Portugal é um Estado de Direito
Sabia-se que o País ia ficar (ainda mais) dividido com o julgamento mais mediático de que há memória.
Foi assim sem surpresa que esse desfecho se verificou na prática.
Ao contrário de muitos comentários que ouvi e li, fiquei ainda mais orgulhoso em ser português.
Porque, também ao contrário do que ouvi e li, fiquei com a certeza que em Portugal o Estado de Direito existe, está vivo.
Se está de boa saúde já é coisa bem diferente.
O Juiz deixou claro que não se condena ninguém, por mais esmagadora que seja a opinião desfavorável à pessoa, sem que haja provas muito bem fundamentadas para o fazer e sem que tenha havido um processo em que o acusado tenha tido todas as possibilidades de se defender das acusações contra si dirigidas.
As convicções, pessoais ou públicas, não podem interferir na tarefa de fazer Justiça.
Um processo mal conduzido por quem tem o ónus da prova dos factos que alega não pode resultar na condenação de um arguido seja ele quem for.
Circunstâncias de tempo, modo e lugar; cumprimento de prazos; o mais básico que se ensina a quem formula uma Acusação.
Quando não estão presentes, quando não são tratados com rigor, não podem fundamentar uma condenação.
A protecção do arguido, o princípio in dubio pro reo, a presunção de inocência, felizmente são pilares fundamentais do nosso sistema penal.
Um sistema que poderá ser revisto, nomeadamente em termos de prazos processuais, mas que nunca deve abdicar destas traves mestras.
Assim como do duplo grau de jurisdição, do direito de recurso, porque a diversidade de opiniões também é fundamental.
Se o Mundo estava de olhos postos neste julgamento quero crer que terá ficado a pensar o mesmo que eu - Portugal é um Estado de Direito.
Pedro, na sua opinião, Ivo Rosa não demonstrou ou cedeu à parcialidade? É que me parece que na praça pública tanto o arguido (Sócrates) como o juiz foram condenados e sentenciados antes de serem ouvidos. Metade do país “sabia” que Sócrates era culpado. A outra metade “sabia” que ele seria absolvido.
ResponderEliminarEste processo demorou tantos anos que me recordava apenas que se falava em corrupção (nas suas diversas facetas), que Sócrates tinha sido preso à chegada a Lisboa vindo de Paris (o que não me fez muito sentido na altura... mas que sei eu?!) e mais umas notícias aqui e ali. Esqueci do caso e não me apercebi (nem se falou nas notícias dos canais canadianos, tanto quanto sei) da decisão bombástica de sexta-feira. Estava absolutamente a leste do que se tinha passado. Soube-o através de alguns blogues.
Na praça pública, sim, Catarina.
EliminarSócrates é um biltre, um canalha.
Mas até um canalha tem direito à presunção da inocência.
E tem que ser a Acusação a PROVAR que ele é um canalha.
Independentemente do ruído.
NÃO, o Mundo não estava de olhos postos neste julgamento, pelo menos na Alemanha, os jornais ou a TV não escreveram ou falaram sobre o assunto. Há casos mais relevantes do que este julgamento.
ResponderEliminarO que me interessava era ouvir a opinião de alguém que compreende o que se está a passar na minha Pátria e me explica com a respectiva competência e sem emoções.
Embora eu seja uma leiga, pensei logo que as convicções, pessoais ou públicas, não podem interferir na tarefa de fazer Justiça. É que a protecção do arguido, o princípio „in dubio pro reo“, a presunção de inocência, felizmente são pilares fundamentais do sistema penal.
Não gosto nadinha do Sócrates.
EliminarTudo nele é falso, plástico.
Mas tem direitos.
Como todos.
O Juiz deixou isso bem claro.
Deixando claro também, ao contrário do que o Sócrates afirmou, que tudo aponta para que ele seja culpado.
Mas é preciso PROVAR isso.
E a Acusação terá sido preguiçosa, incompetente.
No mais básico e vulgar.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarTambém afirmei isso e mais, o mal foi terem começado apenas com um "caso" e fazerem juntar mais uns quantos daí a morosidade. Veremos o seguimento mas espero que NÃO descurem os milhares de outros processos que se arrastam na justiça.
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
O que me assusta é a aparente incúria do Ministério Público.
EliminarSe é assim num caso tão mediático o que será nos outros que escapam ao escrutínio público?
Beijos
Que seja feita justiça.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Isso será complicado, Isa Sá.
EliminarCom crimes já prescritos fazer Justiça será complicado.
Não gosto do Sócrates. Nunca gostei dele desde o primeiro minuto, e por causa disso o marido e o filho sempre se irritavam ao ponto de o seu nome deixar de ser dito cá em casa. Tenho esse problema. Há pessoas que me basta um olhar para sentir uma espécie de repulsa. Mesmo assim penso que foi tudo mal feito neste processo, desde o início, desde logo a forma como o prenderam no aeroporto com a presença de jornalistas foi vergonhosa.
ResponderEliminarQue é culpado? Acredito que sim. Que foi ilibado pelo juiz? De forma nenhuma. O que o juiz fez, foi colher os frutos da imensa árvore que tinha na frente e deixar as folhas.
Abraço e saúde
Este juiz é sobejamente conhecido por ser extremamente rigoroso na vertente processual e no regime de prova, Elvira.
EliminarBem como na protecção dos direitos dos arguidos.
Mesmo assim apresentam-lhe uma coisa feita em cima do joelho??
Aguardemos pelo recurso.
Abraço e saúde
Pois eu acho tudo muito sujo e e indigno. Que país é este onde se acusa alguém de crimes prescritos ou a prescrever brevemente (a acusação não era constituída por gente formada em Direito? Eram leigos como eu e nada entendiam de leis?). Por que razão, se eram graves - e eram - não houve celeridade, mas antes se atrasou o processo ad infinitum. Só o atraso já diz muito sobre a justiça portuguesa. Nada me admira que os outros países nem nos reparem, não somos relevantes para o mundo e este julgamento não é exemplo para ninguém. Eu mesma, que aqui vivo , desejo que passe a onda. Por enquanto, a sentença do juiz Ivo Rosa nada garante, não tenho esperança de que se faça justiça (é meu entender que o que prescreve, se foi grave e lesou os portugueses, saindo sem julgamento se torna mais grave ainda, não se altera a qualidade dos actos só porque não foram julgados). Como diz um amigo meu, ainda vamos ver Sócrates processar o Estado Português e teremos de pagar-lhe indmenização. Mas não é isso que fazemos, nós os cidadãos com os impostos em dia? Pagamos bancos, gente corrupta a dar com um pau, e mais tudo o que vier. Na verdade não pensava que vivia num país de tanto biltre. Viva o Estado de Direito e a presunção de inocência para tudo o que prescreveu e para o resto.
ResponderEliminarSobre este assunto só voltarei a pronunciar-me - se me apetecer - depois da sentença final.
A sua indignação é partilhada por todos, bea.
EliminarMas terá que ser dirigida a um péssimo trabalho do Ministério Público.
Para mais num caso com tanto mediatismo.
A menos que, em sede de recurso, se venha a verificar que foi o Juiz a errar.
Já fiz muitas acusações na vida profissional.
Não em processo penal, mas em processos disciplinares, tributários do processo penal.
E há coisas que são por demais básicas para admitirem erro. Prescrição de prazos então é de bradar aos céus.
Depois de ler todos os comentários, abstenho-me de pôr mais na carta. Mas aguardo, com ansiedade, o próximo passo da nossa titubeante Justiça.
ResponderEliminarEste julgamento até pode ser o gatilho para repensar muita coisa, Tintinaine.
EliminarTenhamos esperança.
Não gosto de Sócrates nem de Carlos Alexandre nem de Rosário Teixeira: merecem-se!
ResponderEliminarO processo começa inquinado logo de ínicio : como é possível mentir descaradamente sobre o processo de distribuição para que seja determinado juiz a ficar com um caso? Só esta fraude não faz cair tudo e começar tudo de novo?
O antigo governante é corrupto e um escroque , toda a gente o sabe e Ivo Rosa disse-o . Porém, o Ministério Público (MP) esteve pessimamente desde a prisão `chegada ao aeroporto para onde chamou as televisões até à sistemática violação do segredo de Justiça (incluindo as inimagináveis entregas de gravações de interrogatórios) passando por tantas outras coisas mais.
Não é a primeira vez que a incompetência do MP é demonstrada .Estão aí os submarinos, a Tecnoforma, os Vistos Gold e mais uns quantos casos.
Se me permite, Pedro, sugiro-lhe a leitura do artigo de Garcia Pereira, que publiquei no meu mural de Facebook.
Preocupante agora é o aproveitamento da extrema-direita do caso.
Já li o texto do Garcia Pereira, São.
EliminarUm excelente causídico como todos sabemos.
O Ministério Público tem-se comportado muito com base no que vê nas séries televisivas americanas.
Nada boas conselheiras.
Este pântano, estas confusões, são terreno fértil para o populismo e os populistas.
Nada de novo nem que surpreenda.
Acredito na lei. Penso que o Juíz Ivo Rosa decretou, está decretado (ou não). A verdade é que sendo a Lei una, porque razão, uns juizes condenam e outros absolvem? Não são todos juízes que se (devem) regem pela letra da Lei? Então a lei obedece à interpretação de um Juíz? É tudo tão discutível. A verdade, a minha verdade, é que Sócrates vive e vai viver à grande e à francesa com 36 milhões de euros que - apenas por simpatia - recebeu ( segundo o Juiz Ivo Rosa ). O resto são normas de discutível interpretação e de... convencer os pobres. Se fosse eu, um pobre que não tem onde cair morto, tinha o mesmo julgamento? Se a lei é apenas uma, teria não é verdade? Pois não acredito - e acredito na Lei - que tivesse.
ResponderEliminar.
Abraço poético.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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A Lei é susceptível de interpretação.
EliminarNão é Matemática, é Direito.
E, como dizia um Mestre em Coimbra, por alguma razão não há Prémio Nobel do Direito.
O Juiz não disse que o arguido era inocente.
Pelo contrário.
Disse que o processo foi muito mal conduzido.
Não apreciou a parte substancial, material, ficou pela vertente processual.
E há ainda recurso(s) até ao trânsito em julgado.
Aguardemos.
Abraço
Que Deus me julgue se estou a ser injusto mas... José Sócrates provou que existe o crime perfeito.
ResponderEliminarVou citar o Álvaro Cunhal - “olhe que não, olhe que não”...
EliminarVamos concluindo - e agora confirmando - que a Justiça está doente.
ResponderEliminarEste processo começou mal e continuou pior. O que podíamos esperar de tudo isto?
Independentemente do que acharmos da pessoa Sócrates, assim não!
Um abraço
Exactamente, António.
EliminarO nosso sistema protege o arguido.
Seja ele quem for.
E só se condena com base em PROVAS e num processo limpo, sem mácula.
Abraço
Nunca gostei do Sócrates.
ResponderEliminarQuanto à actuação de Ivo Rosa, acredito nas suas palavras, porque de advocacia nada sei.
Relembro aqui uma piada do Ricardo Araújo Pereira no seu programa de domingo à noite.
- Mãezinha, quando for grande quero ser corrupto.
-Nem pensar meu filho, isso prescreve :)
Beijos Pedro
Se realmente os crimes prescreveram (aguardemos os recursos) têm que rolar cabeças no Ministério Público, Manu.
EliminarDeixar prescrever crimes??
Andaram a fazer o quê?
Beijos
A perceção de justiça, tem sido muito questionada, Pedro,
ResponderEliminarnunca é uma ciência exata, como gostaríamos que fosse pelo que me parece...
Também andam por aí a dizer que o dinheiro obtido de forma ilícita, não deve ser declarado no IRS, há ainda outros a dizer que deve, mas a primeira opinião parece que teve a maioria das interpretações ?!
Assim nunca há consenso ! O sol brilha :)
No Direito é raro haver consenso, Angela.
EliminarNão é uma ciência exacta.
Vive e evolui com a interpretação das leis e a evolução das sociedades.
Muitas vezes estes sobressaltos dão origem a questões que antes não se colocavam.
Prazos de prescrição de alguns crimes.
Vai ser assunto a partir de agora.
Bom dia Pedro, espero que de tudo certo e sem erros.
ResponderEliminarSem erros é que já parece difícil, Luiz Gomes
EliminarUma vergonha! Fosse eu a não pagar os impostos até o carro me levavam. Isso nunca prescrevia...Mas são eles. Que se faça justiça, mas verdadeiramente justiça. Porque se não mais vale soltar todos os presos das cadeias!
ResponderEliminar>
*
Beijos, e um excelente dia!
Vamos ver o que resulta do recurso.
EliminarAinda não acabou.
Beijos
Bem... continuo pasmada com tanta incompetência do Ministério Público.
ResponderEliminarComo a procissão ainda vai no adro, vou esperar sentada pelo que se segue.
Mas que custa, custa, ver o pavão arrogante pavonear-se na televisão.
Há muito a fazer para credibilização da justiça. Haja coragem.
Beijo.
Foi só mais uma vez ridículo, teresa.
EliminarInocente?
O Juiz basicamente disse que ele era um vigarista do piorio mas não tinha era maneira do o condenar.
Beijo
Uma opinião bastante sensata!
ResponderEliminarÉ isso que temos que tentar ser.
EliminarPor muito que custe.
Vamos ficar sentados para não cansar tanto á espera do resultado final do recurso.
ResponderEliminarContinuação de boa semana
Não vai ser rápido, Amélia.
EliminarEu tenho um amigo português
ResponderEliminarque vive falando mal da terrinha
enquanto Marcelo, um amigo
carioca que fixou residência em
Coimbra, há um ano e meio, só fala
maravilhas de lá. Tudo para ele é
maravilhoso, tipo, educação, saúde
e segurança. Afinal a terra é boa, é
razoável ou dá para viver?
Não li a decisão instrutória e não sei ainda se a quero ler. Para já, pareceu-me que estando em causa a instrução e não o julgamento, e existindo questões que possam ser controvertidas, como a prescrição e a valoração da prova, teria sido talvez melhor que a instrução durasse menos tempo e essas questões fossem tratadas no julgamento - mas não sei se será assim, porque não li a decisão.
ResponderEliminarQue ainda estejamos por cá todos, no final do julgamento. Entretanto continuam todos estes elementos a viver à grande e à francesa.
ResponderEliminarSempre quero ver se o Pedro Coimbra vai fazer um postal quando o Tribunal da Relação voltar a arrasar o Ivo Rosa...
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