Ruptura na leiloeira (A Revolta das Palavras)
A sensação de
que não é só ter-se escolhido um errado ministro das Finanças, que sai admitindo
ter falhado nos objectivos e nas contas, e a de que não é apenas ter-se
escolhido uma sucessora que é um pára-raios apta a atrair faíscas incendiárias
sobre o Governo.
A sensação de
que não é já tão somente os partidos da área do poder político terem esgotado a
capacidade de oferecerem alternativas com credibilidade interna, é o presente e
o futuro de Portugal terem perdido qualquer credibilidade no exterior.
A sensação de
que assim fosse apenas termos um inactivo Chefe de Estado a mercê de lhe
chamarem «palhaço» e a Justiça a achar que isso é uma liberdade pública que faz
parte do seu estatuto ter de aceitar porque a tanto se prestou, estarmos ante
uma classe de ministros que nem à rua podem vir sem segurança férrea sob pena de
serem agredidos pela ira pública, tudo aquém do respeito, aquém da dignidade
pública, aquém de o Estado se fazer já respeitar.
A sensação,
ainda mal pressentida, é a de que os sacrifícios impostos à esmagadora maioria
foram em vão, porque a crise política vai gerar agravamento da crise financeira,
vai minar a confiança económica, vai abater definitivamente a esperança na
democracia, vai tornar-nos ainda mais pobres.
A sensação,
enfim, e que ninguém fala, é a de que na grande hasta pública em que isto se
tornou, Portugal é governado pelos administradores da massa insolvente
designados pela comissão de credores estrangeiros, o pessoal políticos meros
encarregados da venda e agora aconteceu a ruptura na leiloeira. E que, com isso
a base de licitação do País descerá para níveis ainda mais apetecíveis à
agiotagem que já nos tinha na mão a preço de saldo.
O capital adora insolvências. Na vida
empresarial há quem viva a comprá-las. Na vida política internacional
aprendeu-se também que é bom negócio.
Ai, porém, de
quem trabalha! Esses correm o risco de saírem de mãos a abanar. Na vida
judiciária e na vida política é assim.
O poder não
brinca às crises, enche-se com elas. A sensação de que estamos à venda ao
desbarato para que se cobrem as últimas comissões de agência.
in A Revolta das Palavras, 2 de Julho de 2013
Concordo com alguns pontos da crónica, Pedro, no entanto, permita-me que teça um ou outro comentário.
ResponderEliminarEm primeiro lugar, o facto de termos um "imóvel" como PR presta-se, claro está, a que o chamem de palhaço. Com efeito, a sua inabilidade política que leva à inactividade é razão, mais que suficiente, para que o chamemos de "palhaço" embora eu ache que isso é ofensivo, sobretudo, para os...palhaços!
Por outro lado, em Portugal há a ideia, quanto a mim errada, que foi o TC que provocou toda esta crise politica com a "ordem de pagamento" dos Subsídios. Porra, Pedro, se os tipos já tinham avisado que a medida devia ser temporária, que era irrepetível porque razão a luminária do Gaspar a repete? Se querem outra Constituição apresentem um "Projecto de Revisão da CRP", pá? Agora, não exijam aos Juízes do TC que decidam contra a actual CRP, isso é que não.
Faltam-nos Estadistas, aliás, poucos foram aqueles que tivemos ao longo de 900 anos de História, Pedro, a verdade é essa (nua e crua)!
Aquele abraço, amigo!
Ricardo,
EliminarQuando se pede à Justiça que faça política eu tremo da cabeça aos pés.
E não é isso que se anda a pedir?
Subscrevo o seu comentário na íntegra!!
Aquele abraço!
Concordo com a sua crónica e com o comentário de Ricardo Meneses.
ResponderEliminarClaro que é uma falta de respeito chamar palhaço ao PR ou cuspir em cima do ministro das Finanças. Não me parece ser essa a questão, mas sim eles fazerem-se respeitar enquanto no exercício das suas funções. O que notoriamente não aconteceu... Estavam à espera de aplausos?
Beijocas!
Teté,
EliminarIndependentemente de quem ocupe esses cargos, e da palhaçada que faça, há um mínimo de respeito que é exigível.
E não estou a pensar só em termos legais.
O Ricardo Meneses já disse tudo no seu excelente comentário, que subscrevo
ResponderEliminarCarlos,
EliminarO Ricardo acertou na mouche.
Acrescentar o quê?