Mário Soares (07/12/1924 - 07/01/2017)
Mário Soares foi ontem a sepultar em Lisboa.
Nestas ocasiões é de bom tom fazer o elogio público do falecido, recorrer ao discurso laudatório, ao panegírico, para louvar a pessoa falecida.
Não é essa a minha maneira de ser, não é esse o meu procedimento, não será isso que Mário Soares merece, não seria isso que certamente quereria.
Mário Soares não merece nem o elogio falso e hipócrita, nem o insulto vil e torpe.
Homem polémico, como o são todas as figuras públicas marcantes, goste-se da pessoa em causa ou não, Mário Soares terá o seu nome inevitavelmente ligado à História de Portugal dos últimos quarenta anos.
Nunca votei em Mário Soares, nunca votei no Partido que Mário Soares fundou, reconheço no seu percurso de vida, e no seu percurso político, muitos méritos e muitos erros.
Pura e simplesmente porque Mário Soares era humano.
E, como qualquer ser humano, fez coisas muito acertadas mas também cometeu muitos erros.
Não se santifique a pessoa, algo que ele próprio nunca procurou, nem se diabolize a figura e o seu legado.
Saibamos ter o distanciamento suficiente para tentar perceber os seus méritos e os seus defeitos.
Tendo a certeza que se deve a Mário Soares, e a outros como ele, a possibilidade de fazer esse juízo em liberdade, publicamente, sem receio de perseguições, de juízos incriminatórios sumários.
Não esquecendo os erros que cometeu, também não esqueço que, mesmo nesta Macau onde vivo, posso exprimir livremente as minhas opiniões em grande parte graças à acção política de Mário Soares e de outros que com ele sempre souberam elevar a liberdade de pensamento e opinião a valor supremo.
Que repouse em paz.
Na mouche, meu amigo, como sempre. Chamar-lhe "Pai da Democracia" quando tantos outros também tiveram crédito no processo é um injusto, ainda por cima quando o próprio esteve envolvido em tantos casos obscuros...
ResponderEliminarApesar de não ser admirador dele, reconheço que teve um papel importante na história do País. Que descanse em paz.
Aquele abraço!
Anónimo,
EliminarO que tenho visto e ouvido nos últimos dias são reacções apaixonadas, sentimentos exacerbados, num sentido e no outro.
Era bom procurar ser mais racional, menos emotivo, para perceber quem foi a pessoa, quais as suas qualidades e defeitos.
Que to o ser humano tem mas que se tornam mais visíveis quando há uma exposição pública constante ao longo de mais de quarenta anos.
Que repouse em paz.
Aquele abraço
Também nunca votei nele mas reconheço que foi um grande politico, e fazem falta no panorama politico nacional e internacional pessoas como Mário Soares quer se goste ou não.
ResponderEliminarUm abraço e boa semana.
Andarilhar
Vozes incómodas são sempre necessárias, Francisco.
EliminarSoares foi, entre muitas outras coisas, uma voz incómoda.
Aquele abraço
Pensava que depois de morto seria o São Pedro a fazer julgamentos. Quem somos nós para julgar as medidas que teve de tomar em épocas tão conturbadas, sem sabermos o que se passava? Agradeçam-lhe apenas o podermos dizer o que pensamos e os que por ai andam o que também ganharam com isso.
ResponderEliminarMas quem está a julgar seja o que for, Anfritite?
EliminarOpinar é uma coisa, e isso todos podemos e devemos fazer.
Muito graças à acção de Mário Soares.
«Nunca votei em Mário Soares, nunca votei no Partido que Mário Soares fundou, reconheço no seu percurso de vida, e no seu percurso político, muitos méritos e muitos erros.
ResponderEliminarPura e simplesmente porque Mário Soares era humano.»
Nem mais, Pedro, no ponto certo.
Aquele abraço, meu caro.
Em vez de pensarmos se gostamos ou não devemos olhar com alguma frieza os factos, Ricardo.
EliminarAs paixões nestes momentos podem turvar a razão.
Aquele abraço
Goste-se ou não de alguém, quando esse alguém morre, o mínimo que lhe é devido é respeito. Muitos outros também terão tido um importante papel na instituição da democracia portuguesa e estou certa que o mérito lhes foi ou será reconhecido, mas acho triste que haja quem não reconheça o papel e importância da figura de Mário Soares e aproveite ainda a sua morte para dele escarnecer.
ResponderEliminarOs insultos que tenho visto são incríveis.
EliminarCusta perceber tanto ódio.
E para sempre será recordado!
ResponderEliminarBeijinhos
Não tenho dúvidas disso, Chic'Ana.
EliminarMário Soares tem um lugar muito próprio na História de Portugal.
Goste-se ou não é essa a realidade.
Beijinhos
Ter o "distanciamento suficiente para tentar perceber os seus méritos e os seus defeitos" é uma tarefa que nos torna melhores enquanto seres humanos.
ResponderEliminarConcordo, Pedro, com tudo o que exprime no texto.
Entre o bom e o menos bom, Mário Soares foi fixe. A ele se deve a liberdade. Não apenas mas principalmente a ele.
Que descanse em paz.
Abraço
Até o que aqui estamos todos a escrever livremente, António.
EliminarQuem duvidar disso é pura e simplesmente negacionista.
Aquele abraço
O seu texto, caro Pedro Coimbra, está com peso e conta na medida certa.
ResponderEliminarUm abraço e obrigado pela sua fiel balança.
Tento ser justo com alguém que, não fazendo parte das minhas escolhas políticas, teve méritos que não se podem negar e que até permitem aos que dele não gostam que o digam em público e livremente.
EliminarAquele abraço
Subscrevo na íntegra os eu lúcido e justo texto.
ResponderEliminarGrato abraço por ser meu amigo, ainda que só por aqui
É um privilégio ser seu amigo, São.
EliminarAinda que só amigo virtual.
O que eu nao gosto ê que depois de morto se elogie as pessoas quando em vida os abominamos.
ResponderEliminarDoucomo exemplo o meu pai que foi uma boa besta para todos nós, nunca poderia dizer que foi um bom pai. Assim entendo ser a pessoa integra que julgo ser. Nao sou hipócrita.
Não acho que Mario Soares tenha tido um final de vida consciente da sua posiçao na sociedade. Mas respeito a sua partida
Kis:=>)
AvoGi,
EliminarEssa é uma mania muito portuguesa - todos os mortos passam a ser santos.
Não, não o foram em vida, não o são depois da morte.
Nem nunca o quiseram ser.
Bjs
Eu não teria escrito melhor, subscrevo na íntegra este magnífico texto.
ResponderEliminarObrigado pelas suas simpáticas palavras, Manu
EliminarCaro Amigo Pedro Coimbra.
ResponderEliminarNeste momento de comoção nada melhor do que separar o joio do trigo.
Parabenizo-o pela racional análise sobre um homem público que deixou marcas indeléveis entre nós alvissareiras e desfavoráveis.
Caloroso abraço. Saudações compungidas.
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver, sem véus, sem ranços, com muita imaginação, autenticidade e gozo.
Todas as pessoas com uma vida pública tão longa e tão intensa como foi aquela que teve Mário Soares são polémicas e cometem erros, Amigo João Paulo de Oliveira.
EliminarMário Soares fez muitas coisas muito bem feitas, cometeu muitos erros.
Cada um que faça o seu balanço.
Mas que procure ser lúcido ao fazê-lo.
Aquele abraço
De tudo o que já li escrito sobre Mário Soares, na blogosfera (já que desisti do FB, e ainda bem) este texto é o único que reflecte tudo o que penso e sinto.
ResponderEliminarParabéns Pedro, pela isenção pela reflexão lúcida e justa. Outra coisa não seria de esperar, vinda de si.
Beijinhos
A Janita enche-me de mimos.
Eliminarbeijinhos para si
Absolutamente de acordo. Alguns panegíricos têm sido excessivos e disparatados, parecendo que ele fez o 25 de Abril sozinho(?!?), mas ai de quem discorde. No mínimo, o que levei pela frente foram insultos de ignorante e ingrata, entre outros piores. Mas pronto,isso também não me tira o sono...
ResponderEliminarQuanto a ele, que descanse em paz, como desejo a toda a gente, conhecida ou desconhecida.
Beijocas
Mário Soares foi UM dos pilares do sistema democrático em que vivemos, Teté.
EliminarObviamente não foi o único.
Foi o mais importante?
Cada um terá a sua opinião acerca desta polémica.
Uma polémica que me parece absolutamente estéril e despropositada.
Beijocas
Inteiramente de acordo.
ResponderEliminarAqui em casa, votou-se Mário Soares, gostou-se dele mas também se lhe foi "apontado" os erros.
Mas não deixou de ser uma pessoa querida.
Beijinho
Nem santo, nem vilão, caramba.
EliminarSerá assim tão complicado perceber isso?
Beijinhos
Claro que ele cometeu erros. Só não erra quem nada faz. Mas o saldo é muito positivo. Que descanse em paz
ResponderEliminarUm abraço
Precisamente, Elvira Carvalho.
EliminarTemos aqui bons exemplos dessa realidade em Macau - não mexem uma palha com medo de errarem.
Para que é que servem então?
É que mesmo para flor de jarra não têm grande aspecto...
Um abraço
Concordo em absoluto.
ResponderEliminarGostei muito.
bjs
Obrigado, papoila.
EliminarTento ser isento e objectivo nas minhas análises.
Umas vezes consigo, outras nem por isso.
Como Mário Soares - cometeu erros, fez coisas muito boas e acertadas.
Bjs
Concordo. Foi um grande homem de cultura, de força, de luta pelos seus ideais!
ResponderEliminarAs cerimónias fúnebres estiveram bem ao nível!
Beijinho, Pedro.
Gostei do respeito e da elevação que marcou as cerimónias fúnebres.
EliminarPode-se discordar da pessoa falecida, ter até com essa pessoa grandes divergências políticas, mas deve-se saber respeitar a sua memória.
Beijinhos
Revolta-me a leviandade na maledicência.
ResponderEliminarMário soares há vários anos que já era alvo de vilanias relacionadas com ataques à pessoa privada em meios de comunicação social como o facebook ou a internet. Enquanto os que morreram cedo- como Álvaro Cunhal ou Sá Carneiro - foram elevados quase a figuras intocadas,míticas, perfeitas - santos. Os que vivem e morrem de avançada velhice ou são mais próximos dos seus semelhantes, são facilmente desrespeitados.
É uma decepção ver que a sociedade portuguesa tem tantos indivíduos que só isso sabem fazer e cuja utilidade pessoal, às tantas, não vale nada. Não fazem e criticam quem tenta fazer. Insultar é a única coisa mais ativa que fazem na vida. E se é para isso que evolui a sociedade portuguesa, então que faleça.
Mário Soares não era um malvado, não era um santo.
EliminarE tem andado a ser retratado nesta dicotomia sem sentido, Portuguesinha.
Fez muita asneira, fez muitas coisas muito boas.
Como qualquer ser humano.
Pedro, eu penso que há pessoas que perderam tudo, penso ao meio milhão que deixaram as colónias sem nada, uma vida de trabalho, deles, dos seus antepassados,
ResponderEliminarsão sobretudo essas pessoas que acusam os políticos da altura de os terem abandonado, arruinado e empobrecido,
deve ter sido um choque imenso para esses refugiados nos anos '70.
e essa fase da vida politica portuguesa ainda não foi bem explicada, poderiam os politicos portugueses ter feito algo diferente? uma vez que já tinham "aguentado" essa guerra injusta para ambos os lados durante uns treze anos ?! com a comunidade internacional contra o país, com os interesses que havia ?! há épocas em que os país por mais que queiram, já não podem dizer que não, e isso pelo que me parece não foi assumido ?! ou talvez não seja possível assumir ?!
como acontece com qualquer ser humano
abraço Pedro
Angela
Tenho amigos e familiares que passaram por essa situação, Angela.
EliminarMas foi Soares o culpado, o único culpado?
Se formos analisar as coisas com frieza vemos que obviamente não foi assim.
Não sei a que erros se refere,Pedro, mas é óbvio que Mário Soares os cometeu. No dia em que me apresentarem um político que não cometeu erros, vou pensar que ele é Santo e não vou gostar.
ResponderEliminarNão culpem é MS de ser responsável pela descolonizaç~ºao. Só pessoas desinformadas ou mal intencionadas o podem acusar de algo que foi decidido ao mais alto nível militar, sem interferência possível do poder político. E também não o acusem, já agora da cena da bandeira rasgada, ou espezinhada. Foi a PIDE que fez correr essa notícia e um bocadinho de informação é suficiente para derrubar esse mito/boato.
Sim, MS cometeu erros. Um deles foi ter recusado um governo com o PCP e o PRD em 1986, o que abriu caminho à longa noite cavaquista.
Erros políticos, Carlos.
EliminarQue o próprio reconheceu ter cometido, como é normal em qualquer ser humano, ainda para mais com uma vida pública tão rica e tão extensa.
Não me estou a referir ao processo de descolonização (parece que Mário Soares tratou de tudo sozinho) e confesso que nem sei que incidente é esse da bandeira rasgada.
Mário Soares dizia que provavelmente só há uma verdade - a que cada pessoa tem a sua verdade, a sua visão dos acontecimentos.
Era bem que deixassem de endeusar ou diabolizar o homem e seguissem esta lição dele.
Lembrando-nos sempre que, para que cada um possa ter a sua verdade, muito contribuiu a acção política de Mário Soares e de outros que lhe foram contemporâneos.