As Sombras Chinesas e uma famosa visita a Taiwan

Diz-se que, na China, os bonecos animados começaram há dois mil anos.
Algumas autoridades neste assunto dizem que as sombras foram o primeiro tipo de boneco utilizado para teatro, há cerca de mil anos.
As Sombras Chinesas são figuras recortadas tradicionalmente em couro e actualmente mais usadas em cartão liso ou acetato.
 Não são difíceis de fazer nem de manipular e mesmo que sejam construídas sem grande rigor parecem sempre surpreendentemente delicadas quando vistas em sombra.
As figuras recortadas são presas por arames e encostadas a um “ecran ” translúcido no qual incide uma luz.
O movimento dos bonecos é feito por arames ou fios e pode ser visto pelo público do outro lado do “ecran”.
As “Sombras Chinesas” são manipuladas por baixo e por trás, normalmente por uma vara e por vezes por meio de fios.

A visita do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura do Governo de Macau a Taiwan provoca em mim uma associação mental entre o noticiado e o teatro de Sombras Chinesas.
Pequim reservou para as duas Regiões Administrativas Especiais um papel de especial relevo na estratégia de aproximação à ilha nacionalista.
Tudo começa no facto de Hong Kong e Macau serem a montra do acerto do princípio "um país, dois sistemas".
A prosperidade económica, a estabilidade e paz social, a harmonia nas duas RAE's são, na óptica de Pequim, a melhor arma de sedução para atrair a renitente população do outro lado do Estreito.
Mas Pequim não se fica só pela montra.
Nos bastidores, com grande delicadeza de processos, Pequim e Taipé estabelecem acordos comerciais, abrem mutuamente as fronteiras, atraem visitantes, tudo "num movimento que não é visto pelo público do outro lado do ecran".
O que é mostrado ao público, é um movimento ensaiado ao pormenor, que não admite falhas, no qual a teatralização tem de ser perfeita.
E noticia-se que Cheong U vai inaugurar uma exposição de pintura, vai estar presente num evento promocional num centro comercial, tudo para promover a semana de Macau em Taiwan.
Esta é a parte do espectáculo acessível ao grande público.
Entretanto, há outros "espectáculos" a decorrer, em simultâneo, estes apenas acessíveis a um público muito restrito, previamente seleccionado.
Esta é só uma primeira exibição de um teatro de sombras que vai ter muitas performances,  muitas sequelas, com um guião que, à imagem de Casablanca, vai sendo sujeito a alterações, se vai (re)inventando ao longo do percurso.
Sabe-se quem manobra as sombras que se projectam no ecrã.
Há fortes suspeitas, e intensos sinais, de qual será o final da série.
Sentemo-nos pois, confortavelmente, em lugar priveligiado, para atentamente assistir ao desenrolar da(s) peça(s).

Comentários

  1. Há qualquer coisa nesta "estória" que me faz lembrar o Rectângulo...

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  2. Nalguns aspectos, o tal "diálogo de culturas" existe mesmo.
    Muitos anos de convivência deixam, invitavelmente, sinais....

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