Recordando Dom Oscar Romero, Mártir
No passado domingo, dia 24 de Março, foi lembrada a vida, morte e ressurreição de Oscar
Romero, arcebispo de El Salvador.
Na véspera de seu martírio, pronunciou as
seguintes palavras, dirigindo-se diretamente à ditadura militar:
"Frente à ordem
de matar seus irmãos deve prevalecer a Lei de Deus, que afirma: 'NÃO MATARÁS!'
Ninguém deve obedecer a uma lei imoral (...). Em favor deste povo sofrido, cujos
gritos sobem ao céu de maneira sempre mais numerosa, suplico-lhes, peço-lhes,
ordeno-lhes em nome de Deus: cesse a repressão!".
No dia seguinte, 24 de Março
de 1980, enquanto celebrava a Eucaristia na capela do Hospital da Divina
Providência, Dom Oscar foi assassinado por um atirador de elite do exército
salvadorenho.
O mandante do crime, major Roberto D'Aubuisson, reconhecido como
responsável, nunca foi processado.
Óscar Arnulfo
Romero Galdámez, conhecido como Monsenhor Romero, nasceu em Ciudad Barrios em 15
de Agosto de 1917 numa família de origem humilde.
Ele foi ordenado padre em 4 de Abril de 1942.
Nomeado bispo auxiliar de San Salvador em 1970, tornou-se bispo
de Santiago de Maria em 1974.
Em 1977 foi nomeado Arcebispo de San Salvador.
Escolhido como arcebispo por seu aparente conservadorismo, uma vez nomeado
aderiu aos ideais da não-violência, posição que o levou a ser comparado ao
Mahatma Gandhi e a Martin Luther King.
Por isso, Oscar Romero passou a
denunciar, em suas homilias dominicais, as numerosas violações de direitos
humanos em El Salvador e manifestou publicamente sua solidariedade com as
vítimas da violência política, no contexto da Guerra Civil de El Salvador.
Dentro da Igreja Católica, defendia a "opção preferencial pelos pobres".
"A missão da
Igreja é identificar-se com os pobres. Assim a Igreja encontra sua
salvação."
(Dom Oscar
Romero)
Dom
Oscar passou por um verdadeiro e sofrido processo de conversão ao longo de sua
vida como arcebispo, exactamente a partir do momento em que começou a "ver a
opressão do povo salvadorenho e ouviu-o clamar sob os golpes dos chefes da
ditadura militar. Ao conhecer seus sofrimentos, desceu do trono arquiepiscopal
para libertar o povo de seus opressores, levando-o para uma vida de esperança,
onde há-de manar justiça e paz!" (cf. Êxodo 3, 7.8).
Na
medida em que aprendia a caminhar junto ao povo "se tornou um anunciador da fé e
da verdade, um resoluto defensor da justiça e, enfim, um amigo, um irmão, o
defensor dos pobres e oprimidos, dos camponeses, dos operários, dos que vivem
nos bairros marginalizados", como testemunhava um grupo de bispos
latino-americanos, no dia 29 de Março de 1980, às vésperas dos funerais de dom
Romero.
Dom Oscar Romero
não estava sozinho no sonho de uma Igreja dos pobres.
1. Ele se
encontrava dentro da tradição bíblico-cristã a favor dos pobres:
· "Ele julgará os indefesos com
justiça, Se pronunciará com equidade pelos pobres da terra" (Isaías 11, 4);
· "Ele deu com largueza aos pobres: Sua justiça subsiste sempre, Sua fronte se levanta com altivez" (Salmo 112,
9);
· "Quem despreza o próximo, peca; mas
quem tem pena da gente humilde é feliz" (Provérbios 14, 21);
· "A Boa Nova é anunciada aos pobres"
(Mateus, 11, 5 e Lucas 4, 18; 7, 22);
· "Eles [Tiago, Pedro e João] pediram
apenas que nos lembrássemos dos pobres, e isso eu tenho procurado fazer com
muito cuidado." (Gálatas 2, 10).
2. Ele se
encontrava dentro da tradição histórica do
cristianismo a favor dos pobres:
· Jesus, muito distante dos palácios,
do luxo e da ostentação,
viveu a pobreza.
· Francisco de Assis e Clara, no
século XIII, seguiram seu mestre
nestes preceitos.
· Vicente de Paulo, no século XVII,
ficou conhecido por viver
pobre e organizar a assistência aos pobres, a
fim de que chegassem a ter vida mais digna. Ele dizia que "o amor é inventivo
até o infinito!", ou seja, sempre haveremos de construir novas formas de viver a
pobreza e, ao mesmo tempo, buscar meios adequados de cuidar dos pobres.
· Nos dias do próprio Romero
encontramos Tereza de Calcutá, e,
mais perto de nós, Dom Helder Câmara, Irmã
Dulce e tantos outros que sabiam e sabem viver a grande lição do Evangelho na
humildade, simplicidade, no serviço e no cuidado.
Todos, cada
um(a) à sua maneira, têm testemunhado a pobreza evangélica como base da vida dos
seguidores de Jesus, rumo a um mundo novo, o Reino de Deus, que podemos viver já
aqui entre nós, aquele reino que já é, e, no mesmo momento, ainda não é.
3. Ele se
encontrava dentro da tradição recente da Igreja a favor dos pobres:
· Papa João XXIII, em 11-09-1962,
poucos dias antes do início do Concílio Vaticano II: "Pensando nos países
subdesenvolvidos, a Igreja se apresenta e quer realmente ser a Igreja de todos,
em particular, a igreja dos pobres";
· Um grupo de bispos, poucos dias
antes do término do Concílio Vaticano II (16-11-1965), firmou o "Pacto das
Catacumbas de uma Igreja serva e pobre", dizendo: "Procuraremos viver segundo o
modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação,
aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue. Também renunciamos à aparência
e à realidade da riqueza, especialmente no traje (fazendas ricas e cores
berrantes), como nas insígnias de matéria preciosa, que devem ser evangélicos."
Optaram eles, desta forma, por uma vida pobre, deixando seus palácios e indo
morar em casas simples, tirando anéis e outros ornamentos, a fim de aproximar-se
mais do jeito simples de ser de Jesus. Dom Helder Câmara e Dom Fragoso estavam
entre os bispos que assinaram e viveram este pacto.
· Conferência Episcopal
Latino-Americana em Medellín (1968):
"A Igreja da América Latina, dadas às condições
de pobreza e subdesenvolvimento do continente, sente a urgência de traduzir o
espírito de pobreza em gestos, atitudes e normas, quer a tornam um sinal lúcido
e autêntico do Senhor. A pobreza de tantos irmãos clama por justiça,
solidariedade, testemunho, compromisso, esforço e superação para o cumprimento
pleno da missão salvífica confiada por Cristo". (documento de Medellín, p.
146).
· Dom Oscar participou da Conferência
Geral dos Bispos
Latino-americanos em Puebla (1979), e
identificou-se plenamente com o apelo dos bispos à "conversão de toda a Igreja
para uma opção preferencial pelos pobres, no intuito de sua integral libertação"
(documento de Puebla, n.º 1134).
O seu compromisso com a causa do povo sofrido de
San Salvador, a sua opção evangélica e profética pelos pobres, a sua coragem de
denunciar as injustiças, a sua força de anunciar a libertação através do
Evangelho de Cristo, e a sua humildade de testemunhar a pobreza por vivê-la em
sua própria vida, fizeram com que Oscar Romero se tornasse servidor do povo, até
na consequência do martírio.
"Uma religião com uma missa aos domingos, mas
com semanas injustas, não agrada ao Senhor.
Uma
religião com muitas orações, mas com hipocrisia no coração, não é cristã.
Uma Igreja que se organiza apenas para ser
próspera, para ter muito dinheiro e conforto, mas que se esquece de se insurgir
contra as injustiças, não é a verdadeira Igreja do nosso divino Redentor."
(Dom Oscar
Romero)
Estimado Amigo Pedro Coimbra,
ResponderEliminarUma óptima informação, mas infelizmente a igreja católica é um poderio de riqueza e de ostentação.
Infelizmente poucos são os sacerdotes que se regem pelas leis de Deus nesse sentido, e temos o Cardeal português que nos dá bem esse exemplo de pobreza, vivendo no luxo.
Abraço amigo
ResponderEliminarAmigo Cambeta,
O Papa Francisco parece querer afastar-se resolutamente dessa prática e dessa imagem.
Esperemos que assim seja.
Aquele abraço!!
Desconhecia por completo e gostei de ler! E faço os mesmos votos que tu: oxalá que o Papa Francisco consigo continuar a ser o que sempre foi!
ResponderEliminarBeijocas
EliminarUm exemplo a seguir, Fatyly.
E que faz todo o sentido relembrar nesta quadra.
Beijocas!
Não conhecia e gostei, Pedro!
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ResponderEliminarUm exemplo de vida, Ricardo
Para recordar nesta época em especial
Sempre achei um contra-senso a igreja pregar caridade e exibir opulência...
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EliminarConvenhamos que não faz muito sentido, pois não, Lou Salome?
O Papa Francisco parece querer caminhar no sentido oposto.
"No passado domingo, dia 24 de Março, foi lembrada a vida, morte e ressurreição de Oscar Romero, arcebispo de El Salvador."
ResponderEliminarRessurreição?? Ele ressuscitou???
EliminarNo coração das pessoas, Firehead, não se faça de desentendido.
E, curiosamente, de toda a mensagem, da vivência e do exemplo, você vai buscar esse pormenor do texto.
Você sabe qual a minha postura, que tem embasamento bíblico e o respaldo da Tradição. Tudo o que passa para além daí é uma catolicidade estranha à própria catolicidade.
EliminarHá que ir além da pura lietralidade, Firehead.
EliminarObviamente que Dom Oscar Romero nao ressuscitou no sentido bíblico do termo.
Literalidade, obviamente :)
EliminarSão estas pessoas, as que defendem os seus ideais e vivem as suas convicções com risco de vida,que nos reconciliam com a Humanidade.
ResponderEliminarNão gostei de João Paulo II por muitos motivos e dois prendem-se com Monsenhor Romero: ignorou-lhe completamente os rogos
e alertas sobre a situação em El Salvador e, depois, santificou um "nazi encoberto " e inestimável colaborado do ditador Franco como Josemaria Escrivá , mas não ele.
Páscoa feliz.
EliminarEu gostei muito de João Paulo II, São.
Como ser humano que era, teve falhas.
Mas o seu pontificado teve momentos de grande ecumenismo, de procura do outro, de diálogo inter - religioso, que foram muito importantes.
Uma Páscoa Feliz!
Reconheço isso, é um facto!
EliminarMas não me consegue fazer esquecer o resto.
Não fica aborrecido comigo, pois não?
É que, além do mais, sou crente.
Abraço.
São,
EliminarAborrecido?
Porquê?
No dia em que eu amuar porque há pessoas que têm a amabilidade de aqui vir exprimir a sua opinião, pego na trouxa e fecho a loja.
Essa troca de opiniões é que enriquece estes espaços, é que faz da blogosfera o espaço de maior liberdade criativa e opinativa actualmente.
Beijinhos!
essa devia ser a postura normal da Igreja, face às ditaduras. Infelizmente, existem apenas excepções que confirmam a regra
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EliminarDom Oscar Romero é, sem dúvida, uma dessas excepções, Carlos.
Coimbramigo
ResponderEliminarSabes bem que sempre digo que fui católico mas... curei-me, o que não me impede de apreciar devidamente estes textos e esta figura. Cada um é como cada qual e eu respeito tudo o que seja por bem e por bem vier.
Por isso, os meus parabéns - pela lembrança e pelo registo. Obrigado
抱你的朋友一個大大的擁
H
EliminarFerreirAmigo,
Independentemente das crenças religiosas, figuras com esta dimensão devem ser apreciadas pelo que reapresentam enquanto seres humanos de excepção.
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