
Ingenuidade a minha que ainda tinha esperança que os parlamentares, na hora da votação, percebessem que se hoje é Sulu Sou, amanhã poderá ser qualquer um deles a estar na mesma situação.
Vinte e oito deputados não perceberam isso (não quiseram perceber?) e abriram um precedente de consequências imprevisíveis.
Os outros quatro (é fácil perceber quem são apesar do voto secreto) terão a consciência tranquila.
Tranquilidade que é coisa que esta decisão abalou de maneira quiçá irreparável.
Tranquilidade e confiança, esta última muito provavelmente ferida de morte.

Comentários

  1. Inacreditavel! Falta de consciência política.
    Tristeza...
    Mor

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  2. Fui votar em Setembro mas nunca mais me apanham lá. Que vergonha

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    1. Eu não fui votar porque não estava cá, Hugo.
      Se estivesse, tinha ido.
      Compreendo a desilusão.
      Mas não votar não resolve o problema.
      Votar e ajudar a eleger os "desalinhados" é o pior castigo para quem se julga os tais donos disto tudo.
      Aquele abraço!

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  3. We also here are facing almost same messy situation in politics these days ,the whole nation is facing crises because of these selfish bunch of people .
    i wonder when the day will come when common men will be aware of their power of unity over these stupids and discard them

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    1. People that bother the system to be pulled away after being elected is inadmissible and revolting, baili.

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  4. Com aviões de papel se derrubam tiranias.
    Abraço.

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    1. Parece que não, Agostinho.
      Quem tombou foi o garoto.
      Aquele abraço

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    1. Eu ainda queria acreditar que não iriam tão longe, Francisco.
      Fui ingénuo.
      Agora acredito que são capazes de tudo.
      Aquele abraço

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  6. Bom dia. Corrupção eleitoral, existe sempre :) Tristes!!


    {Hoje no nosso blogue:-Até que a vida nos separe.}

    Bjos
    Óptima Terça-feira

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    1. Mas o garoto nem é acusado de um crime dessa gravidade, Larissa Santos.
      E os factos até são algo infantis para se lhes dar dignidade criminal.
      Bjs, uma óptima terça-feira também

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  7. Respostas
    1. Nem nada que se pareça com isso, Diana Fonseca.
      Estou muito decepcionado e triste com esta situação.

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  8. Que disparate!

    Por coisas bem graves deixam-nos ficar e por algo sem importância deixam-no cair...

    Realmente , é para não ter confiança no bom senso dessas criaturas!

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    1. Mas é que é isso mesmo, São - será que estes factos legitimam tanto alarido e medidas tão drásticas?
      A resposta parece-me óbvia.

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  9. De e para que serve o povo eleger o seus representantes? Para fingir que a democracia existe?
    Triste!
    Um abraço

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    1. Já são poucos a ser eleitos directamente, António.
      Se, mesmo assim, ainda são descartados, dá mesmo vontade de perguntar se vale a pena ir votar.
      Aquele abraço

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  10. Como lamento! Uma democracia a fingir ( e quantas mais o não são?) Temo por aquilo que lhe poderá acontecer.

    Belo texto, Pedro,para uma realidade tão triste.

    Beijo.

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    1. Macau não é uma democracia, Graça.
      Bem longe disso, sobretudo se entendermos democracia por um homem, um voto.
      São poucos os deputados eleitos directamente pelo povo.
      Se, mesmo esses, forem afastados desta maneira, é uma palhaçada.
      Beijos

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  11. Postagem boa para quem vai volta em 2018, antes procure saber quem é quem, obrigado pela visita.
    Blog:https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br/
    Canal:https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM

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    1. Repare no comentário do meu amigo, Hugo, Nequéren Reis.
      É assim que se afasta a participação das pessoas.

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  12. E assim se elimina a concorrência
    Abraço
    Kique
    https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt

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    1. Mais que concorrência, as vozes incómodas, Kique.
      Aquele abraço

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