O exemplo Bo Xilai

Começa hoje o julgamento de Bo Xilai.

Público, mediático, a centrar atenções.

Porque só assim se consegue atingir o objectivo maior deste julgamento - transformar o casal Bo Xilai/Gu Kailai, sobretudo Bo Xilai, no exemplo vivo da mensagem que a nova liderança chinesa quer transmitir ao país.

Uma mensagem que se pretende clara e inequívoca - não há intocáveis no combate à corrupção e ao abuso de poder.

Bo Xilai, filho de Bo Yibo, figura proeminente no Partido Comunista Chinês, o típico pinceling, em meteórica ascensão no interior do Partido e na liderança política chinesa, ele próprio um símbolo da luta contra o crime organizado em Liaoning, torna-se rapidamente no anjo descido aos infernos.

Vítima da sua desmedida ambição, Bo Xilai e a sua mulher, Gu Kailai, servem perfeitamente de exemplo público e notório para os intentos da liderança de Xi Jinping.

O vício, a ambição sem limites, a corrupção, o abuso de poder, não serão tolerados na China liderada por Xi Jinping.

Para os mais atentos observadores, nada é assim tão simples e tão transparente.

Lutas de poder entre várias facções dentro do Partido Comunista Chinês explicarão, em muito, a ascensão e queda de Bo Xilai.

Mas essa vertente é deixada aos especialistas, aos cultores da ciência política.

Para a massa anónima que é o povo, a mensagem que passa, e que se quer que passe, é apenas a do combate tenaz à corrupção e ao abuso de poder.

Começou hoje o julgamento que é, antes de tudo, repito, um exemplo.

Apesar de só ter tido início hoje, arrisco adivinhar-lhe o final - uma pena semelhante à que foi aplicada a Gu Kailai.

Essas figuras terríveis, tétricas, que são a  pena de morte ou prisão perpétua....suspensas. 

Juízos e penas implacáveis, sem o serem, mas podendo sempre vir a sê-lo a qualquer momento.

A versão chinesa da lenda de Dâmocles.

À qual não falta a indispensável espada.

Suspensa, como não podia deixar de ser.