Agradeço o convite mas declino (Visão, Quinta, 19 Mar, Ricardo Araújo Pereira)


De acordo com a Constituição, "são elegíveis para a Presidência da República os cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35 anos". 
No entanto, de acordo com Cavaco Silva, o próximo Presidente deve ser uma pessoa com experiência em política externa. 
Esta revisão constitucional feita informalmente por Cavaco reduz bastante o leque de possíveis candidatos, e acaba por cingir a corrida a apenas três nomes: Durão Barroso, António Guterres e eu. 
O currículo dos candidatos impressiona: Barroso foi presidente da comissão europeia entre 2004 e 2014; Guterres é, desde 2005, alto comissário das Nações Unidas para os refugiados; e eu negociei, em Badajoz, na primavera de 2009, o preço de um saco de caramelos que, embora tivesse uma etiqueta indicando o preço de 90 cêntimos, assinalava na caixa o valor de um euro e meio. As negociações foram duras, mas eu soube defender os interesses de Portugal no quadro das regras definidas pelo direito internacional: mantendo presente que a carta das Nações Unidas proíbe a agressão armada excepto em caso de legítima defesa, usei de meios pacíficos para obter o acordo que melhor servisse o nosso país, e orgulho-me de poder hoje dizer que acabei por trazer o saco por apenas um euro e 20. 
Quem conhece a fundo o trabalho de Barroso e Guterres, só por má vontade deixará de reconhecer que nenhum deles trouxe para o nosso país, no âmbito da actividade internacional que desenvolveram, lucros que possam sequer aproximar-se do valor de um saco de caramelos.
Pelo que acabei de referir, concordo com a perspectiva de Cavaco Silva acerca do seu sucessor, mas creio que o Presidente podia ter ido mais longe. 
Além de definir o perfil do próximo Presidente, Cavaco devia ter aproveitado para definir o perfil dos cidadãos que vão elegê-lo. Não serve de nada apontar um caminho e depois deixar nas mãos de gente sem sensibilidade política uma escolha tão importante. Creio que os eleitores do próximo Presidente da República também deviam ser pessoas com alguma experiência em política externa. 
Pessoas sem experiência em política externa tendem a não compreender todo o alcance do trabalho realizado pelos especialistas em política externa, e por isso deviam ser impedidas de votar. 
Uma vez que não quero alimentar tabus, e apesar do que ficou exposto acima, devo dizer que, apesar da indigitação discreta de Cavaco Silva, não serei candidato às próximas eleições presidenciais. 
Tal como Cavaco, eu também desdenho do valor do salário auferido pelo Presidente da República, e não tenho ainda reformas que me permitam ocupar o cargo com a dignidade que tanto eu como Portugal merecemos. 
E além disso já tenho coisas combinadas para 2016.

Comentários

  1. Espectacular, como sempre, aliás, RAP.

    Pedro, eu também já tenho afazeres para 2016, de forma que vou ter declinar o convite do Sr. Bolo-Rei.

    Aquele abraço

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    1. Presumo que não seja possível exercer o cargo de Presidente da República a partir de Macau....pois, lá terei que declinar o convite também, Ricardo :))
      Aquele abraço

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  2. Coisas do talentosíssimo Ricardo "MEO".

    Abraço.

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  3. Barbosamigo

    O RAP é um génio e os génios têm sempre muito que geniar (adoro inventar palavras) no ano seguinte. Por isso concordo.

    Mas, pelo andar da carruagem além de ter coisas mais ou menos combinadas para o ano que vem, nem sequer poderei ser eleitor...

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    1. Como é que é essa de me charmes Barbosamigo???
      E essa de nem poderes ser eleitor??
      Vais dar mais um passeio?
      Só pode ser isso.
      Toma lá um abraço

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  4. Vai-nos valendo o humor do RAP ( e outros bons humoristas da nossa praça) para suportar o calvário em que um grupo de loucos transformou este país.

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    1. O melhor é ir levando as coisas a rir, Carlos.
      De outra maneira dá tudo em doido.

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  5. Nesta ordem de ideias, talvez o Pedro se queira candidatar, sei lá! Eu votaria em si....

    Beijinhos...

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    1. Agradeço o apoio mas também já tenho uns planos para os próximos anos.
      E não passam pela Presidência da República.
      Embora, convenhamos, não seja muito complicado fazer melhor figura que o actual inquilino de Belém :)))
      Beijinhos

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  6. O RAP é um génio e depois há as imitações.
    E há aquele que gostaria de ser presidente e se põe a divagar sobre perfis, crescimento económico...

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    1. Valha-nos que vai havendo quem sabe brincar mesmo com os temas mais sérios, Agosstinho.

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