Serão estas as medidas necessárias para combater a especulação imobiliária?
Acompanhei com alguma curiosidade a divulgação das dez medidas que o Executivo pretende pôr em prática para travar a especulação imobiliária.
Não sou um especialista na matéria, longe disso!, mas confesso que, enquanto cidadão atento, fico com a sensação que Lee Chong Cheng foi muito feliz ao afirmar "que se está a coçar onde não se tem comichão".
Posso estar enganado, é bem possível até, mas, ao analisar as medidas agora anunciadas, não consigo afastar a ideia que as mesmas vão surtir um efeito exactamente oposto ao que se pretende.
Exactamente porque o Executivo foi "coçar onde não havia comichão".
Os valores anunciados para os empréstimos bancários (entre os 2.3 e os 3.3 milhões) julgo que vão funcionar, na prática, como referência para o mercado.
Que mercado?
O mercado que era suposto proteger dos efeitos perniciosos da bolha, isto é, a classe média de Macau, os jovens casais que procuram uma primeira habitação.
Esse mercado, que ainda encontra (com alguma dificuldade) habitação a preços inferiores aos 2.3 milhões de patacas, vai agora passar a pagar esse preço por uma habitação até aqui menos onerosa.
E o segmento de mercado logo a seguir, vai passar a pagar valores próximos dos tais 3.3. milhões.
Valores incomportáveis para a maioria dos jovens casais e para a classe média (ainda existe?) de Macau.
Tudo porque a verdadeira especulação, a febre desenfreada, o jogo sem regras, está a jusante.
E não é combatido com estas medidas.
Esse movimento algo demente está presente no que se qualifica, num eufemismo muito próprio de Macau, no chamado "mercado de luxo".
Estou a pensar nas habitações de preço superior aos 5 milhões de patacas, estas sim destinadas aos especuladores, a grande maioria investidores de fora de Macau.
E esse segmento permanece intocado.
Permanecendo intocado, continua desregrado e fica como referente para o resto do mercado.
E a lógica (?) continua a ser a mesma que tem funcionado até aqui - se, no prédio ao lado do meu, os apartamentos custavam 5 milhões, e agora custam 6, no meu prédio, onde custavam 2, têm de logicamente(?) passar a custar 3.
Preços muito inferiores aos praticados em Hong Kong, aliás.
Se me voltam a fazer esta comparação acho que bato em alguém!!
Espero estar enganado.
Porque, se não o estiver, vai ser novamente a classe média, e a fatia mais jovem da população, a ser atingida com estas medidas.
Porque lhe é restringido o recurso ao crédito, por um lado.
Porque não se combatem os verdadeiros especuladores, por outro.
Ou, voltando a Lee Chong Cheng, porque se foi coçar onde não havia comichão.
A especulação tem de ser travada combatendo os especuladores (subida acentuada de impostos nas transacções de habitações de "luxo", restrições na aquisição de habitação por parte de fundos de investimento e de investidores não residentes, por exemplo).
Não é criando mais dificuldades a quem já hoje enfrenta sérios problemas para adquirir uma habitação.
Para viver.
Não para realizar mais-valias no mercado.
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